Cavaco "totalmente surpreendido" com processo de Sócrates - TVI

Cavaco "totalmente surpreendido" com processo de Sócrates

  • atualizada às 23:19
  • 23 fev 2017, 22:32

Antigo Presidente da República diz que no decurso das reuniões que teve “com o primeiro-ministro do XVIII Governo Constitucional” nunca se apercebeu “de qualquer atuação legalmente menos correta”

O ex-Presidente da República Cavaco Silva admitiu esta quinta-feira ter ficado “totalmente surpreendido” com o envolvimento do antigo primeiro-ministro José Sócrates num processo judicial, garantindo que nas reuniões que mantiveram nunca se apercebeu de “qualquer atuação legalmente menos correta”.

Eu não tenho acompanhado esse processo, mas, digo-lhe, fiquei totalmente surpreendido”, afirmou Aníbal Cavaco Silva, numa entrevista à RTP1 quando questionado sobre José Sócrates ter sido detido preventivamente em 2014 e existir a suspeita da “prática de crimes graves”.

Escusando-se a comentar o caso porque não tem acompanhado a matéria “a não ser pelos títulos demasiado grandes que aparecem em alguma comunicação social”, Cavaco Silva disse, contudo, que no decurso das reuniões que teve “com o primeiro-ministro do XVIII Governo Constitucional” nunca se apercebeu “de qualquer atuação legalmente menos correta”.

José Sócrates foi preso preventivamente em novembro de 2014, mais de três anos e meio depois de ter deixado o Governo. O antigo primeiro-ministro esteve preso preventivamente mais de nove meses e está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito.

Na entrevista, concedida a propósito do lançamento do livro “Quinta-feira e outros dias”, o antigo chefe de Estado reiterou que o seu objetivo ao escrevê-lo foi “prestar contas aos portugueses”, depois de dez anos como Presidente da República (entre 2006 e 2016).

Recusando as críticas que lhe têm sido feitas por poder estar a trair a confiança dos seus interlocutores ao revelar conversas privadas, Cavaco Silva contrapôs que “as conversas foram privadas, mas não secretas” e defendeu que só revelando o que se passou é que os portugueses podem aferir a forma como exerceu a sua “magistratura de influência”.

“Não preciso de ajustar contas com ninguém, a vida correu-me muito bem”, acrescentou, quando questionado se o livro representa um “ajuste de contas” com José Sócrates, já que volta a deixar-lhe acusações de “total e inadmissível falta de lealdade institucional”, mentiras e falsidades.

Cavaco Silva foi ainda questionado sobre o “estilo” do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mas escusou-se a emitir uma opinião, assegurando que “em princípio” nunca ninguém o ouvirá a falar sobre a forma como os seus antecessores ou os seus sucessores exerceram os cargos.

Aliás, acrescentou, a parte do livro em que fala sobre a forma como um Presidente deve atuar, nomeadamente resistindo “à tentação de obter grandes títulos", foi escrita quando ainda estava em Belém e “antes de se saber” quem era o chefe do Estado que o iria suceder.

O chamado caso das “escutas” a Belém foi outro dos temas abordados na entrevista, com o antigo Presidente da República a reiterar a tese de que “algumas pessoas do PS coligadas com alguns meios de comunicação social tentaram criar uma intriga” para o envolver nas eleições legislativas que se realizaram em setembro de 2009 e denegrir a sua imagem.

“Eu estava de férias em agosto (….) era uma intriga típica de verão para encher as páginas dos jornais”, disse, repetindo que, a forma como encarou inicialmente o assunto, foi como “uma historieta de verão” .

“Percebi tardiamente o objetivo”, lamentou.

Quase um ano depois de ter terminado o segundo mandato como Presidente da República, Cavaco Silva desvalorizou a “avaliação negativa” que os portugueses lhe fizeram quando saiu de Belém, repetindo que “sondagens, ruídos mediáticos, trepidações políticas, espuma dos dias” nunca influenciaram as suas decisões.

“Saí totalmente tranquilo, realizado”, disse, garantindo que, ao fim de 30 anos na política é altura de colocar um ponto final.

“Política nunca mais”, assegurou.

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