PCP defende que Estado devia iniciar processo de reflexão sobre saída do Euro - TVI

PCP defende que Estado devia iniciar processo de reflexão sobre saída do Euro

Jerónimo de Sousa em Monte Gordo, no Algarve

Jerónimo de Sousa considerou que o principal problema para alguns países da União Europeia é a existência de "uma moeda única em que se confrontam economias poderosas com economias frágeis"

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou esta segunda-feira que a eventual saída de Portugal do euro não pode ser um ato súbito e defendeu que o Estado português devia a iniciar um processo de reflexão sobre essa possibilidade.

Aquilo que temos vindo a verificar é que são cada vez mais os portugueses que compreendem perfeitamente a nossa posição. Verifica-se que, desde a adesão ao euro, Portugal teve uma economia rastejante, não se consegue desenvolver", disse o líder comunista, instado a comentar as declarações do Nobel da Economia Joseph Stiglitz, que defendeu saída de Portugal do euro.

"Como reconhece esse economista, quanto mais adiarmos o problema, mais os problemas aumentam", acrescentou Jerónimo de Sousa, durante uma vista à Festa das Vindimas, em Palmela, no distrito de Setúbal.

Stiglitz, Nobel da Economia de 2001 e professor na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, defendeu, em entrevista à Antena 1, que Portugal "está condenado" se permanecer na moeda única, acrescentando que "custa mais a Portugal ficar do que sair do euro".

Para Jerónimo de Sousa, o principal problema para alguns países da União Europeia é a existência de "uma moeda única em que se confrontam economias poderosas com economias frágeis (...), em que regras, medidas, tratados, impõem políticas únicas em conformidade com essas potências, deixando para trás países como o nosso", disse.

Nós consideramos que é o momento de recuperar a nossa soberania através da moeda, da política cambial. Há preocupações, naturalmente que isto não pode ser uma aventura, mas temos que entrar num processo de estudo, de convergência de opiniões, um processo dirigido pelo Estado português, mas que nos liberte desta submissão", acrescentou o dirigente comunista.

Confrontado com as declarações proferidas, também hoje, pelo Presidente da República em Setúbal, em que Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a necessidade de se estabelecer um "equilíbrio" entre a necessidade de rigor financeiro nas contas do estado, o cumprimento dos compromissos com a União Europeia e a urgência de algumas respostas sociais, Jerónimo de Sousa alertou para os constrangimentos que Portugal enfrenta, a começar pelo serviço da dívida, que representa 8,5 mil milhões de euros por ano.

Estivemos a falar do constrangimento do euro. Poderíamos falar do constrangimento da dívida pública e do serviço da dívida. Poderíamos falar da situação em que se encontra a banca. São elementos que, a manter-se este garrote apertado sobre a nossa economia, a desvalorização do investimento, depois lá vem o argumento de que não há dinheiro para respostas sociais", disse.

"Nós consideramos que é possível dar respostas sociais. Os trabalhadores não pedem o céu e a lua, não pedem tudo de uma vez, mas consideram que, nesta nova fase da vida política nacional, é preciso continuar a política de reposição de direitos e rendimentos, que é preciso uma outra política fiscal e vencer estes constrangimentos que nos afligem e que nos amarram", defendeu.

Para o líder comunista, "a grande questão é saber se ajoelhamos às chantagens, se soçobramos perante as ameaças ou se, pelo contrário - sim ou não -, o povo português tem o direito de construir o seu futuro coletivo".

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