“E até fico sem palavras porque estou a ver a nota. É uma vergonha vender a TAP por metade de Jorge Jesus, é mesmo uma vergonha. São só 10 milhões de euros."
A venda da TAP ao consórcio privado liderado por David Neeleman, decisão que foi anunciada esta quinta-feira pelo Governo, foi o tema de um debate de atualidade pedido pelo Bloco de Esquerda, onde esteve presente o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro. A oposição apelou à defesa do interesse nacional e da soberania e não poupou nas críticas ao Executivo de Passos Coelho, arrasando o negócio efetuado.
A bloquista Mariana Mortágua acusou o Governo de “descaramento” quando o Executivo considera que se trata de um negócio positivo para o país. A deputada do BE sublinhou que a forma como o processo foi gerido, a poucos meses das eleições, é “inaceitável”, sublinhando a concretização do negócio num período de tempo muito curto e com direito a “noitada”.
“A pressa era tanta que o Governo nem dormiu sobre o assunto. Vender a TAP, custe o que custar, foi o único propósito. É preciso coragem para ter o descaramento de assumir que este negocio é positivo para o país."
Mortágua falou numa “eficiência reveladora” de um Executivo que demorou “mais de três meses a colocar professores nas escolas”, lembrando os problemas que afetaram a colocação de docentes, no ano passado, e que geraram muitas críticas ao ministério de Nuno Crato. Por isso, garantiu que o partido irá "recorrer a todos os meios, incluindo os judiciais, para travar uma doação" da TAP a privados.
Rui Paulo Figueiredo voltou a reiterar a posição defendida na quinta-feira pelo PS: caso os socialistas formem Governo e e o negócio não sirva o interesse nacional, não haverá hesitação em "utilizar a cláusula que o Governo aprovou", referindo-se a uma possível reversão do processo.“Não se entrega esta grande empresa que gera milhões de euros para a economia a poucas semanas de eleições, não se despacha literalmente este negócio a menos de um mês. Isto é de uma eficiência reveladora para um Governo que demora mais de três meses a colocar professores nas escolas e nem assim consegue que o ano letivo comece a tempo e horas.”
Uma posição que mereceu resposta de Sérgio Monteiro. O secretário de Estado dos Transportes afirmou que os portugueses vão saber a quem pedir contas, caso o futuro da TAP fique comprometido."Entendemos que o Governo não está a defender o interesse estratégico do país. O que o PS sempre defendeu foi uma privatização parcial do capital da TAP se tal se justificasse. Nós cumpriremos o que temos dito: se o negócio não servir o interesse nacional, não hesitaremos em utilizar a cláusula que o Governo aprovou."
O comunista Bruno Dias criticou não só os montantes envolvidos no negócio, como também a escolha do comprador. Para o deputado do PCP, trata-se de um comprador "especializado em desmanchar companhias aéreas". Um preço bom para vender a TAP? Bruno Dias defende que isso é coisa que não existe, tal como não existe um preço bom para vender o país."Se futuro da TAP for comprometido pelas decisões do PS, os portugueses sabem a quem pedir contas."
E os apelos patrióticos do PCP continuaram já com o debate prestes a chegar ao fim. Bruno Dias apelou à oportunidade de reverter um negócio que o partido diz ser "escandaloso" para o país."Não há um preço bom para vender a TAP porque também não há um preço bom para vender o país. Haja alguém neste país que diga que a TAP não está à venda e que o país não está a venda!"
Os "Verdes" questionaram Sérgio Monteiro, pela voz de José Luís Ferreira, sobre as ligações aéreas para os Açores e para a Madeira, que considera não estarem asseguradas no caderno de encargos por dependerem de "concursos públicos". Caderno de encargos que o deputado considera ser um "caderno de embustes"."Estamos perante a oportunidade de reverter este escândalo escandaloso para o país. A política não tem que ser isto. Enquanto houver esperança neste país vamos ter futuro."
Marcando a posição do Executivo, Sérgio Monteiro voltou a sublinhar os argumentos que têm sido usados pelo Governo ao longo de todo o processo, nomeadamente a ideia de que encontrar capital privado para a empresa era uma necessidade desde o início da legislatura e condição fundamental para assegurar a viabilidade da companhia."Se o comprador não ganhar os concursos públicos para fazer as ligações, nós temos um motivo para anular o contrato?"
O ministro da Economia, Pires de Lima, não esteve presente no debate e o facto não terá agradado ao PS que, através de Rui Paulo Figueiredo, deixou uma farpa ao governante: "Como é típico, ele esconde-se atrás do secretário de Estado e da maioria.""Desde o início do nosso mandato que encontrar capital privado é uma necessidade."