"Extrema-esquerda não existe mais em Portugal", diz Marcelo - TVI

"Extrema-esquerda não existe mais em Portugal", diz Marcelo

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  • 16 abr 2018, 19:41

Presidente da República respondia a uma pergunta sobre migrações e refugiados, numa conversa com alunos universitários, em Madrid, em que falou sobre o "equilíbrio difícil" da atual governação portuguesa

O Presidente da República defendeu esta segunda-feira que "a extrema-esquerda não existe mais em Portugal", durante uma conversa com alunos universitários, em Madrid, em que falou sobre o "equilíbrio difícil" da atual governação portuguesa.

Marcelo Rebelo de Sousa respondia a uma pergunta sobre migrações e refugiados, numa conferência sobre "Portugal e Espanha: Europa e América Latina", na Universidade Carlos III, na capital de Espanha, onde se encontra em visita de Estado.

Na resposta, em castelhano, o chefe de Estado reiterou a mensagem de que no espectro político português há "uma unanimidade absoluta" quanto à abertura aos refugiados e, a este propósito, afirmou que Portugal não tem extrema-direita.

Mesmo a extrema-esquerda não existe mais em Portugal. Há a esquerda mais ambiciosa nas suas posições", acrescentou o Presidente da República, sem se alongar mais sobre este tema.

Estavam presentes na sala a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, e os deputados que o acompanham nesta visita ao Reino de Espanha: Carla Barros, do PSD, Luís Testa, do PS, António Carlos Monteiro, do CDS-PP e Rita Rato, do PCP – o Bloco de Esquerda optou por não se fazer representar.

Apesar de no domingo à noite, à chegada a Madrid, Marcelo Rebelo de Sousa ter declarado que não iria "falar de questões portuguesas" em Espanha, hoje comentou o atual quadro político nacional, nesta conversa com estudantes, e elogiou a procura de um "equilíbrio difícil" entre consolidação orçamental e preocupações sociais.

Segundo o Presidente da República, "Portugal tenta, busca apresentar uma via de equilíbrio – até hoje, com bons resultados", o que "é muito bom para Portugal, é muito bom para os portugueses".

Por outro lado, em resposta a uma pergunta sobre a União Europeia, voltou a apresentar-se como "um otimista realista" e apelidou o primeiro-ministro, António Costa, de "um radical otimista".

O primeiro-ministro português "é sempre mais otimista, todos os dias diz: que maravilha, vai ser um dia sem nuvens, maravilhoso", descreveu. "Eu digo: depende".

"No entanto, em relação à Europa, temos de ser exigentes, mas otimistas, e voluntaristas", defendeu.

Na sua intervenção inicial, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que "2018 será um ano marcado na América Latina por importantes atos eleitorais" – o Brasil vai eleger o novo Presidente em outubro – e advertiu para "a importância das lideranças e da sua qualidade, perseverança e adesão aos ideais das sociedades livres e democráticas".

Sem mencionar nenhum país em concreto, falando da América Latina e da Europa em geral, o chefe de Estado disse que é preciso haver "constituições fortes e lideranças fortes, baseadas no respeito pelo Estado de direito", e sugeriu uma reflecção sobre como adaptar "sistemas políticos que são atrasados".

"Não será ignorando a força da mudança que a conseguiremos deter", aconselhou.

Elogio ao "equilíbrio difícil" da governação 

Questionado por uma aluna, na Universidade Carlos III, sobre o "sucesso da recuperação" económica de Portugal, o Presidente da República considerou hoje que o páis tem uma "governação de legislatura", embora "com tensões", que busca "um equilíbrio difícil" entre consolidação orçamental e preocupação social, com "bons resultados" até agora, "muito bom" para o país.

