“O Jerónimo de Sousa?! O Jerónimo de Sousa é o meu senhorio”, soltou um dos assistentes de uma partida de sueca, ao ouvir perguntar aos jogadores o que pensavam sobre o líder comunista. Adelino Maia, de 71 anos, explicou depois a “cartada” que lançou sobre as notas de reportagem, com obrigação de assistir.
“Sou inquilino do Partido Comunista Português na Calçada do Teixeira”, contou. “A casa onde eu moro era de um sargento da marinha que deixou aquilo ao partido através de uma herança”.
Adelino Maia diz que não tem cartão partidário. Garante, contudo, que está contente com o senhorio. “O senhorio é óptimo. É pena é não haver mais senhorios destes”.
“Eles pediram à malta se podia pagar ao ano. Eu disse que não podia. Pago de três em três meses e de boa vontade”, explica, não querendo entrar em detalhes sobre a renda. “É tão bom, tão bom, que eu nem digo. Mesmo bom.”
Mais ou menos do que cem euros por mês, perguntamos-lhe. “Cem euros?! Cem euros dá quase para pagar o ano todo”.
A praça agita-se, a música acelera, grita-se “CDU, CDU, CDU”. Jerónimo de Sousa chega. Sorridente, distribui cumprimentos. Depois, arrasta a multidão praça fora e rua abaixo.
A Morais Soares é um novelo de lojas. O líder comunista desfia-as uma a uma. Apertos de mão a quem entra, a quem sai, a quem passa. Velhos e novos, como as duas crianças que lhe pediram uma selfie. Jerónimo de Sousa consente. Sorri. E a comitiva pára a meio da descida para o clique.
hugobeleza Jerónimo de Sousa tira selfie com duas crianças na Morais Soares #eleicoestvi24 #cdu http://t.co/jPJvfMrkXe 23/09/15, 18:27 |
A meio do percurso e no final haveria de falar delas. Diria que o “fetiche” da intervenção externa que resolveria os problemas da dívida e do défice se esfumou com o número do défice de 7,2 por cento revelado pelo INE.
Jerónimo de Sousa defenderia também que, mais tarde ou mais cedo, se terá de colocar a “questão da renegociação da dívida”. Tocaria até no tema dos refugiados.
“Aquela gente está a fugir da morte, está a fugir da guerra, está a fugir da fome. É preciso tratá-los com dignidade”, defendeu.
Disse que Portugal deve fazer por eles “aquilo que é possível, tendo em conta a situação social e económica”. Receber mais? Argumentou que deveria ser o governo português a definir números e não qualquer “entidade estrangeira”.