O que defendem os partidos sobre as alterações climáticas - TVI

O que defendem os partidos sobre as alterações climáticas

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  • 23 mai 2019, 10:22
Greve estudantil pelo clima

As alterações climáticas são, segundo o secretário geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito. Saiba o que defendem os cabeça-de-lista às eleições europeias

Milhares de jovens de mais de cem países fazem na sexta-feira uma nova greve estudantil, em protesto pela inação dos governos em relação às alterações climáticas.

A greve, que também se realiza em vários concelhos de Portugal e à qual se juntam organizações não-governamentais e sociedade civil, partiu da ideia de uma jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg, que desde o ano passado iniciou uma greve às aulas, uma forma de chamar a atenção para a necessidade de mais ação para fazer face às alterações climáticas.

As alterações climáticas são, segundo o secretário geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.

As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afetar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.

O combate às alterações climáticas é uma das poucas questões que une os partidos políticos e muitos defendem que esta tem de ser uma questão prioritária.

Nuno Melo elogia mudança de mentalidades dos mais jovens

Nuno Melo, eurodeputado e candidato do CDS-PP às europeias, aponta a mudança de mentalidades dos mais jovens quanto ao ambiente como um dos trunfos para a resposta na defesa do planeta, em vésperas da greve climática estudantil.

O cabeça-de-lista acenou com as propostas do seu partido nas atuais eleições europeias como prioridades e respostas possíveis para o problema, mas antes assinalou, em declarações à agência Lusa, os progressos que deteta na mudança de mentalidades.

“O mundo altera-se quando as mentalidades mudam. Isso normalmente é o mais difícil e por isso é difícil alterar os hábitos dos mais velhos. Mas perceber que os mais novos têm essa preocupação, esses mais novos que não tarda muito, estarão a liderar, pode ser talvez a principal das diferenças”, afirmou.

A agenda do ambiente, adotada pelo CDS-PP para a campanha destas europeias, é também uma das prioridades possíveis para responder aos desafios que os jovens colocam aos responsáveis políticos de hoje.

O combate às alterações climáticas é uma delas, com Nuno Melo a sublinhar que, independentemente de uma resposta global, deve ser tida em conta a realidade de cada país.

Pedro Marques quer alterações climáticas no "centro da agenda"

O candidato socialista europeu Pedro Marques assumiu querer manter o tema das alterações climáticas no “centro da agenda” europeia, considerando que é preciso “fazer mais”, embora a Europa esteja no bom caminho.

“Não deixar que as alterações climáticas saiam do centro da agenda da Europa é uma das nossas prioridades”, assumiu Pedro Marques, em declarações à Lusa, saudando os jovens por mostrarem “que esta geração se preocupa com a sustentabilidade” do planeta.

O cabeça de lista socialista elegeu a descarbonização da mobilidade nos transportes, a utilização de energias renováveis e a redução da utilização de plásticos como algumas das medidas que devem ser tomadas no combate às alterações climáticas.

“Fomos ambiciosos na Europa na definição de metas e estamos no bom caminho por exemplo, em Portugal, na área das energias renováveis”, destacou, acrescentando que foi também dado agora “um passo muito importante” no transporte público com a medida dos passes sociais.

Pedro Marques considerou, no entanto, que é necessário “agir muito mais”, porque 2050 “é já” e para se atingir a neutralidade carbónica nesse ano, em todo o mundo, “os jovens em particular exigem mais ação agora”, por parte da Europa.

“Nós precisamos de promover muito mais transporte público, promover muito mais o transporte de mercadorias através de uma mobilidade eficiente em termos energéticos, nomeadamente, a ferrovia e o transporte marítimo”, ilustrou.

“Europa tem de liderar” combate às alterações climáticas 

A número dois do PSD às europeias defende que tem de ser a Europa a liderar o combate às alterações climáticas, e aponta como prioridades nesta área a limpeza dos oceanos e a aposta na transição energética.

Em declarações à Lusa, Lídia Pereira, a mais nova candidata do PSD (27 anos) ao Parlamento Europeu, aplaude a mobilização dos jovens nesta causa, que se traduzirá numa nova greve estudantil no próximo dia 24.

“Vejo uma juventude mobilizada num assunto que lhes toca porque põe em causa esta geração e as gerações futuras”, considera, defendendo que o PSD “foi um pioneiro” nestes temas com nomes como Carlos Pimenta ou Macário Correia.

