"Não tinha qualquer conhecimento de uma situação que fosse urgente corrigir" - TVI

"Não tinha qualquer conhecimento de uma situação que fosse urgente corrigir"

  • SS - atualizada às 18:23
  • 7 jul 2017, 16:49

O ministro da Defesa sustentou esta sexta-feira existirem "quatro equívocos principais" que contaminaram o debate sobre o furto de Tancos, frisando em primeiro lugar que a segurança dos paióis é uma questão de gestão operacional

O ministro da Defesa sustentou esta sexta-feira existirem "quatro equívocos principais" que contaminaram o debate sobre o furto de Tancos, frisando em primeiro lugar que a segurança dos paióis é uma questão de gestão operacional.

É tipicamente uma questão que cabe aos ramos. Dificilmente se encontra um domínio com uma natureza mais operacional", afirmou José Azeredo Lopes, numa intervenção perante a comissão de Defesa Nacional, onde está a ser ouvido sobre o furto de material de guerra em Tancos.

Em segundo lugar, Azeredo Lopes disse não ter recebido qualquer pedido, chamada de atenção ou relatório que "identificasse uma situação grave de insegurança".

Não tinha qualquer conhecimento de uma situação que fosse urgente corrigir, direta ou indiretamente, à segurança daqueles paióis", frisou.

O "terceiro equívoco", prosseguiu, foi ter sido "acusado" de desvalorizar o caso. Azeredo Lopes recusou qualquer desvalorização, sublinhando que nas suas intervenções públicas "foram no sentido de, sem meias palavras, o qualificar como grave".

"Mesmo quando invoquei outros casos, deixei claro que não visava por qualquer forma diminuir a gravidade deste triste evento de 28 de junho", acrescentou.

O ministro da Defesa Nacional disse ter sido informado do furto no dia 28 de junho, quando estava a aterrar em Bruxelas, pelo chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, que o pôs ao corrente da "gravidade" do roubo.

"O quarto equívoco é o alegado grave impacto internacional na imagem de Portugal", apontou, revelando que teve uma "longa conversa telefónica" com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre o assunto.

Segundo Azeredo Lopes, o secretário-geral da Organização "nunca sobrevalorizou os factos de Tancos e insistiu no crédito e na fiabilidade de Portugal como membro da NATO e velho aliado".

Azeredo Lopes referiu-se depois ao que considerou ser a "responsabilidade política" do ministro da Defesa, afirmando que adotou as "medidas necessárias" para apoiar o cabal esclarecimento dos factos.

A responsabilidade política passou por afastar-me dos holofotes e discursos inflamados onde se procurou criar uma agitação artificial nas Forças Armadas", disse, rejeitando "alinhar na criação de um ambiente de desassossego, numa tentativa de aproveitamento, politização ou instrumentalização da instituição militar".

"Isso sim seria grave. Nisso não vou participar", disse.

Ministro rejeita que furto resulte de desinvestimento

Azeredo Lopes rejeitou ainda que as falhas na proteção de material militar possam ser justificadas com desinvestimento ou falta de efetivos e reiterou que não foi informado de qualquer problema de insegurança.

Para o governante, trata-se de uma "questão de soberania" e seria "insultar as Forças Armadas" relacionar falhas e deficiências na proteção de material militar com qualquer "desinvestimento" ou falta de efetivos.

O ministro da Defesa rejeitou que o furto "resulte de constrangimentos severos", considerando que essa interpretação levaria a "um problema significativo de soberania". Azeredo Lopes respondia ao deputado do PSD Bruno Vitorino.

Tenho confiança na instituição militar para corrigir as deficiências que se verificaram neste caso em Tancos", disse.

Já em resposta ao deputado do PS Miguel Medeiros, disse que "não foi informado direta ou indiretamente" de "qualquer situação que permitisse antever o que veio a acontecer em 28 de junho".

"Mesmo os relatórios do CISMIL (serviços de informações militares) são reincidentes em considerar num nível baixo a possibilidade de ocorrência" de um incidente daquela natureza.

O governante referiu ainda a existência de uma auditoria da Inspeção-Geral do Exército, de 2015, na qual "não há direta ou indiretamente qualquer informação".

Questionado pelo deputado do CDS-PP João Rebelo, o ministro defendeu que o general Rovisco Duarte, chefe do Estado-Maior do Exército, "atuou como devia atuar".

Entra em funções em abril (de 2016) e deteta um problema que resulta da anterior atividade inspetiva, define qual é o grau de urgência e qual é o problema que estamos a enfrentar e em setembro de 2016 define um plano que considera razoável, suponho à luz das deficiências definidas e dos meios", disse.

Questionado sobre se conhecia a diretiva, o ministro respondeu afirmativamente e acrescentou que incentivou o general a "ir em frente".

O ministro confrontou ainda os deputados com o facto de ter recebido 503 perguntas e requerimentos no âmbito da fiscalização política do parlamento ao governo e nenhum referia preocupações com as instalações militares de Tancos.

Azeredo Lopes mantém confiança em Rovisco Duarte

Azeredo Lopes manifestou confiança no chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, afirmando que em nenhuma circunstância deve ser demitido, exortando os deputados a ficarem "contentes" com a atual chefia.

Não deve em nenhuma circunstância ser demitido o CEME [Chefe do Estado-Maior do Exército]. Alguém com esta capacidade, pelo contrário, deviam estar muito contentes com esta chefia, com a forma como está a enfrentar os problemas e como desta forma está a ajudar Portugal", disse.

O ministro respondia ao deputado do BE João Vasconcelos na comissão parlamentar de Defesa Nacional, onde está a prestar esclarecimentos sobre o furto de material militar da base de Tancos, Vila Nova da Barquinha, Santarém.

João Vasconcelos questionou Azeredo Lopes sobre se mantém a confiança no CEME após o furto de Tancos.

Antes, Azeredo Lopes frisou que foi falando com o CEME "sobre o evoluir dos acontecimentos" e que o general Rovisco Duarte lhe entregou o primeiro relatório preliminar ainda na sexta-feira passada.

Desde que iniciou funções, disse, o "CEME teve de enfrentar situações muito difíceis e enfrentou-as sempre de forma exemplar e com honra".

Questionado pelo deputado do PSD Costa Neves sobre a decisão do CEME de exonerar os comandantes das cinco unidades que tinham a responsabilidade de indicar efetivos para a segurança rotativa dos Paióis, Azeredo Lopes disse que "registou" as exonerações.

Ainda por cima com a intenção de lhes dar uma natureza cautelar, é uma decisão equilibrada e uma decisão de um chefe", acrescentou.

O general Rovisco Duarte foi duramente criticado pelo deputado do CDS-PP João Rebelo: "Ontem [quinta-feira], o CEME não prestou um bom serviço e esteve a desculpar-se com o sargento que não fez as rondas e com os comandantes das unidades", criticou João Rebelo, referindo-se aos esclarecimentos prestados pelo general na comissão parlamentar de Defesa.

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