Pergunta retórica de Nuno Magalhães, deputado do CDS-PP, remetendo implicitamente para a Grécia. E o discurso de alerta, logo depois:
"É bom que os portugueses meditem sobre isso. Com um governo PS, corremos o risco de ter em 2017 ou 2018 de ter resgate muito mais duro. Não será o segundo ou o terceiro, será o quarto"
Foram precisamente os socialistas os primeiros a invocar a situação na Grécia. O líder parlamentar Ferro Rodrigues acusou o governo de Pedro Passos Coelho de ser um "obstáculo" a um entendimento entre Atenas e os credores. O primeiro-ministro contestou, carregando nos adjetivos depreciativos:
"As insistências desesperadas [por parte do PS] em querer levar PSD e CDS-PP e o próprio governo a impedirem um acordo entre as instituições e a Grécia é simplesmente risível, risível senhor deputado"
O chefe de Governo deixou por isso o repto a Ferro Rodrigues: "Gostaria de ver o senhor deputado comentar intervenções de ministros das finanças socialistas e primeiros-ministros e depois talvez possamos ter uma conversa mais bem regrada".
Da parte do PSD, Luís Montenegro usou porventura a imagem grega mais marcante da última semana - as gigantes filas das pessoas a levantar dinheiro (60 euros máximos por dia), num país sujeito ao controlo de capitais, com bancos fechados .
"Os partidos da oposição falharam e falharam redondamente todas as suas profecias para Portugal. Acaso não tivessem falhado teríamos hoje pessoas em filas multibanco para conseguirem levantar o seu dinheiro"
Passos Coelho disse depois que "sabemos custos elevados que pagámos" com um resgate, "sobretudo stock da dívida que vem do passado e elevado stock de desemprego que ainda temos na nossa sociedade".
A Grécia pediu hoje o terceiro, lembrou também, dizendo que é "muito diferente" ter soberania para decidir do que "ter de andar de mão estendida" a aceitar o que dizem os credores. "E isso os portugueses perceberam independentemente das proximidades partidárias", valorizou.
Chantagem e "deputados excitados"
O primeiro-ministro realçou que "o falhanço do Governo seria o falhanço do país". "Infelizmente não tivemos apoio da oposição socialistas e restantes oposições. O que se dizia era atirar a toalha ao chão e que era preferível passar pior. Hoje sabemos o que isso custa, mas não em Portugal". Alusões à Grécia, outra vez.
E a repetição de que "ninguém fez chantagem" com os gregos: "O que a Europa fez em relação à Grécia não fez por país nenhum. Aquilo que emprestou à Grécia não fez por mais ninguém".
Passos Coelho respondia a Jerónimo de Sousa e essas afirmações receberam muitos protestos da bancada do PCP
Para responder aos "excitados deputados", o primeiro-ministro lembrou que "eram dívidas dos gregos, não eram dívidas dos outros europeus" que estavam - estão - em causa.
"Pavor"
A situação na Grécia causa "pavor" ao vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, que encerrou o debate dedicando alguns minutos ao tema, por comparação com a situação em Portugal."É simplesmente um pavor imaginar que em Portugal pudesse acontecer o que está a acontecer com os gregos. A demagogia que sujeita as nações ao curralito ou ao mero confisco"
O governante defendeu que uma zona monetária única não é gerível sem regras partilhadas. "Tão pouco é viável ficar dentro [do euro], ir no sentido contrário aos outros e no caminho pedir aos outros o dinheiro para ir contra todos", atirou.