Eleições na Madeira: dívida e cão pisteiro marcam campanha - TVI

Eleições na Madeira: dívida e cão pisteiro marcam campanha

Miguel Albuquerque é o novo presidente do PSD Madeira

Desde o dia 15, as 10 candidaturas além da do PSD repetiram os alertas sobre os «abusos» viabilizados por uma maioria absoluta, meta alcançada em todos os escrutínios do arquipélago por Alberto João Jardim

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Questões económicas, sobretudo a renegociação da dívida regional, e a possibilidade de o PSD renovar a maioria absoluta têm dominado a campanha para as legislativas de domingo na Madeira, onde a oposição nota com frequência a ausência de Passos Coelho.

Desde o dia 15, data de arranque da campanha oficial, que termina na sexta-feira, as 10 candidaturas além da do PSD repetiram os alertas sobre os «abusos» viabilizados por uma maioria absoluta, meta alcançada em todos os escrutínios do arquipélago por Alberto João Jardim, que pediu a exoneração após quase 40 anos no poder.

Nos discursos destas listas - BE, CDS, CDU (PCP/PEV), Mudança (PS/PTP/MPT/PAN), JPP, MAS, PCTP/MRPP, Plataforma dos Cidadãos (PPM/PDA), PND e PNR – foram constantes as referências a favorecimentos de grupos económicos, em grandes obras, concessões e impostos, e não faltaram certezas sobre as semelhanças entre o ‘jardinismo’ e o candidato Miguel Albuquerque, que sucedeu a Jardim na liderança do PSD/Madeira. Foi depois desta substituição, aliás, que o governante anunciou a saída.

Enquanto o CDS e a coligação Mudança afirmaram que os cabeças de lista, José Manuel Rodrigues e Victor Freitas, são os futuros presidentes do executivo, Miguel Albuquerque insistiu na necessidade de uma maioria absoluta, mostrando-se disponível para, depois de obtê-la, viabilizar «acordos parlamentares transversais à direita e à esquerda» em matérias como um novo quadro fiscal.

Os impostos foram precisamente um dos assuntos mais focados na campanha, com críticas à «dupla austeridade» suportada pelos madeirenses, devido às medidas do Governo da República e ao plano de ajustamento aplicado à região, e à diferença de taxas em relação ao continente e aos Açores.

Mas se o PSD admite dificuldades num contexto de crise económica generalizada, as restantes forças apontam o dedo ao partido, que, consideram, deu o seu aval e contribuiu para uma situação de elevado desemprego, pobreza, exclusão social, emigração.

Os números apresentados nem sempre coincidem entre os partidos, principalmente no que se refere à dívida do arquipélago. É conhecido o valor do empréstimo no âmbito do plano de ajustamento (1.500 milhões de euros), mas não é certo o valor da dívida pública, embora nunca se fale de menos de 6.000 milhões de euros.

Sem indicar valores, Miguel Albuquerque disse já que o problema da dívida está a ser resolvido. Entretanto, os restantes partidos querem pelo menos a sua renegociação, com alargamento de prazo e descida das taxas de juro, ou mesmo uma reestruturação no sentido de perdoá-la.

A segunda opção é defendida, por exemplo, pelo líder regional do PTP, José Manuel Coelho, embora o cabeça de lista da Mudança, também responsável pelo PS/Madeira, afirme não ser esta a posição «síntese» da coligação. A imprensa já questionou as divergências de opinião na coligação e a ausência de José Manuel Coelho de algumas iniciativas, mas Victor Freitas rejeitou desentendimentos.

Ainda no plano económico, os candidatos falaram da zona franca, que também não reúne consenso (os partidos com maior representação falam numa maior aposta, mas há quem queira o fim do «paraíso fiscal»), e dos transportes.

A necessidade de rever o regime de transporte aéreo, aberto há anos a "low cost", é praticamente transversal às candidaturas, que querem preços mais reduzidos e um reforço das ligações ao Porto Santo.

Na vertente social, o novo hospital foi uma reivindicação generalizada.

Fora da campanha esteve, além de Passos Coelho, Alberto João Jardim, ausências pouco comentadas pela estrutura regional do PSD.


Quico: o cão que fareja a corrupção

A campanha fica também marcada pelo recurso a uma ambulância e pela presença do cão Quico.

Só esta semana o São Bernardo passou a acompanhar a lista do Movimento Alternativa Socialista (MAS), mas rapidamente captou as atenções. Segundo o partido, o cão pisteiro fareja a corrupção.

Já a Nova Democracia (PND) fez circular ainda antes da campanha, que arrancou no dia 15 e termina na sexta-feira, uma ambulância em segunda mão, que comprou por sair mais barata do que o aluguer de uma carrinha com altifalantes. O veículo tem mensagens novas no exterior, como «Pronto-socorro. Vamos tratar do governo» ou «Se está cego pelo PPD, tratamos da sua visão».

Com mais ou menos mediatismo e atenção de quem passava, as 11 candidaturas distribuíram muitos panfletos nas ruas e algumas entregaram também às populações as sempre cobiçadas canetas.

O colorido da campanha sobressaiu sobretudo nas bandeiras e t-shirts usadas por militantes e apoiantes em comícios e arruadas, mas são muitas as opiniões de que as iniciativas ao ar livre não têm a mesma dimensão das ações protagonizadas pelo presidente cessante do Governo Regional, Alberto João Jardim, que liderou durante quase quatro décadas com maioria absoluta.

Os partidos de menor dimensão optaram sobretudo por fazer declarações à comunicação social em momentos de distribuição de material de campanha para passar as suas mensagens e após reuniões de trabalho – nas áreas da saúde, educação ou administração pública, entre outros -, sem discursos de palco.

A banda sonora destas duas semanas incluiu hinos já conhecidos de partidos e músicas habituais nas rádios portuguesas: a coligação Mudança (PS/PTP/MPT/PAN), por exemplo, usou a canção «Seja agora», dos Deolinda, e nos comícios de diferentes partidos foi quase obrigatório ouvir o angolano Anselmo Ralph.

As atuações ao vivo ficaram a cargo de artistas locais, de grupos de folclore, do cantor popular Quim Barreiros e, em alguns bairros, de quem quisesse revelar o seu talento.

O Juntos Pelo Povo, partido nascido de um movimento de cidadãos independentes e formalizado apenas este ano, estreou nas legislativas um hino para dizer que «este é o momento» de viragem política no arquipélago.

A candidatura do JPP disse que «vai surpreender», independentemente da representação parlamentar que possa alcançar nas eleições legislativas regionais antecipadas convocadas para o próximo domingo na Madeira.

«Garanto que o JPP vai surpreender, quer tenha um, dois, três, quatro ou cinco deputados. Queremos surpreender com qualquer representação parlamentar», declarou o porta-voz da iniciativa da campanha eleitoral do JPP que decorreu hoje numa das principais ruas da baixa do Funchal, a Fernão de Ornelas.

O também mandatário da candidatura, Filipe Sousa, que é o autarca de Santa Cruz, sublinhou que o JPP «não está à procura de tacho» nestas eleições, acrescentando que o objetivo é mostrar às populações que os bons resultados da gestão do movimento neste município podem ser «transpostos de forma séria e construtiva» para toda a Região Autónoma da Madeira.

Às eleições legislativas concorrem 11 forças políticas, sendo oito partidos (PSD, CDS, JPP, BE, PND, PCTP/MRPP, PNR e MAS) e três coligações - Mudança (PS/PTP/MPT/PAN), CDU (PCP/PEV) e a Plataforma de Cidadãos ‘Nós Conseguimos’ (PPM/PDA).
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