Admite que, se ainda fosse estudante, se poderia juntar a uma destas greves, mas empenhar-se-ia mais na mobilização de colegas e amigos, por considerar que a mudança parte também muito dos comportamentos individuais.

A nível global, apela uma posição de liderança da União Europeia.

“Se não for a Europa a ter a liderança nesta questão… a Ásia não trata o plástico, nos Estados Unidos há uma semana Mike Pompeo [secretário de Estado] dizia que o degelo no Ártico é uma oportunidade económica… Se nós não pegarmos nesta causa de uma vez por todas, não vamos conseguir avançar”, alertou.

Quanto às propostas do PSD no seu manifesto europeu, a candidata destaca duas e aponta o exemplo da campanha europeia que a JSD quer fazer, com pegada ecológica neutra.

“Uma das que mais tenho falado é a ação do Oceano Limpo, uma iniciativa com os territórios ultraperiféricos, Açores e Madeira, para que liderem uma ação de recolha de plástico, através de tecnologias ainda em desenvolvimento”, apontou.

Outra aposta será na transição energética para as energias renováveis, salientando que Portugal “é um país privilegiado” no número de horas de sol, por exemplo.

“Temos uma oportunidade, só temos de aproveitar e usar bem os fundos comunitários disponíveis”, defendeu.

Continuar o trabalho de sensibilização nas escolas e ser “mais exigente” com a forma como as empresas tratam o ambiente são outras prioridades.

“Fiquei chocada por saber que, para fazer um telemóvel, são precisos quase 12 mil litros de água e nós trocamos [de aparelho] quase todos os anos”, contou.

A aposta nos transportes públicos “de qualidade” para que as pessoas dispensem o carro é também um objetivo, e dá exemplos europeus que conhece.

“Em Bruxelas [onde vive e trabalha], uso só transportes públicos. Tinha um carro, um citadino, mas raramente usava, é uma cidade muito bem servida de transportes. Quando vivi no Luxemburgo também, lá aos fins de semana os transportes públicos eram gratuitos. Mas eram transportes públicos de qualidade, a pessoa tem gosto em andar neles”, afirmou.

Em Lisboa, comparou, por vezes “é preciso esperar sete ou oito minutos pelo metro e depois está cheio”, considerando que a recente redução dos passes sociais “faz sentido”, mas não com “um mau serviço”.

“Isso não é justo, nem as pessoas merecem”, afirmou.

Marisa Matias pede aos jovens que traduzam grito em voto

A primeira candidata do BE às europeias, Marisa Matias, pede aos jovens que não desistam das manifestações pelo clima, mas avisa que se no domingo não se mobilizarem "para traduzir esse grito em voto, vão ter mais do mesmo".

O combate às alterações climáticas é, precisamente, um dos três pilares do BE para estas eleições europeias, tendo Marisa Matias falado com a agência Lusa a propósito da greve mundial de estudantes pelo clima, marcada para sexta-feira.

"O que eu tenho a dizer a esses jovens é que não podemos restringir a política ao espaço das instituições, ela tem que ser feita também a partir das ruas e é fundamental que continuem a fazer as suas manifestações e reivindicações, mas que se não se mobilizarem para traduzir esse grito em voto, o que vão ter é mais do mesmo, e não é apenas com as manifestações que vão conseguir mudar o sistema e o sistema tem que ser mudado", avisou.

Assim, a eurodeputada bloquista recandidata pede aos jovens que não desistam das manifestações porque "essa pressão é precisa na rua".

"Mas, ao mesmo tempo, não desperdicem o direito que têm, que é o direito de voto, para poderem ajudar realmente a começar o combate às alterações climáticas", apela.

Este grito dos jovens, na perspetiva de Marisa Matias, "é necessário", lembrando que começou por "assistir a essas greves climáticas a partir de Bruxelas e as ruas enchiam".

"É um grito fundamental, é mesmo uma das questões políticas centrais, como aliás, provavelmente, já vos tenho maçado muito ao longo desta campanha", aponta, em jeito de brincadeira, referindo-se aos discursos que tem feito ao longo desta campanha.

A "número um" da lista do BE ao Parlamento Europeu espera que "essa força, essa voz e essa reivindicação seja traduzida também em capacidade de decisão e de interferir na decisão política".

"Esses jovens encontrarão no Bloco de Esquerda, seguramente, a certeza do trabalho feito no combate às alterações climáticas. Não é de agora, começou há muito tempo e há o reconhecimento das organizações não governamentais que nos classificaram de campeões do clima no Parlamento Europeu pelas tomadas de posição, pelos votos, pelas resoluções apresentadas", garante.

