O professor da Universidade de Aveiro e coordenador do inquérito quantitativo de avaliação ao segundo ano do Governo, Carlos Jalali, disse este domingo que é “natural” haver “algum tipo de compensação” para quem nele participa.
É prática corrente internacional e nacional haver algum tipo de compensação para deslocações e tempo para quem participa nestes estudos, eu próprio quando era estudante no Reino Unido fiz algum dinheiro participando em estudos”, afirmou o catedrático, no final de uma sessão de perguntas de cidadãos ao Governo, em Aveiro, para assinalar os dois anos de mandato.
Carlos Jalali explicou que este tipo de exercícios é “invariavelmente” subcontratado a empresas reputadas – neste caso à Aximage - que fazem a seleção e organização da logística do painel que vai participar no estudo.
Já quanto ao facto da possibilidade de os membros do Governo conhecerem de antemão as questões, o professor foi categórico em dizer que não, sublinhando que tiveram “zero influência” nas perguntas.
Trabalhámos as perguntas de manhã identificando as áreas prioritárias, enquanto decorria o Conselho de Ministros”, referiu.
Os participantes serem recompensados não é “atípico”, reforçou, frisando que a questão mais detalhada é perceber os contornos e processos da Aximage, informação de que não dispõe.
Essa é a avaliação que vamos agora fazer, perceber os processos que foram usados, mas da informação que tenho não houve nenhuma anomalia, mas estou interessado em saber mais porque a polémica em torno desta questão despoletou isso”, realçou.
Os dados e indicadores de que dispõe sugerem que o painel tem um “elevado grau de robustez e fiabilidade”, afirmou Carlos Jalali.
No final da sessão, onde foram colocadas 18 perguntas ao Governo, a sua grande maioria na área da saúde, economia e floresta, a Lusa falou com alguns dos participantes que não confirmaram o recebimento de qualquer verba monetária, mas sim ajudas de deslocação.
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Na sexta-feira, o executivo anunciou que as perguntas da sessão de hoje seriam elaboradas pelos cidadãos que participavam no inquérito.
Já no sábado, o jornal Sol noticiou que o Governo liderado por António Costa pagou 36.750 euros a um grupo de 50 cidadãos, que participa num estudo na Universidade de Aveiro para fazer perguntas ao executivo.
Na plataforma dos contratos públicos online consta um contrato, no valor referido, referente à “aquisição de serviços de recrutamento de participantes para integrar um estudo quantitativo e uma sessão pública no âmbito da iniciativa de avaliação do segundo ano em funções do XXI Governo Constitucional”, realizado com a Aximage Comunicação e Imagem Lda.
Um segundo contrato, este no valor de 19.000 euros, foi realizado com a Universidade de Aveiro tendo como objeto a “aquisição de serviços de desenho, realização de estudo quantitativo e moderação do grupo de inquiridos” no âmbito da mesma iniciativa.
O PSD e o CDS-PP chegaram a desafiar o Governo a cancelar a sessão de perguntas, com o deputado do PSD Luís Montenegro a considerar tratar-se de uma “encenação vergonhosa”, “imoral, indigna e de uma ligeireza total”.
Pelo CDS-PP, a líder do partido, Assunção Cristas, afirmou que se o executivo liderado por António Costa "tivesse um pingo de vergonha" cancelaria a sessão que organizou com recurso a pessoas alegadamente contratadas.
O PCP, num curto comunicado divulgado no sábado à noite, considerou que a realização de estudos de avaliação da ação do Governo deve ter “como preocupação e prioridade” a resposta aos problemas da população e do país, sendo “criticável a sua transformação em atos de promoção pública”.
Já hoje, a coordenadora do BE, Catarina Martins, disse ver "com alguma estranheza" o modelo da iniciativa do Governo para assinalar os dois anos de mandato, recomendando o usado pelos bloquistas, com sessões abertas às pessoas que queiram participar.