Ministro da Agricultura afasta cenário de seca no país - TVI

Ministro da Agricultura afasta cenário de seca no país

  • 29 mar 2018, 14:42
Capoulas Santos

Capoulas Santos assegura que solos já receberam água suficiente. Até adivinha "um bom ano agrícola"

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, afirmou esta quinta-feira que os solos já receberam água suficiente, o que afasta o cenário de seca no país, e considerou que “existem boas condições para um bom ano agrícola”.

À margem de uma visita às instalações da Casa dos Animais, em Monsanto, Lisboa, no âmbito da campanha de sensibilização contra o abandono dos animais de companhia, Capoulas Santos disse que “os solos receberam água suficiente” pela chuva recente e que “as albufeiras estão com níveis de capacidade suficientemente tranquilizadores para garantir uma época agrícola normal”.

No entanto, ressalvou, existem duas exceções.

Existem dois problemas ainda no baixo Alentejo. [As albufeiras de] Monte da Rocha e Campilhas estão com 20 e pouco por cento da sua capacidade. Portanto, chove normalmente, menos nessa região”, destacou.

Ainda assim, o governante mostrou-se convicto de que “existem boas condições” para que Portugal tenha “um bom ano agrícola”, algo que “já tinha sucedido no ano passado, apesar da seca”.

Com exceção de alguns setores, como o do arroz e da pecuária, na generalidade das outras produções tivemos bons resultados. Em alguns até espetaculares, como o caso do azeite em que a produção aumentou cerca de 80%”, sublinhou o ministro Capoulas Santos.

Ritmo "bastante lento"

O ministro do Ambiente disse, na semana passada, que as barragens do sul estavam a encher a ritmo “bastante lento”, apesar de no norte a situação estar quase regularizada.

No sul, embora esteja a haver "encaixes de água a cada dia", ainda há situações preocupantes, como a da barragem de Monte da Rocha, no concelho de Ourique, que abastece "um conjunto vasto de habitantes", e que ainda está com apenas 9,6 por cento da capacidade.

O solo estava muito seco e absorveu muita água", referiu o ministro, acrescentando que "a água vai ser cada vez mais escassa. Agricultores, industriais e cidadãos urbanos têm mesmo de consumir menos água", defendeu.

João Pedro Matos Fernandes salientou ainda que a campanha contra o desperdício é "independente do nível de água nas albufeiras".

"Bênção que caiu do céu"

O responsável regional da Agência Portuguesa do Ambiente assegurou, entretanto, que a chuva deste mês repôs os níveis das barragens no Alentejo e evitou uma “catástrofe” na agricultura, devido à seca.

Foi uma bênção que caiu do céu” e, “neste momento, as disponibilidades hídricas são maiores para a agricultura, mas não são ilimitadas”, disse à agência Lusa André Matoso, diretor da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Com a seca, continuou, o abastecimento humano, considerado prioritário, não estava em risco, mas, se a região tivesse “continuado naquele cenário” que estava a ter “até final de fevereiro, certamente haveria zonas em que não se poderia regar”.

As “grandes povoações”, afirmou, “não iriam ficar sem água para abastecimento”, mas a agricultura e o abeberamento de gado iriam sofrer “uma repercussão muito grande”.

Essa catástrofe [para a qual] estávamos a caminhar, felizmente, está completamente ultrapassada. Esta água está reservada, está armazenada e, agora, é saber geri-la e usá-la com parcimónia”, continuando “a regar como se houvesse pouca para que ela dure mais tempo”, frisou.

André Matoso explicou à Lusa que a queda de precipitação verificada desde o dia 28 de fevereiro e ao longo deste mês não foi “normal” no Alentejo e teve um efeito “particularmente importante” para a região, que está “em seca desde 2015”.

Em 10 dias deste mês, choveram dois meses de março seguidos na região”, ou seja, “choveu o dobro do que chove num mês de março normal”, indicou, acrescentando, também como exemplo, que na zona de Portalegre, no dia 28 de fevereiro, quando começou a mudança climática, “choveu mais do que em todo o mês de janeiro”.

Este março “húmido” e com “precipitação muito abundante”, destacou, foi “muito importante para tudo”, não só “para o abastecimento humano, regadio, abeberamento do gado e fauna cinegética”, mas também “do ponto de vista ecológico, das linhas de água, da vegetação e dos ecossistemas ribeirinhos”.

Evolução "muito favorável"

As albufeiras alentejanas tiveram, obviamente, uma evolução “muito favorável”, assinalou o responsável regional da APA, aludindo à Barragem do Monte Novo (Évora), cujo nível “nem chegava aos 30% no fim de fevereiro e que atingiu o máximo da sua capacidade, a 10 de março”, encontrando-se, desde essa data, “a descarregar”.

A albufeira do Monte da Rocha, em Ourique (Beja), que “era a situação mais gravosa”, com 8% de água em fevereiro, está, esta semana, “com 26,4%”, um nível também superior ao do ano passado, na mesma altura, quando atingia os 20%, disse.

Outra das barragens da região mais afetadas pela seca, a da Vigia, em Redondo (Évora), acrescentou, estava a 15% da sua capacidade, em fevereiro, e tem hoje “quase 43% de armazenamento”, o que é igualmente superior ao mês homólogo de 2017 (35,7%).

O Alqueva também ganhou muita água”, atingindo quase os 80%, e “o mesmo aconteceu com as albufeiras de Pego do Altar e Vale do Gaio”, no concelho de Alcácer do Sal (Setúbal), que “já estão com mais de 50% das suas reservas hídricas”, indicou André Matoso.

Ainda assim, o diretor da ARH insistiu nos alertas: “Pelo facto de as albufeiras e os aquíferos estarem a evoluir favoravelmente, não podemos esquecer o passado recente. Agora que a água cá está, temos de a preservar”.

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