PS, PCP e BE concordaram na quinta-feira à noite com o derrube do Governo, mas os socialistas insistiram na ideia da renegociação do processo de ajustamento, enquanto bloquistas e comunistas exigiram a rutura com a troika.
Estas posições ficaram patentes nos discursos proferidos pelo socialista Ramos Preto, pela bloquista Cecília Honório e pelo comunista João Ferreira na conferência «Libertar Portugal da austeridade», dinamizada pelo ex-Presidente da República Mário Soares, que encheu a Aula Magna de Lisboa.
Com várias figuras do PS na plateia, como o ex-ministro Pedro Silva Pereira e o ex-secretário-geral Ferro Rodrigues, o deputado socialista Ramos Preto considerou que o Governo se serviu do memorando e usou o seu texto «fora do contexto em que foi assinado como um pretexto para ir além da troika sem qualquer embaraço, violando o seu contrato eleitoral».
«O Governo e a troika decidiram não ouvir o PS e os resultados estão à vista: destruição de 458 mil postos de trabalho, dívida pública a atingir 127% do Produto Interno Bruto, défice em clara derrapagem, espiral recessiva e dificuldade em cumprir os compromissos junto dos credores», referiu Ramos Preto.
O socialista defendeu que há um caminho alternativo, tendo como base um novo governo legitimado por eleições e «a renegociação das condições de ajustamento, que dê sentido ao esforço nacional dos portugueses».
«Este Governo viola as suas promessas eleitorais e executa um programa para o qual não tem mandato. Deixou de ter legitimidade de exercício e só há uma maneira de reconduzir o país: ouvir o povo através de eleições livres», salientou.
Em representação do Bloco de Esquerda, a deputada Cecília Honório defendeu que o «fim da ditadura dos credores» só acabará com uma solução à esquerda.
«A chantagem da dívida exige convergências populares. Qualquer proposta de manutenção do memorando produzirá um governo ainda pior do que o atual», disse, num recado dirigido a alguns setores do PS.
Para Cecília Honório, só um governo de esquerda será capaz de desenhar um novo mapa político.
«O que foi roubado terá de ser devolvido, a proteção legal destruída tem de ser recuperada», advogou a dirigente do Bloco de Esquerda, recebendo palmas da plateia.
Mais clara foi a demarcação do eurodeputado comunista João Ferreira face à linha política assumida pela atual direção do PS.
«No atual contexto, a alternativa passa, tem de passar, por uma política patriótica de esquerda e por um governo que a concretize. Uma política patriótica que recuse a ideia atávica de que a solução para os nossos problemas sempre dependerá de terceiros, ou pior, a ideia de que essa solução passa por aprofundar os caminhos que nos conduziram a muitos desses problemas», disse, numa crítica à via federalista europeia.
Para João Ferreira, pelo contrário, a alternativa deve «recuperar imprescindíveis instrumentos de soberania económica, monetária e orçamental, propondo vencer atrasos, bloqueios e défices crónicos do país».
«Uma política patriótica e um Governo patriótico que rejeite de imediato o programa da troika, subscrito por PS, PSD e CDS, e que encete uma renegociação da dívida pública, nos seus montantes, juros, prazos e condições de pagamento», apontou ainda o responsável do PCP.
«Vim de Coimbra para dizer basta», declarou a líder da associação de Aposentados Pensionistas e Reformistas (APRE), Maria do Rosário Gama, independente, que discursou imediatamente a seguir ao ex-Presidente da República Mário Soares.
Maria do Rosário Gama acusou o Governo de ser subserviente em relação aos «desejos» da troika e de permitir que o poder financeiro imponha as suas regras, concentrando o capital.
PS, PCP e BE unidos na demissão do Governo
- Redação
- PP
- 31 mai 2013, 08:45
Mas a esquerda não está unida. Socialistas insistem na ideia da renegociação, enquanto bloquistas e comunistas exigem rutura com a troika
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