É um equilíbrio difícil. Há os que dizem: é demasiada redução do défice. Há os que dizem: é demasiada preocupação social. O equilíbrio, nesta situação, é uma prova de vivência e maturidade democrática. É possível, na Europa, ter diferentes vias para a construção do equilíbrio financeiro. São diferentes, são diversas, umas à direita, outras à esquerda", afirmou. "Então, Portugal tenta, busca apresentar uma via de equilíbrio – até hoje, com bons resultados. Isto é muito bom para Portugal, é muito bom para os portugueses", acrescentou.

Na resposta, avisando que iria falar no seu "péssimo castelhano", o chefe de Estado começou por recusar que se veja essa evolução económica recente como "um milagre", contrapondo que resulta do "trabalho de dois governos" e também de "causas externas".

Marcelo Rebelo de Sousa centrou-se, depois, no "trabalho deste Governo, com a redução do défice, da dívida pública, com condições para o crescimento, para o emprego, para a justiça social, e também com a estabilidade política e social".

Referindo que os portugueses, "com os seus sacrifícios, criaram as condições para esta evolução económica", prosseguiu: "É isto um exemplo de democracia? É um exemplo de democracia, porque se faz com estabilidade política, com uma governação de legislatura, de quatro anos, com uma preocupação de estabilidade económica e social – com tensões que são próprias da democracia".

Perante a plateia composta, sobretudo, por estudantes de mestrado, o Presidente da República descreveu o atual quadro político nacional dizendo que "há um Governo minoritário, com apoio parlamentar maioritário, há duas oposições fortes".

Há uma preocupação de equilibrar o que é necessário para a redução do défice com a justiça social" e de "de recuperação do que foi sacrificado durante os anos da crise: quatro anos e meio de crise", acrescentou, concluindo: "É um equilíbrio difícil".

Apelo a discussão “urgente” sobre futuro da Europa

Na universidade madrilena, Marcelo Rebelo de Sousa apelou ainda aos europeus para discutirem e decidirem nos próximos nove meses sobre que futuro querem para o seu continente que está dividido entre democratas e movimentos populista e xenófoba.

Debater que Europa que queremos no futuro é essencial” e “urgente”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa em resposta a uma pergunta.

Para Marcelo Rebelo de Sousa “há seis meses, nove meses” no máximo para fazer essa discussão, antes do início de várias campanhas eleitorais, sendo uma delas as eleições para o Parlamento Europeu na primavera de 2019.

“É muito curto, mas não podemos perder esta oportunidade única e irrepetível”, insistiu o Presidente português, alertando que sem esse debate haverá “duas Europas, múltiplas Europas. Uma democrática e outra populista, xenófoba, fechada, musculada e muito pouco democrática”.

Numa plateia na sua maioria composta por jovens estudantes universitários, Rebelo de Sousa defendeu que esta discussão é “essencial”, sobretudo para a juventude.

Na resposta à pergunta seguinte, o chefe de Estado voltou a sublinhar que a Europa está dividida também quanto à imigração que chega de fora das suas fronteiras, sendo a posição de Portugal de “abertura” a este tipo de movimentos de pessoas.

A Europa é velha e ganha com a imigração”, “não há europeus puros”, “todos os europeus são uma mistura” e “aceitar isto é aceitar o que é importante”, uma sociedade multicultural, disse Marcelo Rebelo de Sousa, que acrescentou que em Portugal “todos aceitam este princípio”.

O Presidente criticou os Estados-membros europeus que se manifestaram contra os refugiados, considerando que a sua posição é “a negação da democracia na Europa”.

Marcelo sublinhou que o debate sobre o “futuro da Europa” é “muito difícil” e que seria “desejável” haver uma “posição comum” dos Estados-membros, não descartando também a possibilidade de impor “limites” à imigração.

Mais à frente, o Presidente manifestou-se contra os que defendem a criação de um “núcleo duro” de alguns Estados-membros, com o continente dividido em vários grupos de países.

“Não é bom” porque “é a negação da democracia”, concluiu Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República iniciou esta segunda-feira uma visita de Estado de três dias a Espanha.

 

 

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