«Os contactos políticos no meu grupo – e não tenho problema nenhum em revelar - os contactos que eu tive com o engenheiro José Sócrates [e que resultaram num investimento de] 600 milhões de euros numa fábrica nova de papel em Setúbal. Podia não ter feito. Podia ter feito [os contactos] na Alemanha. Sócrates é hoje muito falado, mas por mim não. Só mostrou interesses no país. Pode haver outras coisas, mas isso não sei».
Uma revelação que se seguiu à pergunta do deputado do PCP, Miguel Tiago, que era sobre outra pessoa, José Honório, que foi braço-direito de Pedro Queiroz Pereira na Portucel e saiu para assessorar Ricardo Salgado no BES. O deputado comunista interpelou o empresário num tom provocatório, ao dizer que «ter um facilitador político como quadro deve ser uma coisa boa», para «estabelecer contactos» com Durão Barroso, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque.
A isso, o presidente da Semapa respondeu que José Honório «é um excelente profissional da gestão» e que, «fruto do trabalho que fez na Portucel, é uma pessoa extremamente respeitada». «Trabalha comigo há 35 anos, não é um facilitador político, nunca foi». Admitiu ter tido algumas «divergências» com ele, mas «nada de muito grave».
Foi depois disso que admitiu que os contactos políticos existem e que ele próprio os faz. Nesse momento, é que deu o exemplo de Sócrates, na altura em que era primeiro-ministro e que, atualmente, está em regime de prisão preventiva, indicado por crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção.
Na comissão de inquérito ao BES /GES, Queiroz Pereira voltou a falar uma segunda vez de questões políticas, mas desta vez não por iniciativa própria. Foi confrontado pelo deputado do PS, Paulo Campos, sobre a notícia que que vários elementos do Grupo Espírito Santo, incluindo o presidente da Semapa, financiaram a campanha de Cavaco Silva. « É verdade», confirmou, sublinhando que o fez a título pessoal.
Não se coibiu de criticar diretamente a atuação de Ricardo Salgado, dizendo que ele «não lida maravilhosamente com a verdade», admitindo os arrufos que teve com o ex-presidente do BES. «Não se fazia nada sem Salgado» e os problemas já existiam «desde o início do século». Mais: «Toda a gente que pôs dinheiro no GES perdeu».