Sócrates: "Governo de Passos adjudicou mais à Lena do que o meu" - TVI

Sócrates: "Governo de Passos adjudicou mais à Lena do que o meu"

Na primeira entrevista televisiva desde que foi preso, ex-primeiro-ministro fala das obras públicas ganhas pela empresa do seu amigo Carlos Santos Silva que, fez questão de dizer, é "uma pessoa decente e honesta"

José Sócrates levou "numerozinhos" - palavra sua - para a entrevista na TVI, a primeira desde que foi preso, sobre as PPP ganhas pelo grupo Lena, liderado pelo seu amigo Carlos Santos Silva. O ex-primeiro-ministro disse que fez "a investigação que o Ministério Público não fez" e concluiu que o Governo de Passos Coelho adjudicou mais obras do que o seu. 

" Outra acusação é que empresa lena foi favorecida. Tenho aqui uns numerozinhos, que resultam do estudo, da análise, da investigação que eu próprio  e os meus advogados tivemos de fazer, já que a investigação não fez: em 2010, o grupo Lena ganhou, em percentagem, 0,25% das PPP e, em 2012, 0,36%. No governo do doutor Passos Coelho, foram adjudicadas mais obras à Lena do que no meu Governo"


O ex-primeiro-ministro foi ainda mais atrás no tempo, concluindo que os Governos de António Guterres e Durão Barroso, comparados com os seus seis anos de governação, adjudicaram um total de 2,93% do total de obras púiblicas. Durante o seu executivo, pelas suas contas, foram 2,54% do total.

"Isto desmente por completo toda essa fantasia e imputação injusta de que houve favorecimento à empresa Lena", atirou.
 

Amigos, amigos, negócios à parte


José Sócrates fez ainda outras contas que expôs ao jornalista a José Alberto Carvalho, atestando que o grupo Lena só ganhou duas PPP em 21 e que, num caso, tinha 7,8% do consórcio e, no segundo, 16,25% do consórcio. "Dizem que ganhou muitas. Mentira, ganhou duas em 21".

Mais: "Foram duas PPP ganhas quando a diferença da proposta deles para o segundo classificado era 282 milhões de euros e noutro caso 202 milhões. A proposta deles era mais vantajosa para o Estado. Depois de tudo o que se disse, se intoxicou, se insinuou, porque é que estes dados a investigação não os tem? Eu fiz as contas, e é simples. Convido-o a si e a outros jornalistas a fazerem-no", desafiou. 

Deu ainda o exemplo da Parque Escolar, com o argumento de que nos concursos o único fator de eleição era o preço. "Os 10 contratos em 250 foram todos ganhos com preço menor. Porque é que isto não está na investigação?", voltou a questionar. 

Embora seja amigo de Carlos Santos Silva - também arguido no processo, e que esteve igualmente preso (saíram em liberdade no mesmo dia) - "há quarenta anos", como o próprio hoje lembrou, disse algo que faz lembrar um velho ditado popular: amigos, amigos, negócios à parte

"Eu nunca adjudiquei, nem nunca falei com ninguém, nem nunca recomendei a empresa Lena. Carlos Santos Silva é uma pessoa decente e honesta. Nunca me falou enquanto fui primeiro-ministro dos seus negócios e das suas empresas"


O ex-primeiro-ministro insistiu por várias vezes na lembrança de que um ano depois da detenção ainda não há acusação deduzida contra si. “É uma loucura.  Houve castigo mas sem crime, é extraordinário”.

A segunda parte desta entrevista exclusiva à  TVI será transmitida esta terça-feira, também no Jornal das 8.

Recorde-se que  José Sócrates  foi detido a 21 de novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa, indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito, tendo ficado preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora. 

A medida de coação foi alterada para  prisão domiciliária, com vigilância policial, a 4 de setembro. 

Carlos Santos Silva, que está indiciado por fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, encontrava-se em  prisão domiciliária desde maio deste ano. 

Foi detido um dia antes de José Sócrates, também no aeroporto de Lisboa, quando regressava de Paris e esteve seis meses em prisão preventiva, de 25 de novembro de 2015 a 26 de maio de 2015, no estabelecimento prisional anexo à Policia Judiciária de Lisboa. 

José Sócrates e Carlos Santos Silva eram os únicos arguidos do processo que permaneciam com medidas de coação privativas de liberdade.  Armando Vara, que também estava em prisão domiciliária com pulseira eletrónica,  viu no início de outubro a medida de coação ser alterada para uma caução de 300 mil euros.

Tanto Sócrates como Santos Silva foram libertados a 16 de outubro.
 
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