Marisa Matias deixa claro que não é só o BE que fala de alterações climáticas, mas assegura que aos jovens que "podem ter total confiança" no trabalho dos bloquistas, que não estão "a vender gato por lebre".

CDU compreende preocupações, mas rejeita conflito de gerações

O cabeça de lista europeu da CDU expressou compreensão pelas preocupações e inquietações do movimento mundial de jovens pela defesa do ambiente, que vai realizar nova greve climática na sexta-feira, mas recusou qualquer conflito de gerações.

“Compreendemos as preocupações e inquietações de muitas pessoas pelo mundo fora relativamente aos impactos no ambiente e, particularmente, na composição da atmosfera e, consequentemente, em alterações climáticas decorrentes de alterações induzidas pelo Homem”, disse à Lusa João Ferreira.

“Revemo-nos nessas preocupações e inquietações. Entendemos que isto não é propriamente um conflito de gerações. É um problema que tem a ver com o sistema económico e social dominante à escala global. É um problema inerente ao modo de produção capitalista e que tem de encontrar uma solução no quadro de um outro sistema que proporcione uma relação sustentável e harmoniosa entre o Homem e a Natureza”, afirmou o eurodeputado comunista.

Em relação a propostas concretas da CDU, João Ferreira destacou a importância de “pôr em causa o sistema de comércio e licenças de emissão [de gases com efeito de estufa], o chamado mercado do carbono” porque se demonstrou “ineficaz e perverso” e levou mesmo a aumentos das emissões, incorporando estas práticas “na diretiva de emissões industriais”, com uma “abordagem normativa”.

“Aquilo que fizemos em Portugal com os passes sociais é um belíssimo exemplo do caminho a prosseguir. Nenhuma medida nestes últimos anos, mesmo noutros países da União Europeia, terá um alcance tão fundo no combate às alterações climáticas”, afirmou, referindo-se ao estímulo à utilização dos transportes públicos graças à redução dos preços dos títulos.

Outra ideia da CDU é “defender a produção e o consumo locais”, o que implica alterar políticas como a Política Agrícola Comum (PAC) ou outras comerciais que “estimulam a deslocalização da produção face ao consumo”.

“É fundamental recuperar o controlo público sobre o setor energético para podermos orientá-lo no sentido de responder a desafios ambientais. Encaminhar lucros gerados nesse setor para a inovação, investigação e desenvolvimento que permita minorar o impacto do setor sobre o ambiente e designadamente sobre a atmosfera”, acrescentou, além da incorporação de mais energias renováveis e endógenas.

PAN defende “estado de emergência climático” com plano de transição energética

O PAN saúda a greve mundial dos estudantes pelo clima de sexta-feira, defendendo uma declaração de “estado de emergência climático”, acompanhada de medidas para a independência energética renovável e soberania alimentar.

“A nossa primeira medida é declarar o estado de emergência climático, que terá de ser acompanhado de um plano de transição económico e social, para se criar empregos 100% verdes, com qualidade e de longo prazo, fazer a transição para uma economia descarbonizada, descentralização da produção, consumo e distribuição do consumo de energia 100% renovável”, defendeu Francisco Guerreiro em declarações à Lusa.

O cabeça de lista do PAN às eleições europeias de domingo agradeceu aos jovens a sua ação pelo ambiente, sublinhando o “modo político mas apartidário” com que têm agido: “Isso é relevante, unirmo-nos em torno de causas”.

A energia renovável acessível aos cidadãos, famílias, e empresas, insere-se num “processo de independência energética” defendido pelo PAN, que pede também formas de “incluir as pessoas no processo de decisão” para “democratizar a transição energética”, com um “orçamento comunitário participativo”.

Francisco Guerreiro sublinhou igualmente a importância da “soberania alimentar” para o combate às alterações climáticas, sustentando que a importação de alimentos “tem uma pegada que nunca é internalizada no custo final”.

“Gastamos cerca de 20% do orçamento comunitário a financiar uma indústria altamente poluente, que é a indústria da agropecuária. Achamos que esse dinheiro deve ser canalizado para outros métodos de produção de alimentos, mais sustentáveis, nomeadamente, agricultura biológica, que também fixará mais pessoas no interior e criará uma riqueza estável, porque protege os ecossistemas, os solos, os aquíferos”, argumentou.

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