O Governo está a «destruir» o Estado - TVI

O Governo está a «destruir» o Estado

João Semedo acredita que os cortes tornados públicos só vão agravar a onda recessiva e colocar o país mais longe das metas do défice

O coordenador do Bloco de Esquerda (BE) João Semedo afirmou que Portugal deve procurar anular parte da sua dívida, porque «o país não aguenta uma dívida superior a 60% do seu Produto Interno Bruto (PIB)». João Semedo disse também que o Governo está a «destruir o Estado», e que os cortes tornados públicos, só vão agravar a onda recessiva e colocar o país mais longe das metas do défice.

«É evidente que se nós baixarmos os juros a situação melhora e se prolongarmos os prazos de pagamento da dívida a situação também melhora, mas resta saber se baixar os juros e prolongar os prazos é suficiente. Na opinião do BE, não é e isso diferencia-nos dos outros partidos», especificou Semedo

A solução que os bloquistas propõem para o problema é «renegociar a dívida, anulando parte» dela e reduzindo «sensivelmente a metade» o seu valor atual, que hoje está nos 126% e que «vai aumentar com todas estas medidas».

João Semedo falava na sexta-feira à noite no Clube dos Pensadores, em Vila Nova de Gaia, onde antes, porém, reagiu ao novo pacote de austeridade que o primeiro-ministro português, Passos Coelho, anunciou através da televisão.

O dirigente bloquista considerou que o Governo, com as medidas anunciadas por Passos Coelho, «não está a cumprir o acórdão do Tribunal Constitucional».

«Está a contornar e a iludir o acórdão do Tribunal Constitucional», reforçou.

Após tomar posição sobre o anúncio feito pelo primeiro-ministro, João Semedo aceitou o desafio do fundador do Clube dos Pensadores, Joaquim Jorge, e explicou o que o BE faria «se fosse governo».

O dirigente bloquista advertiu que «qualquer uma das outras alternativas» para resgatar Portugal da crise acabará por conduzir à «necessidade inevitável do Governo negociar um segundo resgate».

«Nos próximos oito anos vamos ter de pagar 125 mil milhões de euros. Onde está esse dinheiro, quando a economia cada vez produz menos?», perguntou.

O BE defende que «é preciso inverter esta política e olhar para a dívida com coragem e com verdade».

«Não acreditamos que este Governo alguma vez faça isso e por isso defendemos a demissão do Governo», salientou.

Mas, observou também, «hoje, o Governo tem um poderoso sustentáculo, chama-se Cavaco Silva, que é o garante do Governo, o cimento e a cola que junta aquilo que se está a desagregar, com ministros do PSD para um lado e ministros do CDS para o outro».

«Mas por muito que o Presidente da República queira continuar a conservar o Governo, o Governo vai cair porque o país o rejeita, por não ser capaz de acomodar esta política», sustentou.

Semedo crê que, «se houver eleições, vai haver uma maioria de esquerda».

O coordenador do BE recordou que «há quem diga que os três partidos de esquerda não se entendem», por três razões: «o PS tem demasiadas tendências hegemónicas, PCP é demasiado sectário e o BE é demasiado radical».

«Estou de acordo com as duas primeiras», comentou, fazendo rir a plateia que o escutava.

João Semedo recordou que o BE propôs ao PS e ao PCP «listas conjuntas nas autarquias», mas sem êxito.

A respeito dessa questão, disse que «aquilo que está verdadeiramente em aberto na esquerda portuguesa é saber se o eixo de uma alternativa política em Portugal está hoje no PS ou se está à esquerda do PS».

«Acho que vai estar à esquerda do PS», considerou.
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