Rio Frio «ganhou» sempre à Ota - TVI

Rio Frio «ganhou» sempre à Ota

Imagem aérea de Rio Frio [arquivo]

PDiário: Guterres optou pela Ota para construir o Novo Aeroporto de Lisboa. Até então, em três ocasiões diferentes, desde 1969, Rio Frio levou sempre vantagem. Mesmo após decisão política estar tomada, vários consultores consideraram local em Palmela a melhor opção. Saiba porquê

Rio Frio foi a localização eleita para a construção do Novo Aeroporto de Lisboa em três ocasiões diferentes. A decisão tomada em 1999, pelo governo de António Guterres e a ministra do ambiente Elisa Ferreira, é solitária e contrária às anteriores.

Reis Borges, conselheiro de Obras Públicas e Transportes jubilado, confirma em declarações ao PortugalDiário, ter participado em algumas dessas decisões. Um motivo que o leva, actualmente, a questionar a escolha da Ota. Até porque, «os próprios estudos encomendados pela NAER, agora divulgados, referem que Rio Frio era uma escolha mais acertada».

«Em 1969, Rio Frio foi escolhida pelo Conselho Superior de Aeronáutica, com estudos produzidos pelo Estado Novo, que apontavam para que esta fosse a melhor opção. Em 1982, numa reanálise de todo o processo realizada pela consultora Tames Pró-Fabril, Rio Frio volta a ser referida. Em 1994, a ANA faz uma nova análise e compara três localizações: Ota, Montijo e Rio Frio. Rio Frio volta a ser escolhido», relembra o especialista em planeamento aeroportuário.

Em 1999, surge a questão ambiental que afasta em definitivo Rio Frio e torna peremptória a escolha da Ota. «Foi engendrada a questão ambiental, com a alegação de que a União Europeia não financiaria parte do projecto», acusa Reis Borges que acrescenta ainda que se a «Europa deu 48 milhões para o aeroporto de Atenas, dariam o mesmo para Portugal».

«Além das limitações técnicas da Ota, Rio Frio é cem milhões de contos mais barato», explica o engenheiro, que garante que todos estes dados estão nos estudos encomendados pela NAER e que foram tornados públicos durante a apresentação do Governo do Novo Aeroporto de Lisboa, no final do ano passado.

Isso mesmo foi confirmado pelo PortugalDiário num estudo, de Agosto de 1999, realizado por «ADP - Aeroports de Paris» em conjunto com «Pret - Profabril Engenharia de Transportes», e onde se pode ler que «como todos os estudos realizados desde 1969, o nosso estudo de síntese põe à cabeça o sítio de Rio Frio, que é satisfatório em relação à maioria dos critérios, excepto o ambiente "natural"». O estudo estará a referir-se à existência de montado de sobro, que garante a produção de cortiça.

E, perante essa escolha, o «consultor propõe a orientação de pista 08/26N, que conduz, decerto, a uma pequena degradação de certas qualidades do sítio, mas pode permitir uma compatibilidade permanente com os sítios militares e uma inserção menos penalizante no meio natural».

Mas como a escolha já tinha sido feita, o relatório do «Aeroports de Paris» termina com esta conclusão: «Perante a escolha da Ota pelo poder político, a 5 de Julho de 1999, a única recomendação que [o consultor] pode formular concerne a viabilidade do sítio da Ota e esta é favorável».

Reis Borges considera que o actual aeroporto de Lisboa «não tem futuro» e reconhece a necessidade de uma nova infra-estrutura. Mas critica quem deixou edificar nos terrenos circundantes ao actual aeroporto, na Portela, apesar de existir «um decreto aeronáutico, com 30 anos - 48/452 -, que nunca foi revogado e que impõe restrições à construção».

Perante a falta de dados que o especialista considera fundamentais para se optar por uma localização para o Novo Aeroporto de Lisboa, Reis Borges não tem dúvidas em questionar os verdadeiros motivos que levaram à opção Ota. A especulação imobiliária dos terrenos «parece-lhe pouco» e questiona: «Será que tudo isto é para urbanizar Rio Frio?».

[Saiba mais sobre este assunto na terça-feira]
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