Mundo precisa de políticos que "façam o certo e não o fácil" - TVI

Mundo precisa de políticos que "façam o certo e não o fácil"

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  • 31 mai 2017, 15:06
Líderes europeus discutem permanência do Reino Unido na UE (Fotos: Lusa/EPA)

Secretária-geral adjunta do Conselho da Europa, em Lisboa, aponta crescimento da xenofobia e do "nacionalismo mesquinho" e critica forças políticas do centro por estarem "a imitar as franjas politicas mais extremistas"

A secretária-geral adjunta do Conselho da Europa, Gabriella Battaini-Dragoni, defendeu esta quarta-feira em Lisboa que o mundo precisa de políticos que "façam o que está certo e não o que é fácil", perante o crescimento do populismo e da xenofobia.

"Precisamos de pessoas que façam o que está certo e não o que é fácil. Pessoas que se ergam por valores generosos e democráticos, mesmo quando não é popular fazê-lo e mesmo quando os riscos são elevados e o sucesso parece distante", disse a responsável do Conselho da Europa, na cerimónia de atribuição do Prémio Norte-Sul 2016, na Assembleia da República.

Atualmente, na Europa e em muitas partes do mundo, as pessoas sentem-se frustradas com as elites, e isso "é aproveitado pelos grupos populistas, que exploram o ambiente antissistema para promover a divisão e o medo", considerou.

Observa-se um crescimento da xenofobia e do "nacionalismo mesquinho" e "cada vez mais, as forças políticas do centro estão a imitar as franjas politicas mais extremistas", comentou Gabriella Battaini-Dragoni.

"Começam a ser duros em relação à migração, desvalorizam a cooperação internacional e adotam posições cada vez mais duras, na esperança de ganhar votos", referiu, concluindo que "num ambiente desta natureza, o que é necessário, acima de tudo, é uma liderança responsável".

O mundo vive várias crises - "a crise dos refugiados, da Síria, do terrorismo, o remanescente da crise financeira" - que contribuíram para "a crise mais grave, a da confiança dos cidadãos nas instituições nacionais e internacionais", advertiu a representante do Conselho da Europa.

O Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa 2016 foi atribuído a duas mulheres: a parlamentar tunisina Mbarka Brahmi, pela defesa de uma transição política pacífica na Tunísia e pela defesa dos direitos humanos, em particular os ligados à saúde e os das mulheres, e à presidente da Câmara de Lampedusa, Giuseppina Nicolini, pelo trabalho no acolhimento dos migrantes e refugiados que chegam àquela ilha italiana.

"A capacidade de promover uma liderança responsável e corajosa sob pressão une as duas laureadas. E por isso estamos em dívida para com elas", referiu Battaini-Dragoni.

A secretária-geral adjunta do Conselho da Europa sublinhou que "ambos os lados do Mediterrâneo partilham valores democráticos e humanitários, e os seus destinos estão interligados, seja por movimentos maciços de pessoas ou pela disseminação do extremismo violento".

No mesmo sentido, a deputada Ana Catarina Mendes, presidente da delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, assinalou que as duas laureadas "fazem acreditar que é possível um mundo melhor e que, para enfrentar o individualismo e o egoísmo, o populismo ou o nacionalismo, a resposta tem de ser sempre a solidariedade, a integração e o diálogo".

Perante a incapacidade da resposta europeia concertada [à crise dos refugiados], Giuseppina Nicolini mostra o que a Europa pode e deve ser, o que a Europa devia ser: razão não para dúvidas e ceticismos, mas antes razão de orgulho para todos os europeus", considerou a deputada portuguesa.

"A única forma de ajudar é atuar no país de origem e, até ao dia em que isso for feito, o dever de cada um de nós é acolher e saber acolher", sustentou.

Mbarka Brahmi, cujo marido, o líder da oposição Mohamed Brahmi foi assassinado em 2013, mostra que "a esperança e a ação têm de ser mais fortes que o luto", mencionou Ana Catarina Mendes.

Seis anos depois da revolução na Tunísia, que desencadeou a Primavera Árabe, aquele país "tem sido um caso de sucesso" na consolidação democrática, mas também tem sido alvo de ataques terroristas, comentou.

O terrorismo, o fundamentalismo e o radicalismo são um ataque à democracia. O terrorismo sem rosto, que todos os dias mata inocentes, tem de ser combatido sem medos", advogou.

"Também somos Lampedusa e somos também Tunísia democrática", concluiu.

O presidente do comité executivo do Centro Norte-Sul, Jean Marie Heydt, destacou que o trabalho das premiadas corresponde "aos principais desafios políticos que a Europa e a região mediterrânica enfrentam hoje".

O Centro Norte-Sul, organismo do Conselho da Europa com sede em Lisboa, "contribui para o diálogo entre o Norte e Sul, promove a cidadania global e procura sociedades inclusivas e pacíficas", desenvolvendo programas que "revitalizam a interdependência global, promovem a igualdade de género e contribuem para a consolidação democrática, através do apoio à sociedade civil, em particular dos jovens e mulheres", recordou.

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