"Os governos mais extremistas da austeridade europeia, entre eles o português e o espanhol, procuraram desde ontem disfarçar a derrota do seu discurso, acusando o governo grego a assumir um programa igual ao que Passos Coelho tem vindo a assumir em Portugal. Esse discurso é uma fraude e não aguenta o confronto em números", começou por dizer Catarina Martins.
"Passos Coelho, que governa o país com a energia mais cara da Europa, muito graças ao peso do IVA na fatura, não pode dar lições de moral ao governo grego, que continua a recusar o aumento do IVA na eletricidade. Paulo Portas - que fez dos reformados atuais um verdadeiro mealheiro do seu governo e que violou todas as linhas vermelhas que algum dia estabeleceu sobre essa matéria -, devia corar de vergonha perante a recusa do governo grego em cortar nas pensões"
A líder bloquista recordou que foi essa "a grande bandeira de Angela Merkel" na "chantagem" que incidiu sobre a Grécia nos últimos meses, mas fez notar que as medidas agora anunciadas para as pensões estão "muito longe dos planos dos credores", limitando-se a "1% da população com os maiores rendimentos".
A reação de Passos Coelho, essa, "envergonha Portugal e prejudica o nosso país", a "vítima mais provável" se um colapso acontecer em Atenas.
Catarina Martins condenou as "semanas de chantagem, pressão, recusas e repetidas garantias de que a Europa não aceitaria nada, a não ser o atual programa de austeridade"."Que Passos Coelho faça tudo para sabotar qualquer entendimento demonstra a prioridade que dá à agenda partidária sobre os interesses do país e a irresponsabilidade do Governo que temos"
E quis deixar duas notas em relação à aproximação de posições no Eurogrupo de segunda-feira: "A primeira é que se torna evidente que sempre foi a Grécia e não a UE quem se comprometeu e deu os passos efetivos para uma solução que protege a economia grega e, também, o futuro da Europa. A segunda é que erraram todos eles que garantiram, com Passos Coelho à cabeça, que não existe outro caminho se não aceitar o que Bruxelas e Berlim ordenaram".
Segundo o Bloco de Esquerda, a proposta do Syriza "rompe com a austeridade prevista para a Grécia em 2015 e 2016", ganhando nesta negociação 8 mil milhões de euros. "São nada menos do que 5 pontos do PIB grego", assinalou.
Mesmo que haja acordo até ao final desta semana, os bloquistas defendem que "a única forma de a Grécia sair do ciclo infernal para onde foi atirada nos últimos anos é a reestruturação da dívida".
A contestação que as propostas de Tsipras está a enfrentar dentro do próprio Syriza foi desvalorizada por Catarina Martins, que preferiu destacar que fica "claro" que com as propostas que apresentou ontem, o governo grego "consegue proteger os mais frágeis e não ultrapassa as linhas vermelhas".