Marcelo, Relvas e as "politiquices" de Costa: um candidato a fazer figas - TVI

Marcelo, Relvas e as "politiquices" de Costa: um candidato a fazer figas

Professor fez campanha numa escola secundária, onde deu uma aula de História. A mais recente está na memória dos alunos, que lançaram algumas provocações

A primeira pergunta é sempre “ a mais chata” de sair para quem vem a seguir perder a vergonha, fez notar Marcelo Rebelo de Sousa, depois de dar uma aula de História numa escola secundária, em Alcabideche. Na biblioteca apinhada de alunos, provavelmente nunca iria supor que esse reparo veio mesmo a calhar. É que os mais jovens lembram-se da história recente e questionaram o candidato presidencial sobre…Miguel Relvas.

“Tem ajudado na campanha eleitoral?”. "Não tem ajudado, tem estado afastado da política e da sociedade civil. Mas se vier a ajudar, eu digo", gracejou Marcelo, libertando-se assim da questão. Aos jornalistas, depois, garantiu não ter ficado incomodado: “Foi a mais fácil de responder”.

O que se seguiu, depois, não foi propriamente pêra doce. Falou-se na ascensão inesperada de António Costa a primeiro-ministro e questionou-se a atuação do próximo Presidente, perante o atual cenário político português que, deu para ver, divide também as camadas jovens.

Marcelo ia andando de um lado para o outro, olhando sempre nos olhos dos alunos. Tinha explicado que “o Presidente da República nomeia o Governo com base no resultado das eleições”.

Então, se assim é, e se PSD/CDS-PP ganharam as eleições, por que é que não são eles que estão a Governar? O candidato presidencial e ex-líder do PSD assumiu que a pergunta “não era pacífica” e que espelha como “o país está dividido”, mas fez notar que o Parlamento “tem a última palavra”.

“Não foi um problema de politiquices. Há a Constituição, há uma regra do jogo que passa pelo Parlamento"


Ou seja, o Governo de Passos/Portas caiu porque podia cair. Outro aluno continuou o raciocínio do anterior: mas a estratégia de António Costa não foi “ambição pessoal”?

Aí, Marcelo quis ganhar tempo, antes de responder: “Vocês almoçam? Estou com uma fome danada”.

Depois lá explicou que Costa pôde fazer o que fez:

 “Uma coisa é violar as regras do jogo, outra coisa é dentro das regras do jogo fazer tudo para que o seu pensamento triunfe, não é? Dentro das regras do jogo ele acha ‘eu sou o melhor para ir para o poder do que Pedro Passos Coelho, deixa-me cá ver se arranjo apoio político para que isso seja possível. Dizes tu, isso é uma forma de tirar proveito de uma hipótese que a Constituição lhe dá para chegar lá. E daí? A Constituição proíbe? Não proíbe”

 
“Esquema” foi a palavra que Marcelo Rebelo de Sousa usou para classificar a solução de Governo minoritário, com apoio do Bloco de Esquerda, do PCP e PEV, concebida por Costa para governar. E que pode dar azo a interpretações dúplices.
 
Complicado, complexo e difícil foi a troika de adjetivos que utilizou depois para classificar o tal “esquema”.
"Nem os comunistas se converteram em socialistas, nem os socialistas se converteram em bloquistas, nem os Verdes se converteram em socialistas. Viu-se no Orçamento Retificativo que BE e PCP não votaram favoravelmente”, lembrou a seguir, para defender que tudo isto implica “permanente negociação”.

Ele próprio recordou que já sofreu na pele o que é “recorrentemente concertar as posições de três partidos” no Governo liderado por Pinto Balsemão, e que aliava PSD, CDS e PPR.

Desta vez, BE, PCP e PEV não fazem parte do Executivo. Dão apoio parlamentar, o que é diferente. “Agora é mais complicado se eles não estão no Governo? É, é um desafio complicado”.
 

O árbitro que faz figas


Ao Presidente da República resta-lhe fazer de árbitro. Já não é a primeira vez que Marcelo tem recorrido ao termo, bem como a “fusível de segurança”. Repetiu as expressões, defendendo que o chefe de Estado não deve ter aquela postura do ‘deixa vá ver se descubro o primeiro contacto físico e… logo penalty’. Ou seja, não demitirá o Governo de Costa por dá cá aquela palha.

Dissolver a Assembleia da República, muito menos. Só se estiverem em causa “termos mais graves” do que na demissão de Governo. “Parece lógico”. Tal como para Marcelo “é evidente que este próximo período é muito difícil para o Presidente”.

Ele quer estar entre os dois meios campos. E a este árbitro, também lhe resta fazer figas.


"Para já, espero que o Governo não caia. Isto aqui para nós, pensamento positivo".


(Des)fazer a Educação e as saudades


Outra pergunta previsível, não estivesse Marcelo com dezenas de alunos e vários professores à frente: as últimas medidas do atual Executivo para a educação, nomeadamente os exames que acabam.

Aí, Marcelo Rebelo de Sousa foi bastante direto: "Não se pode estar sempre a mudar cada vez que entra um governo. Ser professor do ensino básico e secundário é um quebra-cabeças”. Defendeu, por isso, consenso para um sistema que dure um “mínimo possível” de anos.

Nesta aula de História, o professor recuou ainda ao tempo em que era aluno do básico. Tem saudades do professor preferido daquela altura: Rómulo de Carvalho, o professor de fisico-química. "Transformava uma reação química na coisa mais interessante do mundo". O docente que, recordou, também era poeta, com o pseudónimo António Gedeão.

Quem não se lembra da Pedra Filosofal? O candidato presidencial não citou os versos, mas vêm a propósito da corrida a Belém e da foto de capa desta reportagem: 

"(...) o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança"

Marcelo, entre os miúdos, quer chegar ao cargo mais graúdo da nação. 
 
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