A fúria de Passos e o silêncio de Costa na véspera da 'morte' do Governo - TVI

A fúria de Passos e o silêncio de Costa na véspera da 'morte' do Governo

Posições cada vez mais extremadas entre direita e esquerda no Parlamento. Líder do PS só falará esta terça-feira, o dia em que o Executivo de Passos passará a ser o mais curto da História da Democracia portuguesa

Está pré-anunciada a 'morte' do Executivo de Passos Coelho, mas nem vivalma do líder da nova alternativa: António Costa entrou mudo e saiu calado do primeiro dia de debate do programa de Governo.  O ainda primeiro-ministro, pelo contrário, não deu sinais de esmorecer.

O deputado Hugo Soares, do PSD, foi o primeiro a notar que o secretário-geral do PS, embora presente no hemiciclo, só ia dar o ar da sua graça, mas não da sua voz. Chegou a protagonizar um incidente com o presidente da Assembleia da República a esse propósito. 

Também do CDS-PP, parceiro da coligação, Nuno Magalhães notou que Costa se "furtou" à discussão. A direita insistiu nesse ponto ao longo das quase seis horas de discussão, com o social-democrata Carlos Abreu Amorim a resumir "o sinal político do debate": precisamente a "ausência" de António Costa. "Venha ao debate, venha ao jogo democrático", desafiou. O PS replicou que os partidos têm quatro anos para ouvi-lo e questioná-lo como primeiro-ministro, quinzenalmente. 

António Costa está a guardar-se para amanhã, terça-feira, o dia decisivo: as moções de rejeição autónomas do PS, BE, PCP e PEV (que acabaram por decidir não apresentar um único documento, embora estejam unidos num acordo político para governar) serão votadas favoravelmente. Já se antecipa.

Quem acabou por representar o Partido Socialista, hoje, foi o seu presidente. Carlos César assegurou que o PS não procurou ser Governo a qualquer custo e que foi a direita que se "radicalizou". " Só a direita é que se dá mal com a democracia e não aceita a maioria". A alternativa que a esquerda apresenta é, voltou a sublinhar em nome do partido, de um Executivo "duradouro".

Passos Coelho, por sua vez, apesar de atacado por vários deputados da esquerda, respondeu sempre prontamente às questões colocadas. 

Apesar de "não esconder a apreensão" no arranque desta legislatura com a mudança que se avizinha, tirou partido, várias vezes, do facto de ainda não serem conhecidos os termos exatos do acordo político à esquerda, para com isso incomodar e/ou ver se algum dos deputados levantava mais o véu. 

Num tom aguerrido, e carregando na ironia, garantiu que não vai participar numa "política de ruína do país". 

Quando o PS tentou explicar a "larga distância" da coligação, Passos disse que era "quase penoso" ver as justificações dos socialistas para não se terem entendido com a coligação. E que até parecia que o PS tinha sido "bafejado pelo mérito" nas eleições, que nem por "poucochinho" conseguiu ganhar.

Ao Partido Comunista também desferiu ataques: lembrando as palavras de Jerónimo de Sousa antes das eleições sobre o PS ser "farinha do mesmo saco" da direita, Passos Coelho ironizou que agora que o PCP tirou os socialistas desse saco, fica a "aguardar outras conclusões". Uma, pelo menos, já tem: "Já estamos a pagar um preço", com a bolsa a afundar e os juros a disparar esta segunda-feira. 

O BE também não escapou. Catarina Martins até conseguiu que o primeiro-ministro sorrisse e risse às gargalhadas durante a sua intervenção. Ele respondeu-lhe com boa disposição, mas a falar de coisas sérias: "A generalidade dos portugueses, creio eu, não percebeu bem quem catequisou quem. Quem é que saltou o muro, se deixou de existir, se passou a imaginário e quais são as posições relativas de cada um", afirmou, sugerindo que foi o PS que "saltou o muro" a favor do Bloco

Para a direita, de resto, há uma nova troika em Portugal: a "troika de esquerda", com Catarina Martins como "quiçá a líder". E não António Costa. Esta terça-feira o próprio terá oportunidade de expressar a sua força. Como teve hoje, mas não quis. 
Continue a ler esta notícia