Nascido no Porto a 31 de Janeiro de 1927, José Fernandes-Fafe licenciou-se em Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
De Coimbra, ficou-lhe para toda a vida uma paixão pela cidade e pela Académica, clube de que era sócio e fervoroso adepto.
Poeta e ensaísta, foi desde cedo colaborador nas revistas Vértice, Gazeta Musical e de Todas as Artes, Seara Nova, Portucale, Cadernos do Meio-Dia e Notícias do Bloqueio.
Em 1959, uma visita ao México com a mulher Maria Virgínia cimentou-lhe o interesse e curiosidade pela América Latina. Seria assim convidado pelo amigo Mário Soares, então ministro dos Negócios Estrangeiros, para assumir o cargo de embaixador em Havana, após o 25 de Abril.
Antes disso, José Fernandes-Fafe escrevera a primeira biografia de Ernesto Che Guevara ("De Cuba al Terzo Mondo"), editada em Itália pela Mondadori em finais da década de 60 e sob o pseudónimo de David Alport.
Depois de Cuba, enquanto diplomata do Portugal revolucionário - onde privou constantemente com Fidel Castro e o seu irmão e atual presidente, Raul - José Fernandes-Fafe representou ainda Portugal no México (1977-1980), Cabo Verde (1983-1989) e Argentina (1989-1992), tendo sido embaixador itinerante para os países africanos de expressão oficial portuguesa.
Dedicado sempre aos livros, à escrita e à leitura, foi autor de "A Esquerda, a nova e a eterna", que muitos consideram como uma obra seminal da chamada "Esquerda Liberal" portuguesa.
Já o seu livro "Fidel por José Fernandes Fafe" é tido como um dos mais completos perfis publicados sobre o líder cubano.
Uma das suas últimas obras é o ensaio "A Colonização Portuguesa e a Emergência do Brasil". A edição brasileira, publicada em 2012, conta com um prefácio do antigo presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e um posfácio da autoria de Mário Soares.
No dia em que cumpriu 90 anos, a 31 de janeiro, o embaixador Fernandes-Fafe ofereceu numa cerimónia pública, mais de cinco mil dos seus livros à biblioteca municipal de Cascais. Foi nessa oportunidade que contou mais algumas das inúmeras histórias que frequentemente partilhava da sua longa vida e da intensa carreira diplomática. Incluindo a nota, lembrada de uma tarde em Havana numa recepção, nos idos da década de 70, de que, ao ver o líder cubano num baile, concluiu que "Fidel Castro não sabia dançar”
O corpo do embaixador José Fernandes-Fafe estará em câmara ardente na Igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres, em Lisboa, a partir das 19:00 desta segunda-feira. Será cremado na terça-feira, às 15:00, no cemitério dos Olivais.