Joacine: "Está completamente fora de questão" renunciar mandato de deputada - TVI

Joacine: "Está completamente fora de questão" renunciar mandato de deputada

  • CE - Notícia atualizada às 12:38
  • 18 jan 2020, 11:22

Declarações da deputada única do Livre à chegada ao congresso que tem em cima da mesa retirar-lhe a confiança política

A deputada única do Livre, Joacine Katar Moreira, afirmou este sábado que "está completamente fora de questão" renunciar ao mandato.

Fora de questão, completamente fora de questão", disse Joacine Katar Moreira, à chegada ao congresso que tem em cima da mesa retirar-lhe a confiança política.

A parlamentar não respondeu, porém, se essa decisão se mantém mesmo que passe a ser uma deputada não inscrita.

A deputada do Livre, eleita nas últimas eleições legislativas de outubro, chegou ao local onde decorre o congresso, em Lisboa, pelas 10:20, cinco minutos depois do seu assessor, Rafael Esteves Martins.

Questionada pelos jornalistas à chegada ao congresso, Joacine Katar Moreira rejeitou ser a responsável pela situação de mal-estar vivida no partido.

Apontando que não irá apresentar "nenhuma moção" ao congresso, a deputada disse igualmente que será necessário "esperar que haja mais desenvolvimentos".

"Este relatório está cheio de inverdades, mentiras, de manipulação e de omissão”

A deputada do Livre salientou este sábado, perante o congresso, que a sua “consciência está tranquilíssima” em relação ao trabalho que efetuou, e acusou a assembleia do partido de “mentiras, manipulação e omissão” na resolução que apresentou.

Numa intervenção de pouco mais de 20 minutos, Joacine Katar Moreira Mostrou um documento com todas as iniciativas que ela e o seu gabinete levaram a cabo até agora na Assembleia da República.

Estão aqui todas as coisas que fizemos até hoje”, disse enquanto mostrava, a partir do púlpito, um dossiê com várias folhas.

Na ótica da deputada, os trabalhos desenvolvidos ao longo de dois meses de mandato, foram sendo “desvalorizados sistematicamente e manipulados”.

Este relatório fere a minha honra e a minha dignidade, está cheio de inverdades, de algumas mentiras e de manipulação e de omissão”, acusou.

Apesar disso, disse que a sua “consciência está tranquilíssima” porque os motivos “são facilmente rebatidos”, salientou.

Qual é o motivo disto? O que é que faz com que os membros do meu partido, dois meses depois da minha eleição, façam um relatório cheio de inverdades e omissões?”, quis saber a parlamentar.

Joacine Katar Moreira queixou-se igualmente de ver a sua liberdade limitada.

Desde a minha eleição eu venho sucessivamente a ser confrontada com a restrição da minha liberdade de escolha, que começou com a definição do gabinete da Assembleia”, frisou, apontando que “isto também não é cultura do Livre”.

A deputada justificou ainda a razão de não ter divulgado como votaria na generalidade o Orçamento do Estado para 2020, - referida como razão para a retirada da confiança política pela assembleia do partido -, com o facto de a sua abstenção ter sido noticiada anteriormente, informação alegadamente divulgada junto da comunicação social por um dos membros do Grupo de Contacto.

Por causa disto é que eu optei por não fazer declaração nenhuma sobre o Orçamento, isto porque um órgão da direção já o tinha feito”, declarou a deputada única.

Joacine Katar Moreira lembrou ainda a declaração noticiada de que tinha sido “eleita sozinha”, negando tê-la feito, e dizendo que deu até uma entrevista em que a negou. A parlamentar criticou que tal entrevista tenha sido “ignorada” pelos órgãos internos do partido.

Afinal umas entrevistas importam muito mais do que outras”, acusou, acrescentando que “ninguém é eleito sozinho”.

Joacine congratulou-se com a adesão que o congresso teve (estão presentes cerca de uma centena de pessoas), notando não fazer “ideia de onde vieram”, mas lamentou que o motivo não seja o melhor.

Infelizmente, o elemento e o motivo desta união não é necessariamente a união, é a desunião”, apontou, considerando isso irónico, apesar de ser “um hábito” em muitos partidos.

Joacine Katar Moreira salientou, de seguida, que “o elemento fundamental tem que ser a ética e a verdade”, num momento em que está em cima da mesa o Livre retirar-lhe a confiança política.

Eu acho que isto é algo absolutamente inédito, mas o facto é que nós também somos um partido inédito”, gracejou.

Joacine notou também que, apesar de a resolução da assembleia ter sido aprovada por unanimidade, “não estavam lá todos os membros, estavam lá 22”, dos 41 eleitos daquele que é o órgão máximo entre congressos.

Na sua ótica, a resolução apresentada a congresso mostra uma “vulgaridade absoluta e assustadora”.

É a prova de que “muitos de nós não estamos preparados para o voto que os portugueses nos deram a 6 de outubro”, considerou.

Nunca me foi retirada a confiança política, aliás nunca me foi retirada confiança na minha existência”, sublinhou, acrescentando que “esta não é a cultura do partido Livre, ao menos teoricamente”.

A deputada lembrou a expressão “pontapé no estaminé”, presente no hino da sua candidatura, que quer mostrar que o partido não é igual aos outros.

Apesar de ter contado com poucas reações enquanto discursava, no final a deputada foi bastante aplaudida.

A resolução de retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira e a forma de organização interna do Livre deverão estar no centro da discussão do IX Congresso do partido que se realiza este sábado e domingo em Lisboa.

O IX Congresso do Livre, que decorre no Centro Cívico Edmundo Pedro, será o primeiro desde a eleição da deputada única e do clima de tensão instalado entre a estrutura partidária e a representação parlamentar.

Na passada quinta-feira, a assembleia do partido Livre, órgão máximo entre congressos, decidiu propor ao congresso a retirada de confiança política na sua deputada, justificando, numa resolução, que “não se vislumbra da parte da deputada, Joacine Katar Moreira, qualquer vontade em entender a gravidade da sua postura, nem intenção de a alterar”.

Segundo o Grupo de Contacto (GC), Joacine Katar Moreira, desrespeitou os pontos específicos da 40.º resolução, na qual se apelava a um trabalho “de confiança” entre o GC e a deputada, após a incidente devido à abstenção num voto sobre a Palestina proposto pelo PCP.

O Livre conseguiu eleger, pela primeira vez, uma deputada à Assembleia da República nas últimas eleições legislativas de 6 de outubro de 2019.

Joacine Katar Moreira, que faz parte do Grupo de Contacto ainda em funções, não integra a lista única de candidatos à direção do Livre nem apresentou nenhuma candidatura individual à assembleia. Rui Tavares, membro fundador do partido, apresentou uma recandidatura à Assembleia, órgão do qual faz parte.

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