Jerónimo e Costa em aberta divergência sobre regras da zona euro - TVI

Jerónimo e Costa em aberta divergência sobre regras da zona euro

Líderes partidários condenaram ainda a forma como o governo e o Banco de Portugal estão a gerir a venda do Novo Banco

Os secretários-gerais do PS e do PCP estiveram esta quarta-feira em aberta divergência sobre a posição de Portugal face às regras da zona euro, num debate morno em que António Costa deixou um apelo indireto ao voto útil.

Só os últimos 15 minutos (de um total de 50) do frente-a-frente na SIC Notícias, moderado pela jornalista Ana Lourenço, registaram um desacordo vivo entre António Costa e Jerónimo de Sousa, depois de o secretário-geral do PS ter rejeitado a impossibilidade de uma reposição imediata dos salários do setor público e da sobretaxa do IRS em nome da presença de Portugal na zona euro.

A terminar, quando ambos foram interrogados sobre entendimentos de Governo PS/PCP, Jerónimo de Sousa caraterizou os socialistas como uma força política de "continuidade", defendendo que o país precisa "de uma rutura", enquanto António Costa pediu "clareza" aos comunistas sobre a sua posição face à União Económica Monetária (UEM) e deixou um apelo aos eleitores da esquerda política: "Para a coligação de direita [PSD/CDS] perder, é essencial que o PS ganhe" as eleições, afirmou.

No debate deste ponto, o secretário-geral do PCP rejeitou a interpretação antes feita por António Costa de que o seu partido defende a saída de Portugal do euro, contrapondo que os comunistas sustentam antes que o abandono da moeda única "deve ser preparado, ou por decisão do povo português, ou por decisão de outros".

"Partimos do pressuposto que Portugal tem direito a um desenvolvimento económico soberano. Mas a União Europeia manda porquê no nosso futuro coletivo?", interrogou-se o secretário-geral do PCP.

Antecipando-se a um ataque do líder do PS, Jerónimo de Sousa salientou que a necessidade de estudar a saída do euro, "que parece quase uma blasfémia para o PS, também está afinal previsto no cenário macroeconómico deste partido".

Num debate em que os líderes do PS e do PCP nunca se atropelaram nas suas declarações e que se caraterizou por ter sido pouco confrontacional, António Costa contrapôs que esse cenário de saída do euro, apesar de constar no cenário macroeconómico socialista, "é rejeitado" pelo PS.

Depois, passou ao contra-ataque: "O problema do programa do PCP é que prevê uma intervenção com vista ao desmantelamento da União Económica e Monetária e a preparação para a libertação do país da submissão ao euro. Ao contrário do Bloco de Esquerda, o PCP tem o mérito de escrever claramente quais os riscos e consequências com os quais nos tínhamos de confrontar num cenário de saída do euro - consequências de facto draconianas no rendimento das famílias, no risco de viabilizar a banca (que colapsaria), nos riscos para a conversão da dívida, assim como a necessidade de garantir o provisionamento energético e de outros bens essenciais que poderiam faltar país", referiu o líder socialista.

Na parte económica do debate, apesar de ambos terem convergido nas críticas ao percurso do país nos últimos quatro anos (de governação PSD/CDS-PP), o secretário-geral do PCP lamentou que o PS se recuse para já a quantificar ou a calendarizar compromissos seus, como a alteração dos escalões do IRS, apontando que é precisamente esse caminho que leva depois à ausência de cumprimento de promessas.

Jerónimo de Sousa também criticou o PS (quando era liderado por António José Seguro) por ter apoiado ao lado do PSD e do CDS a descida do IRC, deixando então uma advertência: "A prática é o grande critério da verdade".

Em temas como a educação e a saúde, António Costa e Jerónimo de Sousa estiveram em sintonia na defesa do peso do setor público nestas áreas sociais, mas o líder comunistas deixou algumas farpas aos socialistas, quer responsabilizando-os pelas sucessivas revisões constitucionais com o PSD e CDS, quer por terem introduzido as taxas moderadoras.

Costa exige explicações urgentes sobre o Novo Banco


O secretário-geral do PS fez hoje duras críticas ao Governo e ao governador do Banco de Portugal sobre a venda do Novo Banco, exigindo-lhes explicações urgentes, enquanto o líder comunista defendeu o "controlo público" desta instituição financeira.

O tema do processo de alienação do Novo Banco foi abordado por Jerónimo de Sousa e António Costa já na parte final do frente-a-frente na SIC/Notícias, com o secretário-geral do PS a atacar a atuação do executivo PSD/CDS e do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e a advertir sobre os riscos do adiamento da venda.

"O que é gravíssimo é que o senhor governador [do Banco de Portugal] tenha entendido que está no âmbito das suas funções fazer o favor político ao Governo, iludindo os portugueses que esta era uma solução sem risco, quando esta solução tem riscos, desde logo com 3,9 mil milhões de euros que o Estado lá tem colocado, que é dinheiro dos contribuintes. Neste momento é dever do Governo e do governador do Banco de Portugal explicarem tudo o que está por explicar. É estrito dever explicar qual a situação em que estamos", declarou o líder socialista.

Antes, o secretário-geral do PCP tinha defendido a necessidade de sujeitar o Novo Banco ao controlo público.

"Aliás, a primeira intervenção que o Estado fez foi lá depositar 3,9 mil milhões de euros para colmatar o buraco negro que ali está. Esse dinheiro, que é dinheiro nosso, tem de ser usado. Vamos estar outra vez numa situação tipo BPN (Banco Português de Negócios)?", questionou Jerónimo de Sousa.

Neste ponto, António Costa acusou o Governo e o governador do Banco de Portugal de "imprudência" ao longo do processo de criação e alienação do Novo Banco e deixou várias advertências: "Ainda na semana passada, o ministro [da Economia] Pires de Lima, que é sempre muito prolixo a dar lições a todo o mundo, explicava que quanto mais tarde fosse feita a venda, pior seria, o que, aliás, é simples de perceber".

O secretário-geral do PS referiu então que, nos termos da lei, o Novo Banco tem um prazo de dois anos para ser alienado, caso contrário fica sujeito a dissolução.

"É evidente que quanto mais perto estivermos da dissolução maior é o poder negocial do eventual comprador. Como é que o Governo, que ainda na semana passada proclamava isto, de repente diz que não se ter resolvido [a venda] não tem afinal problema nenhum. Isto é a falta de credibilidade total do Governo e, infelizmente, de uma instituição como o Banco de Portugal”, acrescentou António Costa.
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