O segredo do sucesso do PS, por Ferro Rodrigues - TVI

O segredo do sucesso do PS, por Ferro Rodrigues

  • 25 mai 2017, 23:08
Eleição do Presidente da Assembleia da República da XIII Legislatura [Lusa\Tiago Petinga]

Antigo secretário-geral do PS diz que o partido liderado por António Costa escapou às crises de outros partidos socialistas porque rejeitou as alianças com a direita, mas também os frentismos de esquerda

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, afirmou, nesta quinta-feira, que o PS liderado por António Costa escapou às crises de outros partidos socialistas porque rejeitou as alianças com a direita, mas também os frentismos de esquerda.

Ferro Rodrigues, antigo secretário-geral do PS (2002-2004), defendeu esta tese sobre a importância de o seu partido se manter "no centro da esquerda, fiel à sua matriz" ideológica, no jantar que encerrou o primeiro de dois dias de Jornadas Parlamentares em Bragança.

Discursando perante os deputados socialistas, o antigo ministro dos governos liderados por António Guterres disse que, do ponto de vista pessoal, se tem interrogado sobre "qual será o segredo do sucesso comparativo dos socialistas portugueses" face a outros partidos da mesma família política.

Sinceramente, acho que o segredo para a saúde política do PS está no facto de se ter mantido fiel à sua matriz de partido socialista democrático, europeu e reformista. Por essa Europa fora, a crise da família socialista assenta em casos muito distintos. Ao contrário do que por vezes nos querem fazer crer, não há um padrão único."

Ferro Rodrigues considerou que há partidos socialistas que foram penalizados "por viabilizar governos e políticas de austeridade ou de direita, como na Grécia e na Holanda".

Mas também há quem perca apoio por se virar para nichos mais radicais como acontece no Reino Unido e como vimos em França. Ora, talvez o segredo do sucesso do PS esteja precisamente no facto de não ter ido por nenhum destes dois caminhos. Nem viabilizou um programa que lhe era estranho, nem aderiu a nenhum frentismo programático geral."

Segundo Ferro Rodrigues, nesta primeira metade de legislatura, o executivo de António Costa "tem procurado em negociação permanente no parlamento concretizar um programa de recuperação de rendimentos e de mudança de política económica, sem pôr em causa os compromissos internacionais de Portugal".

E aquilo que ao início parecia a fragilidade do acordo de Governo à esquerda revelou ser a sua maior virtude. E talvez seja por isso um dos poucos partidos socialistas capazes de fazer a síntese entre dois eleitorados essenciais a uma maioria de progresso: As classes trabalhadoras e as classes médias mais dinâmicas."

Na sua intervenção, Ferro Rodrigues fez ainda referências elogiosas ao papel do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para a existência de estabilidade política em Portugal.

"À medida que a legislatura avança, o ambiente político e social vai-se normalizando e a confiança dos portugueses e dos investidores vai crescendo. Para isso tem contribuído o Presidente da República e, de uma maneira geral, todos os grandes protagonistas da vida política portuguesa", disse.

Apelo ao fim dos ataques pessoais no parlamento

O presidente da Assembleia da República fez hoje um veemente apelo ao fim dos ataques pessoais, considerando difícil a adaptação à oposição de PSD e CDS-PP, mas advertindo também que nenhum político deve perder o pé.

Segundo fonte do gabinete do presidente do parlamento, Ferro Rodrigues referiu-se "em geral a alguns maus momentos da atual vida política", designadamente recentes textos publicados pelo deputado do PSD Duarte Marques na sua conta do Facebook, chamando "boçal" e "aldrabão" ao presidente do Grupo Parlamentar do PS, Carlos César.

Em relação aos partidos de esquerda que suportam o atual Governo, o antigo líder socialista disse não poder deixar de reconhecer "o esforço que todos têm feito para garantir a estabilidade política, as respostas sociais e os resultados económicos".

Também, de certa maneira, reconhecer o esforço de adaptação nada fácil dos antigos partidos do Governo [PSD, CDS-PP], hoje na oposição. Às vezes, depois escorregam para ataques que não devem fazer parte da nossa ordem democrática. Os ataques pessoais são sempre um mau sinal."

Para o presidente da Assembleia da República, "quando políticos de um qualquer partido, PS, PSD, Bloco ou outro, usam ataques pessoais para chegar a objetivos políticos significa que estão desesperados e que estão a perder o pé - e esta imagem faz sentido porque vamos entrar na época balnear".

É bom que não haja resposta a ataques pessoais. O presidente da Assembleia da República, que deve estar acima das guerrilhas, deve fazer sentir que não é por essa via do ataque pessoal que a nossa democracia pode melhorar."

É o tempo da Europa cumprir com Portugal

Ferro Rodrigues defendeu também hoje que agora é tempo de a União Europeia "cumprir" as suas obrigações para com Portugal e que a zona euro tem de garantir oportunidades a todos e não apenas à Alemanha.

O antigo líder socialista referiu-se aos resultados macroeconómicos alcançados pelo executivo e concluiu que "Portugal está a cumprir com a União Europeia".

É tempo de a União Europeia cumprir com Portugal. Da Europa esperamos mais e precisamos muito mais."

Na exigência de uma reforma na União Europeia, o presidente da Assembleia da República considerou que Portugal não está isolado, tendo ao seu lado, por exemplo, "o Governo conservador da vizinha Espanha e até em alguns aspetos o novo Presidente da República francesa, Emmanuel Macron".

São cada vez mais os líderes europeus que percebem que depois do 'Brexit', depois das ameaças crescentes da extrema-direita não podemos limitar-nos àquela habitual atitude de quem muda alguma coisa para deixar tudo na mesma. A Europa não pode continuar a desperdiçar oportunidades de se reformar, porque há um dia em que os cidadãos lhe viram definitivamente as costas."

Mas Ferro Rodrigues foi ainda mais longe em defesa da reforma da moeda única europeia.

A zona euro tem de garantir oportunidades para todos e não apenas para a Alemanha. Se a integração em matéria de segurança e defesa é importante, temos de manter no topo da agenda europeia as políticas de coesão e desenvolvimento e a questão da reforma da arquitetura da zona euro. Temos de encontrar em conjunto soluções sustentáveis que facilitem a sustentabilidade da dívida e a aposta no investimento."

 

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