O debate terminou com uma divisão clara: a direita considera que é possível governar sem uma maioria absoluta, como já aconteceu em outros Governos do passado, ao contrário da esquerda que acredita que sem um entendimento à desta ala, PSD e CDS não têm legitimidade para guiar o país durante os próximos quatro anos.
Pedro Mota Soares, ministro da Segurança Social do último governo e representante do CDS, fez questão de salientar que Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres e José Sócrates estiveram à frente de Governos minoritários. Ainda que um Executivo sem maioria absoluta não seja o ideal, admitiu, a coligação pode ter agora a oportunidade de reconquistar o eleitorado perdido nestas legislativas, ao dar cumprimento à segunda parte de um programa de Governo que começou com austeridade e agora vai compensar os portugueses.
Também Paulo Rangel, eurodeputado eleito pelo PSD, lembrou que pela Europa há vários Governos minoritários em funções, e que a perda da maioria absoluta não significa que os portugueses prefiram qualquer outro partido no Governo que não seja a coligação. Além disso, deixou claro que as diferenças ideológicas entre BE, PCP e PS não permitem que estes partidos cheguem a um entendimento.
“Há uma divergêngia total [entre os partidos de esquerda]. Aliás, isso ficou claro no discurso de António Costa que disse que não ia fazer maiorias negativas. Como é que o Bloco de Esquerda, que tem a ideia de renegociação da dívida – rejeitada pelo PS – que não quer cumprir tratados europeus, que tem as posições quanto à questão grega que nós conhecemos, como é que pode esta num Governo com o PS? É impossível. Como é que o PCP está a piscar olhos ao PS, quando esteve toda a campanha a dizer que o PS tem políticas de direita?”
Uma posição contrária à de Mariana Mortágua, deputada eleita pelo Bloco de Esquerda, que salientou que existem pontos comuns nos programas dos três partidos, e a convicção, também comum, de fazer frente às políticas de austeridade. Para a deputada, o entendimento é possível.
“Os partidos da oposição são oposição ao Governo e todos foram a eleições com pontos de convergência no seu programa. Privatizações e concessões dos transportes públicos, desvalorização salarial, privatização da Segurança Social, e por aí adiante. Há um conjunto de medidas que claramente obtiveram a maioria dos votos e é por aí que é preciso começar para conseguir uma alternativa. Porque uma coisa sabemos, a maioria dos eleitores não votou na coligação.”
Já para João Soares, deputado do PS, o entendimento também é possível . Ainda que tenha deixado transparecer que esse acordo pode não ser imediato para já, mas num futuro. Porém, deixou claro que não há dúvidas que foi a coligação PSD/CDS quem ganhou as eleições e o PS quem as perdeu.
“Gostava de sublinhar que para nós é claro, pelo menos para mim, que a coligação de direita venceu estas eleições e que o PS as perdeu. (…) Mas estou e acordo com a Mariana Mortágua, pela primeira vez os três partidos de esquerda com representação parlamentar constituem uma maioria, e acho que podem dar sinais de entendimento. (…) Há muitos pontos onde estamos de acordo.”
Para João Oliveira, deputado do PCP, PSD e CDS não podem exercer funções sem uma maioria absoluta, e garantiu que o Partido Comunista – tal como o BE – vão apresentar moções de rejeição do parlamento. Mesmo que a coligação Portugal à Frente chegue a formar Governo, a situação será muito diferente, afirmou, lembrando a votação do salário mínimo, que hoje teria um resultado diferente.
“O último projeto que o PCP apresentou na Assembleia da República para aumentar o valor do salário mínimo para 600 euros foi votado favoravelmente pelo PS, pelo Bloco de Esquerda, pelos ‘Verdes’ e pelo PCP. Votaram contra o PCP e pelo CDS. Na altura, os votos contra [da coligação] chegaram para chumbar o projeto, hoje permitiam que fosse aprovado”.
Também esta segunda-feira à noite, na TVI24, Proença de Carvalho, Pedro Ferraz da Costa, José Miguel Júdice e Arménio Carlos analisaram os resultados das eleições e o papel que Cavaco Silva terá nos próximos dias.
José Miguel Júdice: "António Costa cometeu todos os erros do catálogo"
Arménio Carlos: "É fundamental mudar de rumo"
Daniel Proença de Carvalho: "Partido Socialista não pode impedir a coligação de governar"
Pedro Ferraz da Costa: p ropostas de curto prazo do PS são "compatíveis" com as da coligação
Os comentadores habituais da TVI24, Constança Cunha e Sá, António Costa e David Dinis também não deixaram de comentar os resultados eleitorais. Pode ver as reações abaixo.
Constança Cunha e Sá: "Futuro do PS é uma incógnita"
António Costa: "Melhor que pode acontecer ao Governo é António Costa terminar o mandato"
David Dinis: "PR tem oportunidade de fixar condições necessárias para a estabilidade"