Touradas: "A cultura também se bane quando não acompanha os valores do século XXI" - TVI

Touradas: "A cultura também se bane quando não acompanha os valores do século XXI"

    Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares e a líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, debateram a questão do financiamento público das touradas, que vai ser votado no Parlamento nesta terça-feira

A Assembleia da República vai votar, nesta terça-feira, cinco projetos-lei que pretendem terminar com o financiamento público dos espetáculos tauromáquicos.

Esta segunda-feira, no Jornal das 8, Inês Sousa Real, líder parlamentar do PAN, e o comentador da TVI Miguel Sousa Tavares, debateram o tema e os ânimos aqueceram. 

A deputada começou por dizer que este tipo de espetáculos são fortemente contestados pela sociedade devido à sua crueldade e ao sofrimento que é provocado ao animal. 

Não faz sentido que os dinheiros públicos, e falamos do dinheiro dos contribuintes, sejam utilizados para financiar uma atividade que é fortemente contestada", afirmou. 

Inês Sousa Real lembrou uma sondagem realizada pela Universidade Católica, que concluiu que 75% dos lisboetas não concorda com este tipo de eventos.

Questionada por Miguel Sousa Tavares sobre o valor que o Estado gasta com espetáculos tauromáquicos, a deputada lembrou, por exemplo, que a insenção da Praça de Touros do Campo Pequeno atinge, anualmente, os nove milhões de euros. Já a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira tem um gasto anual de 275 mil euros/ano. 

O comentador da TVI contra-argumentou que o projeto defendido pelo PAN "desrespeita a autonomia do poder local" uma vez que impede de financiar direta ou indiretamente a tauromaquia

Há uma ilha nos Açores, a Terceira, onde há uma atividade que se chama Toureio à Corda, onde o animal não sofre maus-tratos, só sofre quem se põe à frente do touro, que é uma tradição que envolve meses de festas, toda a população local, e eu queria vê-los explicarem aos açorianos da Terceira que vão acabar os Toureios à Corda, o financiamento, porque eles são uns selvagens", argumentou. 

Miguel Sousa Tavares foi mais longe e acusou Inês Sousa Real de querer proibir através "da sua superioridade moral" que outras pessoas tenham um modo de vida e de cultura diferente daquilo que o PAN defende. 

Não basta que você não goste de touradas. Não basta. Tem o direito de não gostar, como outras pessoas têm o direito de gostar. Têm o direito de ser deputados, como outros têm o direito de criar gado, de serem forcados, de serem cavaleiros, de serem toureiros. Tal e qual."

 

Eu não percebo a sua superioridade moral para tentar proibir os outros de terem um modo de vida e uma cultura que é própria e que eles respeitam, que tem que ver com a maneira como eles nasceram, com o sítio onde viveram, as suas tradições culturais. É isso que eu não consigo entender", frisou. 

Inês Sousa Real referiu que as tradições culturais podem e devem ser "banidas" quando não acompanham "os valores do século XXI". Fez também questão de reforçar que cerca de 25 mil cidadãos apresentaram uma petição para terminar com uma atividade que não tem lugar na sociedade portuguesa.

A cultura também se bane quando não acompanha os valores do século XXI. (...) O Estado não deve financiar uma atividade anacrónica que não tem lugar no século XXI”, reiterou a deputada do PAN.

Miguel Sousa Tavares considerou que "educar a cultura" é um gesto "perigoso" e garantiu que esta iniciativa parlamentar coloca em risco a subsistência de várias famílias cujo emprego está relacionado com as touradas e largadas, um cenário afastado pela deputada do PAN, que disse não haver empregos diretos gerados pela tauromaquia.

O comentador acusou ainda alguns partidos políticos de quererem impor à sociedade portuguesa os ideais populares entre a maioria dos eleitores.

Quando é que proíbem os pássaros nas gaiolas? E a matança do porco? E os animais no zoo? Quando é que vão proibir isso?”, questionou o comentador.

Aproveitou para deixar um recado a Inês Sousa Real, e aos políticos de um modo geral, dizendo que um dos seus grandes problemas é tentarem governar com base em sondagens.

O problema dos políticos é quererem ser populares e agradarem ao povo e estarem sempre do lado que a maioria quer, mas eu não quero governar pelas sondagens, quero governar pela razão e vocês querem governar pela força." 

Por fim, a líder parlamentar concluiu que esta se trata de uma discussão com bases factuais e que existem estudos científicos que comprovam que a tauromaquia consiste no sofrimento do animal.

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE