O antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro anunciou hoje que está disponível para ser “de imediato” candidato à liderança do partido, desafiando Rui Rio a marcar eleições diretas já e a apresentar a sua própria candidatura.
“Se [Rui Rio] tem mesmo Portugal à frente de tudo, mostre coragem e não hesite em marcar estas eleições internas, não tenha medo do confronto, não se justifique atras de questões formais, o tempo é de confronto político”, afirmou, num desafio direito ao líder do PSD, numa declaração sem direito a perguntas no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
“Não me resigno a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica”, justificou o antigo deputado.
Numa declaração de pouco menos de 20 minutos e com alguns apoiantes anónimos - à exceção do ex-líder parlamentar Hugo Soares e do presidente da Câmara de Espinho, Joaquim Pinto Moreira -, Luís Montenegro quis assumir-me como um opositor do primeiro-ministro.
“Estou aqui para dizer ao país que precisamos de um Governo novo e de um novo primeiro-ministro, estou aqui para ser o adversário que o dr. António Costa não teve ao longo do último ano”, afirmou.
Para o antigo líder parlamentar, o confronto com Rio “não é um combate pessoal, mas um confronto entre duas estratégias”.
“De um lado, Rui Rio com a ideia de um partido pequeno, perdedor, satélite de António Costa, sem agenda reformista, do outro, a estratégia que defendo, assente na ideia de um PSD grande, ganhador, com vocação maioritária, autónomo do PS, independente e crítico do primeiro-ministro António Costa”, definiu.
A dois dias de Rio completar um ano de mandato, Montenegro fez um balanço muito crítico, considerando que o estado a que o PSD “é mau, é preocupante e é irreversível com esta liderança”.
“O Dr. Rui Rio prometeu fazer do PSD uma alternativa de oposição firme ao Governo e falhou”, afirmou, considerando que os portugueses têm assistindo no último ano “a um desfile de António Costa” e apenas veem “um PSD frouxo na oposição”.
“Não há uma crítica do dr. Rui Rio ao dr. António Costa, tal como preveni no Congresso, esta estratégia colocou o PSD como muleta do PS e Rui Rio como bengala de António Costa”, argumentou.
Para o antigo líder parlamentar do PSD, Rio falhou também no desafio de unir o partido.
“Além de falhar, foi instigador do confronto interno, hostilizando quadros e estruturas do PSD numa lógica maniqueísta e de divisão entre bons e maus, o que é inadmissível”, criticou.
Montenegro acusou ainda Rio de ter falhado a promessa de “fazer o PSD subir nas sondagens” para valores de 24 ou 25% “que não existiam no PSD há dezenas de anos”.
“Rio prometeu levar o PSD a ganhar eleições e em vez disso resignou-se e deitou a toalha ao chão”, lamentou.
"Brutal” alteração de circunstâncias
Luís Montenegro justificou a sua candidatura à liderança do PSD a meio do mandato de Rio com uma “grave e brutal” alteração de circunstâncias, defendendo ser necessário salvar o partido “do abismo” e prometendo “um tempo de esperança”.
Numa declaração no Centro Cultural de Belém, o antigo líder parlamentar social-democrata recordou ter sempre defendido que “os mandatos devem ir até ao fim”, acrescentando que mantém essa posição “em circunstâncias normais”.
“Mas já não estamos a viver uma situação normal. Houve uma brutal e grave alteração de circunstâncias em relação à eleição de há um ano (…) É preciso e urgente mudar este estado de coisas, é preciso salvar o PSD do caminho para o abismo em que ele está mergulhado”, justificou.
Para Montenegro, “há um ano ninguém admitia esta queda enorme do PSD nas sondagens” nem que “o PSD estivesse a caminho de uma das derrotas mais humilhantes da sua história”.
“Face a este estado de coisas, sinto a responsabilidade de sair da minha zona de conforto. Não me resigno a esta situação, não me resigno a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica”, afirmou.
Luís Montenegro admitiu que “outros” – sem nomear - poderão preferir o caminho de “queimar o líder em lume brando, à espera de melhor oportunidade”.
“Não é essa a minha forma de agir, não me revejo na ideia de quanto pior melhor”, afirmou, dizendo ser mais “saudável, e sobretudo útil para o país e para o partido, pôr tudo em pratos limpos”.
Na apresentação, onde estiveram presentes alguns apoiantes anónimos – exceção feita ao deputado Hugo Soares e ao autarca da Espinho Joaquim Pinto Moreira -, Montenegro prometeu “galvanizar os portugueses em torno de um tempo de esperança”, dirigindo-se a empresários, trabalhadores, reformados e jovens.
“Numa palavra, um tempo de esperança que atinja a vida das pessoas, conferindo mais bem-estar, mais oportunidade de subirem na vida, que imponha um travão à exaustão fiscal das famílias e das empresas, que assegure uma administração enxuta meritocrática e centrada no serviço aos cidadãos”, afirmou.
Montenegro defendeu ainda uma “sociedade e economia livres de dependências e privilégios injustificados” e uma política concentrada “na nobreza de servir o interessa nacional de forma livre, transparente e incorruptível”.
“Fui sempre e sou um homem totalmente livre, estou de bem com a vida, disse que se for preciso estar cá, cá estaria e cá estou, disse que se sentisse que devia avançar não ia pedir licença a ninguém e não pedi. Estou aqui porque quero estar, mas sobretudo porque sinto que devo estar”, assegurou.
Recebido em Belém
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai receber o social-democrata Luís Montenegro, que quer disputar a liderança do PSD, a pedido deste, na segunda-feira.
Esta informação foi avançada à agência Lusa por fonte da Presidência da República, que adiantou que o encontro terá lugar no Palácio de Belém, em Lisboa.
Esta sexta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se com o presidente do PSD, Rui Rio, num hotel do Porto.
À saída do encontro com o Presidente da República, questionado se foi Marcelo Rebelo de Sousa quem pediu o encontro, Rui Rio respondeu: "Sim, sugeriu-me este encontro e eu com todo o gosto aqui estive".