"Situação ainda não está controlada": partidos criticam fim das reuniões no Infarmed - TVI

"Situação ainda não está controlada": partidos criticam fim das reuniões no Infarmed

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  • 8 jul 2020, 14:51

Partidos reagem à décima e última reunião entre epidemiologistas, políticos e parceiros sociais no Infarmed, em Lisboa

A Iniciativa Liberal (IL) lamentou esta quarta-feira o fim das reuniões com epidemiologistas realizadas no Infarmed, alertando que a situação "ainda não está controlada" e criticando a "atuação demorada" do governo na gestão da pandemia.

No final da décima e última reunião entre epidemiologistas, políticos e parceiros sociais no Infarmed, em Lisboa, Carla Castro, da comissão executiva da Iniciativa Liberal, lamentou o fim destes encontros.

Para nós, é também bastante lamentável que as reuniões terminem. Nós apontámos diversas falhas na forma da reunião, na eficiência da organização. O objetivo devia ser melhorar as falhas, nunca terminar com estas reuniões, porque estas reuniões cumpriram e cumprem ainda um papel bastante diversificado", sustentou Carla Castro.

A dirigente salientou que a situação epidemiológica do país ainda "não está solucionada", que o governo e as autoridades de saúde não podem isolar o facto de este ainda ser "um grande período de incerteza" e que as reuniões tinham ainda um importante papel de escrutínio do trabalho realizado na gestão da pandemia.

É com bastante pesar que vemos o fim destas reuniões e que ficamos com alguma expectativa de que possam no futuro ser retomadas", adiantou ainda Carla Castro.

Carla Castro deixou críticas à atuação demorada do governo na gestão da doença no país, acusando-o de procurar culpados ao invés de assumir responsabilidades.

"O governo] continua a encontrar inimigos externos: foram dados, cientistas, técnicos, jovens, quem vivia nas periferias, depois países e temos estado a assistir a esta procura de culpados quando nós gostaríamos muito mais de ver, quer o governo, quer as autoridades, preocupados em encontrar soluções e a agir convenientemente", criticou.

A IL alertou para a preparação conveniente do período de outono/inverno: "além da Covid o outono e o inverno não são surpresa e nós vamos ter que nos preparar, as autoridades vão ter que se preparar - desta vez não vai haver surpresas".

Por fim, Carla Castro destacou as dificuldades sentidas ao nível da saúde pública, na recuperação de consultas e cirurgias, destacando o tema da saúde mental que, segundo dados adiantados na reunião e citados pela dirigente, afeta maioritariamente jovens entre os 16 e os 25 anos.

 

PCP e PEV esperam que reuniões regressem e apontam tendência de estabilização 

PCP e PEV destacaram também uma "tendência de estabilização" da evolução da pandemia e lamentaram o fim das reuniões com epidemiologistas, destacando a sua importância para a tomada de decisão política.

No final da décima e última reunião com epidemiologistas no Infarmed, em Lisboa, Jorge Pires, da comissão política do PCP, admitiu que a decisão tenha tido por base a opinião do presidente do PSD, Rui Rio, que na semana passada considerou que aquelas sessões começavam a “ter pouca utilidade”.

Saudando os técnicos e especialistas que “prestaram um grande serviço” ao longo destes meses, o dirigente comunista contrapôs que as reuniões “tiveram uma importância extraordinária”, frisando que “o conhecimento científico é fundamental” para a tomada de decisão política e afirmou esperar que possam regressar.

É importante retomar mesmo que seja mais à frente, se não for assim só ficamos com informação que nos é dada na Assembleia da República ou pela comunicação social com todos os inconvenientes que isso traz”, considerou.

No mesmo sentido, Dulce Arrojado, do PEV, sublinhou a “importância das reuniões” que, defendeu, “deviam continuar” para que seja possível aos responsáveis políticos tomar as decisões com base nos dados técnicos e sistemáticos.

Sobre os dados que foram transmitidos no Infarmed, Dulce Arrojado, tal como Jorge Pires, disse que se verifica uma tendência de estabilização dos casos e frisou que o atual momento exige que não se baixe a guarda, advertindo que nos locais de trabalho devem ser asseguradas todas as condições de higiene e segurança.

O dirigente comunista refutou por seu lado a “diabolização da estrutura de saúde pública” por parte de pessoas “com responsabilidades partidárias”, frisando que a situação daquela estrutura, considerada “há muitos anos o parente pobre do Serviço Nacional de Saúde”, não é de agora.

Jorge Pires desafiou os mesmos responsáveis partidários a aprovar, no parlamento, propostas do PCP para o reforço daquela estrutura, declarando que “não basta vir dizer mal” e depois votar contra medidas concretas.

Quanto à situação de Lisboa e Vale do Tejo, Jorge Pires frisou que os dados demonstram que "é abusivo" dizer que "há um problema" em toda a Área Metropolitana de Lisboa, considerando que "o problema está concentrado em cinco dos 50 concelhos" e que "mesmo assim há uma tendência de estabilização".

 

CDS e Chega criticam fim das reuniões no Infarmed quando crise ainda “não acabou”

Em declarações aos jornalistas no final da décima reunião sobre a evolução da Covid-19 em Portugal, no Infarmed, em Lisboa, o vice-presidente do CDS-PP António Carlos Monteiro destacou a importância destes encontros pela partilha de “informação em primeira mão” e por permitir aos partidos tirarem dúvidas junto dos técnicos.

Lamentamos que estejam a acabar com as reuniões numa altura em que a crise de saúde pública não acabou”, afirmou o centrista, advogando que “foram fundamentais para construir uma unidade em torno do combate a esta doença”.

O dirigente do CDS considerou também que esta decisão pode ser justificada pelo facto de, numa destas reuniões, “os especialistas terem contrariado as teses do senhor primeiro-ministro e, aliás, uma dessas especialistas já nem esteve nesta reunião” e pelas palavras do presidente do PSD, que disse que estas reuniões “começam a ter pouca utilidade”.

António Carlos Monteiro defendeu que “não é com menos informação que o problema se resolve, muito menos quando essa informação foi dada e contrariou aquilo que eram as teses que estavam a ser defendidas por alguns políticos”.

O democrata-cristão deixou ainda um apelo para que a informação sobre a evolução da covid-19 “continue a ser fornecida aos partidos” e para que “seja ponderada no futuro a reativação” destas reuniões.

Também o líder demissionário do Chega apontou que “é de estranhar que, poucos dias depois de o presidente do PSD ter referido que estas reuniões estavam a ter cada vez menos importância, o Governo tenha decidido, também ele, terminar com estas reuniões e, aparentemente, sob a passividade enorme do Presidente da República”.

Não foi inocente nada disto que aconteceu”, atirou André Ventura, falando num “alinhamento estruturado” para “controlar a informação, a gestão e a divulgação do que se passa sobre esta pandemia”.

 

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