Ferreira Leite «desconfia» de Sócrates - TVI

Ferreira Leite «desconfia» de Sócrates

Líder do PSD não acredita que o programa do Governo seja «exequível»

Manuela Ferreira Leite regressou, esta quinta-feira, ao Parlamento, agora como líder do PSD. Na sua intervenção de 16 minutos, descredibilizou o programa do Governo, falando sempre olhos nos olhos com José Sócrates.

«Quantas promessas do seu último programa não foram cumpridas? Foram inúmeras, especialmente as mais emblemáticas, desde baixar os impostos até à criação de milhares de empregos», lembrou.

Por isso, a líder do PSD admite que olha para o programa do Governo «com a mesma desconfiança» que olhou para o programa eleitoral do PS.

Para Ferreira Leite, Sócrates «adoptou sempre a estratégia de atribuir a causas alheias tudo o que fazia ao contrário ao seu programa» e «está desde já a preparar um novo álibi, que antecipa mais um fracasso do seu programa, tentando desde já culpar a oposição».

«Respondo-lhe inequivocamente: não conte connosco para o ajudar a fugir às suas responsabilidades», avisou.

E a social-democrata até fez antevisões: «O primeiro-ministro não vai cumprir o seu programa, mas não será por causa da oposição, mas sim pelo conteúdo do seu programa, que não seria exequível mesmo com uma maioria absoluta.»

A deputada considera que o José Sócrates tem um «absoluto desprezo» pelos resultados eleitorais, na medida em que «nem se deu ao trabalho de ajustar propostas meramente eleitoralistas a uma perspectiva de governação sem maioria absoluta».

Sócrates responde com «humildade»

O primeiro-ministro não foi menos brando na resposta, admitindo que o Governo tem de ter humildade, mas exigindo-a também à oposição. «Não acha que também deve tirar algumas lições do resultado das eleições?», questionou.

José Sócrates defendeu o seu programa, defendendo que «não deve haver um programa antes das eleições e outro depois das eleições» e contra-atacou: «Foi esse mesmo discurso da desconfiança e do pessimismo que levou o PSD a perder as eleições.»

A seu lado teve o líder parlamentar do PS, que aproveitou os seus 20 minutos de discurso para frisar que «este Governo tem um programa, um projecto e uma linha de rumo para o país, que era o que se exigia».

Oposição ao ataque

Se por um lado o PS apela ao diálogo no Parlamento, por outro não se pense que a oposição está mais branda. Paulo Portas começou por criticar que o Governo se «faça de vítima das oposições»: «Não creio que nenhuma das oposições o tenha martirizado.»

«O PS ganhou as eleições, mas com maioria relativa. Perdeu votos e deputados. Mas eu só o oiço dizer manter o rumo, nunca o ouvi dizer corrigir, rectificar, alterar. Tem legitimidade para governar, mas tem de fazer uma interpretação porque perdeu a maioria absoluta. Afinal, está ou não disponível para mudar de políticas, alterar ou corrigir?», questionou o líder do CDS-PP.

Já Francisco Louçã saudou o discurso do primeiro-ministro «menos arrogante», mas «simpaticamente anestésico». «Houve uma grande mudança nas eleições, porque perdeu a maioria absoluta. Em pouco tempo ficaremos a saber se este é um Governo ou um comité eleitoral. O programa é igual ao de quatro anos. E não responde aos problemas do país», apontou o bloquista.

Quanto a Jerónimo de Sousa, o líder comunista anuiu que «o povo português lhe deu legitimidade para governar, mas também recusou a legitimidade para fazer o que quer».

As respostas de Sócrates foram mais acesas para o Bloco. «Ainda me lembro de Francisco Louçã dizer na campanha: eu quero ser primeiro-ministro, eu quero uma esquerda grande. Tire conclusões do resultado das eleições», afirmou, ao que Louçã respondeu: «Olhe para trás», referindo-se à duplicação de deputados do BE.

« Eu sei que o senhor deputado quer ser primeiro-ministro, mas quem ganhou eleições foi o PS. Um pouco de humildade não lhe ficava mal», rematou Sócrates.
Continue a ler esta notícia