«Europa está a procurar soluções para a crise do lado errado» - TVI

«Europa está a procurar soluções para a crise do lado errado»

João Cravinho

João Cravinho entende cortes, mas não os «sem critério»

O antigo ministro João Cravinho considera que a Europa «está a procurar soluções para a crise do lado errado» e defende apostas em áreas como a inovação e novas políticas de convergência para retomar o crescimento, resume a Lusa.

João Cravinho está em Macau para participar na sexta-feira e no sábado numa conferência sobre a crise europeia, promovida pela Associação de Estudos Europeus da Ásia Pacífico, na qual é também oradora a eurodeputada Elisa Ferreira e o chinês Dai Dingran, distinguido com o prémio Jean Monnet, entre cerca de 70 palestrantes.

Manifestando-se contra a «austeridade» como solução para os males da crise europeia, João Cravinho assinalou, por exemplo, que os cortes da despesa, dos salários, o aumento dos impostos apenas possuem um lado positivo «no exterior» com os mercados a acreditarem mais nos países, como é o caso de Portugal, mas salienta que a solução não pode passar apenas por esse caminho.

«Tem de haver ajustamentos, tem de haver cortes, inclusivamente terá numa ou noutra área de haver cortes de salários, mas não pode ser um meio generalizado, transversal que se aplica sem critério e em resposta a dificuldades», defendeu.

Por outro lado, o antigo governante socialista destacou que o Banco Central Europeu tem de «desempenhar o papel de banco central dos Estados», garantindo o financiamento da economia a juros baixos e «credibilizando» o sistema para que «não exista especulação», posição assumida pelo BCE no final do ano passado como «exceção», mas que está até proibida pelos tratados.

João Cravinho defendeu também que a austeridade pela austeridade tem revelado «maus resultados» e que o caminho a seguir não pode vincar apenas mais austeridade porque se entra numa «espiral recessiva».

Quanto à dívida dos Estados, o ex-ministro das Obras Públicas defendeu outro caminho: «Criar um fundo de redenção da dívida, transferindo uma parte desses valores para esse fundo, continuando a aplicar-se a política orçamental de acordo com certos parâmetros e esse fundo será de responsabilidade coletiva dos Estados da zona euro encontrando-se no mercado solução de financiamento a juro baixo, entre 2,5% e 4%».

Mas, lembrou, depois há o pagamento dessa dívida transferida que, defendeu, deveria ser feito num prazo mais alargado, permitindo atenuar a austeridade, ao mesmo tempo que se criam condições de fomento do crescimento da economia.

«Se quiser ter crescimento precisa de ter recursos para as atividades», disse, referindo outros instrumentos como as políticas comunitárias, que devem ser revistas à luz da experiência dos últimos anos para «ter uma política, no caso de fundos estruturais, diferente».

«Vamos ver concretamente caso a caso o que é que preciso fazer para que estas economias sejam competitivas e em vez de ficarmos com regras gerais que servem para todos e acabam por não servir a ninguém, vamos fazer políticas especificas e canalizar os recursos que temos», concluiu.
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