"Europa precisa de reformar-se por dentro, sem ruturas e sem saídas" - TVI

"Europa precisa de reformar-se por dentro, sem ruturas e sem saídas"

  • 24 abr 2017, 12:46
João Almeida (Lusa)

Opinião é de João Almeida, porta-voz do CDS-PP, na sequência dos resultados das eleições em França. Miguel Morgado, do PSD, deseja vitória do candidato “amigo da UE” na segunda volta. PCP fala de derrota de "políticas europeias"

O porta-voz do CDS-PP, João Almeida, sustentou hoje que o resultado da primeira volta das presidenciais francesas revela "a derrota dos extremismos" e marca o fim "inglório" de um período de governação à esquerda em França.

Em declarações à Agência Lusa, João Almeida destacou em primeiro lugar a participação, próxima dos 80%, na primeira volta das presidenciais, na qual o centrista Emmanuel Macron está à frente com quase mais 2,5% do que a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen.

"Mostra que um país como a França, com várias questões relevantes para discutir, se mobilizou nestas eleições e isso é positivo", afirmou.

Em segundo lugar, disse, as eleições demonstraram que há "uma derrota dos extremismos" já que não passou à segunda volta, como algumas sondagens admitiam, Jean-Luc Mélenchon, nem, por outro lado, Marine Le Pen venceu a primeira volta.

"Isso, do nosso ponto de vista, é significativo porque houve votações expressivas em candidatos que, tal como o CDS, defendem que a Europa precisa de reformar-se necessariamente mas que se deve reformar por dentro, sem ruturas e sem saídas", sublinhou João Almeida.

O porta-voz do CDS-PP assinalou ainda a baixa percentagem de votos obtida pelo candidato apoiado pelo Partido Socialista francês, considerando que esse resultado marca o fim "de um período totalmente fracassado de governação em França e provavelmente o maior fracasso de governação nos últimos anos".

"A esquerda europeia e a esquerda portuguesa também apontaram durante muito tempo [François] Hollande como o grande líder da esquerda europeia dos nossos tempos e o que vemos é que o fracasso é tal que o candidato apoiado pelo PS francês [Benoît Hamon] não teve sequer dez por cento. É um caminho que termina de forma absolutamente inglória", disse.

PSD deseja vitória do candidato “amigo da UE” na segunda volta 

O PSD manifestou esta segunda-feira a expetativa de que o centrista Emmanuel Macron possa triunfar na segunda volta das eleições presidenciais francesas, por ser o candidato “amigo da União Europeia, da sociedade aberta e das liberdades”.

Em declarações à Lusa, o vice-presidente da bancada do PSD e membro da Comissão de Assuntos Europeus Miguel Morgado destacou “uma primeira volta disputadíssima”, no domingo em França, em que os candidatos estavam divididos entre, de um lado, os pró-europeístas e, do outro, candidatos da extrema-esquerda e extrema-direita “contrários a uma visão de sociedade aberta e da União Europeia”.

O que há a salientar neste momento é a expectativa de que o candidato que favorece processo de integração europeia, a sociedade aberta, o elogio de liberdades, venha a triunfar. Esta decisão cabe aos franceses, mas, do ponto de vista de Portugal, que é um aliado importante de França, é inegável que os interesses de Portugal estão muito mais ligados ao candidato que seja amigo da União Europeia, da sociedade aberta e das liberdades”, sublinhou.

Sobre a passagem da candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, à segunda volta, o deputado Miguel Morgado salientou ser “sempre preocupante nas democracias europeias quando as forças extremistas adquirem ascendente na opinião pública, sejam de esquerda ou de direita, seja em França ou noutros países”.

O vice-presidente do PSD destacou ainda os resultados “francamente dececionantes” dos partidos que têm dominado o sistema político em França, “em particular o centro esquerda francês”.

Nunca devemos ser cegos nem surdos para a evolução das sociedades e para a maneira como as pessoas no dia-a-dia vão expressando as suas frustrações e os seus anseios. Nenhum partido mais tradicional pode estar alheio a essa evolução”, alertou.

Miguel Morgado, professor universitário e doutorado em Ciência Política, salientou que esta erosão dos partidos tradicionais tem sido “um fenómeno transversal” na Europa e que se tem verificado também nos países com um desempenho económico satisfatórios.

É um fenómeno mais generalizado, partidos políticos e sociedade civil têm de estar muito atentos a esta evolução e responder-lhe”, defendeu.

"Quadro de grande pressão"

Os dirigentes do PCP consideraram que os resultados da primeira volta das eleições presidenciais em França significam "uma derrota" dos "responsáveis pela execução das políticas e orientações da União Europeia (UE) e dos interesses do grande capital".

Citando os Presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande, os comunistas portugueses descrevem "uma situação de estado de exceção" e "um quadro de grande pressão e condicionamento político".

Num quadro em que na segunda volta destas eleições, em 7 de maio, se apresenta uma candidata xenófoba de extrema-direita e um candidato ultraliberal ligado aos interesses do capital financeiro e empenhado no reforço da UE dos monopólios e das grandes potências, desde já assume grande importância o desenvolvimento da luta dos trabalhadores e do povo francês em defesa dos seus direitos e soberania", lê-se em nota do PCP.

Segunda volta

Quando estavam apurados 97% dos sufrágios em França, o centrista Emmanuel Macron lidera a primeira volta das presidenciais francesas com quase mais 2,5 pontos percentuais do que a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen.

Segundo os dados do Ministério do Interior, quando falta apurar apenas 3% dos votos, Macron obteve 23,86% dos votos, enquanto Le Pen conquistou 21,43%.

Macron e Le Pen disputam a presidência na segunda volta, dentro de duas semanas, a 07 de maio.

Em terceiro lugar ficou o conservador François Filon, com 19,94%, enquanto Jean-Luc Mélenchon (esquerda) obteve 19,62% dos votos.

O socialista Benoît Hamon obteve uma derrota histórica para o seu partido, com 6,35% dos votos.

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