A campanha do lombo assado agora é light, mas foi atingida pelo furacão “Tancos” - TVI

A campanha do lombo assado agora é light, mas foi atingida pelo furacão “Tancos”

  • Sofia Santana
  • 4 out 2019, 03:35
António Costa no Porto

A campanha do PS agora é light: tanto na alimentação como na agenda. Desta vez, um “furacão” chamado Tancos veio agitar as águas socialistas e uma ideia “proibida” andou a pairar como uma nuvem: a maioria absoluta, perdão, a maioria "de valor reforçado"

Longe vai o tempo em que a intensidade da campanha fazia percorrer o país de lés a lés em poucos dias. Longe vai o tempo dos muitos jantares-comícios, com o clássico prato de lombo assado. A campanha do PS agora é light: tanto na agenda, com poucas ações de campanha, que praticamente se restringiram ao litoral, como na alimentação, pois houve apenas dois almoços-comícios e, espante-se, nem sequer se comeu carne assada. Desta vez, um “furacão” chamado Tancos veio agitar as águas socialistas e uma ideia “proibida” andou a pairar como uma nuvem: a maioria absoluta, perdão, a maioria "de valor reforçado".

Nestas duas semanas de campanha eleitoral que agora chegam ao fim, António Costa passou por dez distritos e quase todos se localizam no litoral: Aveiro, Braga, Coimbra, Faro, Lisboa, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Viseu.

Embora os dirigentes socialistas considerem que o partido tenha começado a fazer campanha um pouco antes, com o secretário-geral socialista a visitar territórios do interior, a verdade é que no período oficial da campanha, que é quando há um maior mediatismo, que é quando as agendas partidárias ganham maior exposição, o líder do PS andou quase sempre pelo litoral e o mais interior a que rumou foi Viseu e Santarém.

E estes dias de campanha pelo litoral foram servidos em modo menu “light”, que é como quem diz, pouco preenchidos, apenas com duas ou três ações de campanha. A justificação foi dada pelo próprio António Costa: este ano, e ao contrário do que aconteceu em 2015, já não é secretário-geral a tempo inteiro e tem funções governativas a cumprir. “Em 2015 era secretário-geral socialista a tempo inteiro, agora tenho as minhas funções governamentais, que tenho de cumprir", explicou,

Por outro lado, também não houve muitas arruadas, mas, questionado pelos jornalistas, o candidato a primeiro-ministro desvalorizou o assunto, considerando que os contactos com a população foram “excelentes em todos os pontos do país”. A verdade é que, com exceção da arruada em Cacilhas e da arruada na Avenida Duque d’Ávila, em Lisboa – que tiveram pouca história – o líder do PS mostrou-se sempre muito comunicativo com os populares, acedendo a beijinhos e a selfies, ouvindo desabafos, prometendo analisar problemas concretos.

A campanha foi light, sem o frenesim de outras épocas, mas foi agitada por um “furacão” chamado Tancos, o caso que a direita usou para apontar baterias e realizar duros ataques contra o PS.

É que nestes dias, foi conhecida a acusação contra o antigo ministro socialista Azeredo Lopes, saíram notícias a envolver o Presidente da República, houve espaço para teorias da conspiração e até José Sócrates entrou em cena, em defesa de Costa.

Ora, por muito que o secretário-geral socialista quisesse Tancos fora da campanha, o caso acabou por ensombrar os dias da caravana do PS e a estratégia usada por Costa foi clara: minimizar os danos, fugindo ao assunto, escudando-se no argumento de que se trata de um tema de Justiça. O candidato a primeiro-ministro até usou um furacão real, que atingiu os Açores, para fintar os jornalistas e contornar as perguntas.

Houve um momento, porém, em que o líder do PS se viu obrigado a reagir: quando Rui Rio considerou “pouco crível” que o primeiro-ministro não soubesse que havia um encobrimento. Costa respondeu à letra e, com palavras duras, reiterou que Rio “atingiu a dignidade da campanha”. Mais, disse que não reconhecia ao líder da oposição “autoridade para fazer julgamentos morais”. Este foi o ponto quente da campanha, o momento em que as trocas de farpas subiram de tom.

Mas para além do Costa vs Rio houve outro duelo aceso nesta campanha: o duelo Centeno vs Rio. Em Setúbal, naquele que foi o discurso mais acalorado da campanha socialista, o ministro das Finanças e candidato a deputado por Lisboa comparou Rio a um “comerciante sem escrúpulos que sobe o preço antes da época de saldos”, acusando-o de “um truque baratucho que normalmente acaba em liquidação total”.

Antes, Centeno já tinha dado uma conferência de imprensa no Largo do Rato para desconstruir os números do cenário macroeconómico do PSD. E o social-democrata, por sua vez, chegou a acusar o ministro de “baralhar os números de forma ridícula” só para “enganar as pessoas”.

Se é certo que a direita foi a mais visada nas críticas dos socialistas, também o é que a esquerda não foi poupada.

Ainda a campanha não tinha começado e já pairavam as dúvidas sobre a saúde da “geringonça”, com o clima de crispação entre Costa e Catarina Martins, a coordenadora do BE.

Com os comícios, chegaram novos ataques contra aos parceiros parlamentares: Augusto Santos Silva avisou para o “poder desmedido da esquerda”, Manuel Alegre afirmou que o PS não precisa de “professores de esquerda” e Centeno defendeu que “não é solução entregar o país” a quem não trabalha em prol da “credibilidade” do país, a quem defende “saídas do euro”. 

Mas de Costa não se ouviram recados para os parceiros. E quando a geringonça voltou a funcionar no Parlamento - PS, BE, PCP e PEV assinalaram a mesma posição quanto à reunião da Comissão Permanente sobre Tancos, em conferência de líderes – o líder do PS limitou-se a responder: “a geringonça funcionou sempre desde o primeiro dia".

O que também não se ouviu nesta campanha foi uma espécie de expressão proibida, mas cuja ideia andou a pairar como uma nuvem sobre os discursos: a maioria absoluta. Recorde-se que as sondagens têm dado a vitória ao PS, mas longe da maioria absoluta.

Costa apenas repetiu os apelos à mobilização do eleitorado para uma “maior força do PS”, mas Carlos César foi mais longe e pediu uma “maioria de valor reforçado”. Depois, Jorge Coelho também entrou na campanha para apelar a um “domínio magnífico” do partido nas eleições.

No final, o luto caiu sobre a campanha com a morte de Freitas do Amaral, fundador do CDS e considerado um dos pais da democracia protuguesa. A morte gerou muitas reações políticas e, no caso do PS, apesar de não ter havido cancelamento de eventos, as ações de campanha marcadas para esta quinta-feira decorreram sem música. No comício em Setúbal, houve mesmo um minuto de silêncio em sua memória.  

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