“Que ninguém fique em casa. Que aproveitemos estes três dias até ao fim, até podermos, para ganhar mais gente”, dramatizou o secretário-geral do PCP as consequências da abstenção, numa sala cheia, na Cooperativa Piedense.
Depois de enunciar com detalhe tudo o que pensionistas, reformados e idosos perderam nos últimos quatro anos, desde a saúde, aos transportes, dos apoios sociais ao valor que recebem depois de “muitos anos de trabalho”, Jerónimo de Sousa defendeu que “a situação está difícil” e chegou a um ponto difícil de prever em tempos de democracia.
“Era impensável para essa geração de Abril, que conquistou direitos a pulso, designadamente o direito à reforma, à pensão, o direito a ter direitos quando deixasse de trabalhar. Pois, ninguém esperava que passados estes anos verificássemos uma ofensiva tão grande em que se procura o retrocesso económico, social e civilizacional”, frisou.
No dia internacional do idoso, Jerónimo de Sousa censurou ainda que se promova a imagem dos idosos como “um peso”, que “valem pouco”.
“Que valem pouco porque não produzem, valem pouco porque estão a ser uma despesa para a Segurança Social. Não importa que tenham trabalhado toda a vida”, disse.
“Fundamentalmente entendem-vos como um peso na sociedade portuguesa”, diagnosticou, para depois prescrever a receita para esta situação, na primeira pessoa do plural.
“Continuamos a pesar também na vida política nacional. Não só lutaremos pelos nossos direitos, como procuraremos que os nossos filhos e os nossos netos tenham aquilo que nós tivemos”, instruiu assim Jerónimo de Sousa a plateia, antes de soltar o grito de combate, já entre palmas.
Abafadas pelos aplausos, as palavras finais não encontraram os ouvidos do repórter, dissolveram-se até no registo do gravador, pousado sobre a mesa.
“O que é que disse, o que é que ele disse, no final?”. À volta, os ombros encolheram-se, até as cabeças de quem informa se virarem para o lado para serem informadas por uma voz feminina, sénior e atenta.
“Fogo à peça, fogo à peça”, explicou ela, com as mãos a municiaram um canhão imaginário. O apelo de Jerónimo de Sousa tinha chegado, afinal, a quem se destinava.