Marcelo a pensar em Fidel chega a Cuba com "grande curiosidade" - TVI

Marcelo a pensar em Fidel chega a Cuba com "grande curiosidade"

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República inicia visita de Estado de dois dias com a expetativa de poder encontrar-se com o lendário líder cubano, que acompanha "desde adolescente"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, contou esta quarta-feira que desde adolescente acompanha à distância a figura de Fidel Castro, que no seu entender assinala "um certo tempo", e afirmou que chega a Cuba com "grande curiosidade".

O chefe de Estado falava aos jornalistas num voo de Paris para Havana, Cuba, onde aterrou perto das 20:30 de terça-feira, hora local (01:30 em Lisboa), para uma visita de Estado que vai decorrer entre estas quarta e quinta-feira e pode incluir um encontro com Fidel Castro.

"Eu nunca estive em Cuba", declarou Marcelo Rebelo de Sousa. "Não escondo que tenho uma grande curiosidade", acrescentou, referindo que planeou várias vezes uma viagem a esta ilha das Caraíbas, mas nunca chegou a visitá-la.

Quanto ao encontro com o líder histórico cubano Fidel Castro, que poderá acontecer esta quarta-feira à tarde, o Presidente da República não o deu como certo: "Veremos se se confirma ou não".

Fidel Castro, que está com 90 anos, afastou-se do poder em 2006 por motivos de saúde, depois de quase meio século na chefia do Estado e do Governo de Cuba.

De acordo com o Presidente da República, esse possível encontro "é mais um aspeto pessoal, da experiência de encontrar alguém que, à sua maneira, era conhecido pelo jovem Marcelo Rebelo de Sousa, no tempo em que era adolescente".

Os jovens da sua geração "acompanhavam à distância" a figura de Fidel Castro, "uns concordando muito, outros discordando muito", disse.

"Como sabem, eu não era propriamente dos apoiantes, não direi da personagem em si mesmo, mas da política que representava. Em qualquer caso, há na vida personalidades com as quais concordamos ou não concordamos, mas que assinam um certo tempo, isso é um facto", acrescentou.

Questionado se imaginava algum dia encontrar-se com Fidel Castro, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: "Ah, não, isso eu não imaginava, pois se eu não imaginava ser Presidente da República".

Sobre Cuba, o antigo presidente do PSD disse que na juventude ouvia relatos de que o lugar "era lindíssimo" e que "era uma sensação diferente", por exemplo, pelos carros antigos nas ruas, consequência do embargo imposto pelos Estados Unidos da América.

O chefe de Estado disse que "depois havia também o interesse de ver como é que funcionava a realidade económica, política, social".

"Passaram muitos anos, isso já foi há muito tempo, e agora o interesse é completamente diferente. Há uma responsabilidade de Estado", ressalvou.

Nestas declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a comentar assuntos da política portuguesa, incluindo a decisão do Bloco de Esquerda de não participar nesta visita de Estado, invocando o facto de não estar em território nacional.

Agenda intensa que passa também por Colômbia e Brasil

Marcelo Rebelo de Sousa viajou para Havana na terça-feira em voos comerciais, com escala em Paris, mas o programa só começa esta quarta-feira.

O chefe de Estado português foi convidado por Raúl Castro para visitar Cuba e aproveita a deslocação à Cimeira Ibero-Americana que vai decorrer entre sexta-feira e sábado, em Cartagena das Índias, na Colômbia, para responder agora a esse convite.

De acordo com o programa divulgado, além da componente institucional, esta visita tem também uma vertente cultural e dá especial atenção às relações económicas, incluindo o encerramento de um Fórum Empresarial Bilateral Portugal-Cuba, organizado pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

Neste momento, Cuba atravessa um processo de gradual abertura económica e recentemente retomou relações diplomáticas com os Estados Unidos, que no entanto mantêm o embargo económico e financeiro iniciado há mais de meio século.

Esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa tem uma agenda intensa, mas com um espaço a seguir ao almoço, altura em que poderá decorrer o encontro com Fidel Castro, que não consta do programa oficial porque será reservado e depende do estado de saúde do antigo Presidente e primeiro-ministro de Cuba.

O Presidente da República começa a manhã com um passeio a pé pelo centro histórico de Havana, acompanhado pelo historiador Eusebio Leal, responsável pela reabilitação desta área da capital cubana.

A seguir, visita uma creche da organização não-governamental católica Padre Usera e inaugura uma biblioteca de língua portuguesa com o nome do escritor português Eça de Queirós, que foi cônsul nas antigas Antilhas Espanholas, entre 1872 e 1874.

Ao almoço, o Presidente da República encerra o fórum empresarial organizado pela AICEP, que antecede a 34.ª Feira Internacional de Havana (FIHAV), que pela primeira vez terá um pavilhão dedicado em exclusivo a Portugal.

A meio da tarde, Marcelo Rebelo de Sousa depõe uma coroa de flores no monumento nacional dedicado ao mártir da independência de Cuba em relação a Espanha José Martí.

Depois, é recebido com honras militares pelo Presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros de Cuba, Raúl Castro, com quem se reúne, seguindo-se um jantar oficial, no Palácio da Revolução.

Na quinta-feira, o programa do chefe de Estado inicia-se com uma visita à fábrica de charutos Cohiba (que substituiu no programa a visita ao Centro de Neurociências de Cuba, entretanto cancelada) e prossegue com uma intervenção numa conferência sobre "Portugal e a América Latina", na Universidade de Havana.

Antes de viajar para a Colômbia, Marcelo Rebelo de Sousa está presente numa receção a emigrantes portugueses e de outros países lusófonos e visita uma exposição de filigrana portuguesa.

Nesta deslocação a Cuba acompanham o chefe de Estado português representantes de todos os grupos parlamentares - Luis Montenegro (PSD), Idália Serrão (PS), Hélder Amaral (CDS), António Filipe (PCP) e José Luis Ferreira (PEV) - à exceção do Bloco de Esquerda, partido que foi convidado, mas recusou integrar a comitiva sem querer, contudo, adiantar o motivo.

Depois da Cimeira Ibero-Americana de Cartagena, o Presidente da República participará com o primeiro-ministro, António Costa, na Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Brasília, entre 31 de outubro e 11 de novembro.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio esteve em Cuba em 1999, juntamente com o então primeiro-ministro António Guterres, mas não em visita de Estado, por ocasião de uma Cimeira Ibero-Americana.

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