Incêndios: Presidente da República diz que ainda há muito a fazer pela coesão territorial - TVI

Incêndios: Presidente da República diz que ainda há muito a fazer pela coesão territorial

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  • 17 jun 2020, 13:54

Marcelo Rebelo de Sousa assistiu às celebrações religiosas que assinalaram os três anos da tragédia que vitimou 66 pessoas

O Presidente da República reconheceu esta quarta-feira, em Figueiró dos Vinhos, que ainda há muito a fazer em matéria de coesão territorial nos concelhos mais afetados pelos incêndios de Pedrógão Grande de 17 de junho de 2017.

Marcelo Rebelo de Sousa, que assistiu naquele concelho do distrito de Leiria às celebrações religiosas que assinalaram os três anos da tragédia que vitimou 66 pessoas, disse que "todos desejaríamos" que o desenvolvimento socioeconómico dos territórios afetados "aparecesse mais rápido e pujante".

Isso nem sempre aconteceu, apesar dos esforços feitos e, portanto, temos de reconhecer que há muito mais a fazer, aqui em particular, pela coesão territorial, que é uma aposta de futuro", salientou o chefe de Estado.

Em 17 de junho de 2017, deflagrou em Pedrógão Grande um incêndio florestal, que depois alastrou aos municípios vizinhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Sertã, Pampilhosa da Serra e Penela, que fez 66 mortos e 254 feridos.

Para o Presidente da República, os incêndios de junho de 2017 representaram uma "lição de coesão territorial", na medida em que serviu de "chamada de atenção para tantos portugueses que vivem longe e passaram a perceber e a entender um pouco melhor as desigualdades, as assimetrias, a situação tão discriminada, em termos económicos e sociais, de parcelas do território nacional".

Questionado sobre o que foi feito nestes três anos nos concelhos afetados, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que houve "uma reflexão profunda, um debate no parlamento, mudança na legislação e medidas tomadas", salientando que o "problema é o terreno, que é feito por pessoas de carne e osso com realidades económicas e sociais".

Os condicionamentos económicos e sociais acabam por tornar mais difícil a aplicação de medidas. Onde há desenvolvimento económico e social é mais fácil haver maior rapidez na resposta ao ordenamento do território, onde não há [essa capacidade] é mais lenta a resposta", sublinhou.

Sobre a reforma da floresta e a falta de ordenamento que ainda se verifica, o Presidente da República disse que se trata de uma "questão longa, por razões culturais, económicas, sociais e demográficas, e mais difícil em áreas mais pobres e envelhecidas, porque exige meios para ser posta no terreno que são exigentes e complicados".

Finalmente, vai-se aprendendo no tempo que a única maneira de combater e prevenir certas situações passa pelo desenvolvimento económico e social das regiões, que fica, muitas vezes, aquém daquilo que desejaríamos", acrescentou.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a segurança dos territórios é um "desafio constante", por muito que se vá reformando a floresta, que "é um processo lento".

Se não houver desenvolvimento económico e social, estruturas estáveis que permitam prevenir, se não houver uma população com dinamismo e que permita a criação de estruturas que não são só de prevenção, esse desafio continua presente na nossa vida, que não deixa de estar na cabeça dos responsáveis", reforçou.

O chefe de Estado assistiu às cerimónias religiosas acompanhado dos ministros da Administração Interna e da Coesão Territorial e depois foi visitar o bombeiro Rui Rosinha, de Castanheira de Pera, ferido no combate aos incêndios, bem como as corporações daquele concelho e de Pedrógão Grande, com uma paragem na aldeia de Nodeirinho, junto ao memorial das vítimas.

Xavier Viegas diz que ainda falta fazer muito trabalho estrutural

O especialista no tema dos incêndios florestais Xavier Viegas disse, em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, que falta ainda fazer muito trabalho no âmbito da prevenção estrutural da floresta.

"Creio que se andou algum caminho, fez-se algumas coisas, mas realmente falta muito, sobretudo na parte da prevenção estrutural", disse o investigador aos jornalistas.

Segundo o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) da Universidade de Coimbra, Portugal está "melhor em termos de planeamento, de motivação em termos de organização”, mas ainda há “apreensões e preocupações sobre o que pode vir a acontecer de um momento para o outro se as condições foram mais graves".

O perito, que fez dois relatórios sobre os incêndios de Pedrógão Grande e de 15 de outubro de 2017, salientou que podem voltar a existir condições climáticas como as que se verificaram nesse ano, considerando que não se pode aceitar "é que se repita a tragédia, nomeadamente nestes territórios".

"A sociedade está mais sensibilizada e os cidadãos mais precavidos, com mais atenção ao risco de incêndio na floresta, mas há ainda um caminho a percorrer, nomeadamente de maior interligação entre as instituições", sublinhou.

No entanto, Xavier Viegas mostrou-se apreensivo com a falta de respostas no terreno.

"Temos visto muitos planos, muitas leis, muitas intenções, mas na verdade ainda alguma falta de concretização de várias das medidas. De há três anos para cá já era de esperar que estivessem concretizadas", frisou.

Marcelo Rebelo de Sousa considera bombeiros uma estrutura insubstituível

O Presidente da República considerou hoje, em Pedrógão Grande, que não existe nenhuma estrutura na sociedade portuguesa que se possa substituir aos bombeiros.

Não há estrutura de proteção civil, por muito sofisticada que seja, com outros corpos, outras instituições, outras estruturas, que substituam os bombeiros", disse Marcelo Rebelo de Sousa, numa visita à corporação de bombeiros daquele concelho do distrito de Leiria.

Na visita aos bombeiros de Pedrógão Grande, após as cerimónias religiosas realizadas em Figueiró dos Vinhos, o presidente da República elogiou o papel "cada vez mais importante" dos soldados da paz, sobretudo o voluntariado que é insubstituível.

Em 17 de junho de 2017, deflagrou em Pedrógão Grande um incêndio florestal, que depois se alastrou aos municípios vizinhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Sertã, Pampilhosa da Serra e Penela, fazendo 66 mortos e 254 feridos.

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