«Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes» - TVI

«Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes»

Defensor Moura irritou Cavaco Silva durante debate entre candidatos presidenciais, acusando-o de falta de isenção, «favorecimento de amigos» e de «pactuar com negócios ilícitos»

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Defensor Moura entrou ao ataque no debate desta quinta-feira com Cavaco Silva. Primeiro disse que iria falar-lhe a olhá-lo nos olhos. Depois, acusou-o de «falta de isenção», de «favorecimento de amigos» e de «pactuar com negócios ilícitos». Cavaco caiu na armadilha. Irritou-se. Disse que há uma «campanha desonesta e suja» contra si e chegou a servir-se de palavras como «tretas» e «larachas» para caracterizar as do seu adversário. No ponto mais alto do desconfortou soltou: «Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes».

Um debate presidencial nos moldes do que se realizou esta quinta-feira à noite é um beco sem saída. E, talvez por isso, Defensor Moura não escondeu sequer o jogo. Sem levar para o frente-a-frente mais ideias sobre a Presidência do que uma oposição visceral a Cavaco (no final agitou a bandeira da regionalização - um tema que quase pareceu deslocado dado o tom do resto do debate), entrou a pés juntos. Cavaco não tinha ponto de fuga. E não conseguiu saltar por cima das provocações.

O antigo autarca de Viana do Castelo começou logo por explicar que foram «alguns procedimentos» do mandato de Cavaco que o levaram a candidatar-se. Puxando do manifesto eleitoral do actual Presidente e da parte em que este fala da «isenção como uma qualidade importante», Defensor Moura disparou: «É uma das qualidades que acho que o candidato Cavaco Silva não tem».

Depois, na meia hora que se seguiu, acusou Cavaco de quase tudo. Desde ter introduzido as parcerias público-privadas em Portugal, forçá-lo a contratar a sua mandatária da juventude nas cerimónias do Dia de Portugal realizadas em Viana, a «beneficiar das acções do BPN para ter lucros chorudos».

Este último tema irritou Cavaco Silva. «Há uma campanha desonesta e suja», começou por dizer, para depois, num tom ainda mais acesso, sentenciar: «Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes».

«Fazem-me duas críticas. A primeira, que algumas pessoas que estão no BPN estiveram comigo no Governo há 25 anos ou há 20 anos. O que tenho a ver com a vida profissional dessas pessoas?», questionou.

«A segunda critica que fazem tem a ver com o facto de eu e a minha mulher, em 1999 (...) termos colocado parte das nossas poupanças no BPN», explicou, para depois garantir que se passam anos «sem falar com os bancos». «O sr. pode ir consultar tudo ao Tribunal Constitucional, porque está lá». «Essas campanhas desonestas e sujas não pegam comigo», repetiu.

Defensor Moura não descansou: «Não ficou claro porque é que houve um lucro de 140 por cento nessas acções que teve na SLN». Cavaco tentou desistir: «O senhor não merece mais resposta da minha parte». Mas sem resultado, porque o deputado do PS voltou ao Dia de Portugal, acusando-o de além de lhe ter imposto a sua mandatária da juventude para cantar, o obrigou a «construir uma tenda que custou 165 mil euros, para ser usada durante uma hora e meia».

Cavaco Silva ainda se queixou. «Não há uma única ideia aqui sobre o futuro de Portugal». Depois caiu novamente. «Não se é candidato a Presidente da República só porque se quer ser, porque se diz umas larachas, porque se diz umas tretas».

Moura aproveitou a deixa para lamentar Cavaco «chamar larachas, chamar tretas, a demonstrações claras de falta de isenção, favorecimentos claros de amigos e correligionários, de pactuar com negócios ilícitos que estão nos tribunais».

Se no início disse ao actual Presidente que o ia olhar nos olhos, depois virou o tabuleiro. «Tem de olhar em frente para os seus interlocutores», disse. E voltou aos tempos de Cavaco primeiro-ministro, para lhe apontar «falta de isenção com as autarquias» e «desbaratar milhões de contos» com «má gestão e má fiscalização de dinheiros da UE».



Cavaco inquietado, foi buscar as palavras de elogio à evolução após a entrada na UE do antigo presidente da Comissão Europeia Jacques Delors - «um socialista respeitado, respeitado, não é como alguns daqui», deixou que lhe saísse.
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