O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, intrometeu-se no debate parlamentar entre o primeiro-ministro e o líder parlamentar do PSD sobre a participação do ex-ministro social-democrata Álvaro Santos Pereira num relatório da OCDE.
No debate quinzenal de hoje, Fernando Negrão questionou António Costa sobre as acusações feitas na quarta-feira, em audição parlamentar, pelo antigo ministro da Economia de Passos Coelho, segundo as quais um membro do executivo e a delegação portuguesa na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) quiseram remover a palavra corrupção do relatório desta organização sobre Portugal, divulgado em fevereiro.
Porque razão o Governo não aceitava a inclusão da palavra corrupção neste relatório e que se falasse neste tema?”, questionou Negrão.
Mas antes de dar a palavra ao primeiro-ministro, Ferro Rodrigues usou a sua.
Vou reprimir-me para não intervir, porque estive na OCDE durante muitos anos e sei como são feitos os relatórios sobre os diversos países. Mas, vai responder o senhor primeiro-ministro”, disse, recebendo um aplauso da bancada do PS e protestos da do PSD.
Este aparte levaria, depois, Fernando Negrão a lamentar que o presidente da Assembleia da República não se tenha “reprimido ainda mais”.
Reprimi-me bastante, bastante”, retorquiu Ferro, que acrescentaria, mais tarde, que “os relatórios sobre os países na OCDE são aprovados por todos os países da OCDE e não apenas pelo secretário-geral”.
Quanto à pergunta sobre a corrupção, o primeiro-ministro respondeu que os relatórios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico “são elaborados, enviados aos respetivos Governos para se pronunciarem”.
Os governos fazem os comentários que entendem pelos canais diplomáticos próprios e, depois, a OCDE define com total liberdade a versão final do relatório. Presumo que o PSD não tenha a visão que dominamos a autonomia técnica e diplomática da OCDE, que desenvolve o mesmo diálogo com Portugal do que com os outros países”, salientou.
Já sobre a “atuação em concreto de Álvaro Santos Pereira”, que colaborou neste relatório, António Costa disse o mesmo por duas vezes: “Dispenso-me de comentar.”