Marcelo pressionou Cabrita: "Ministro não pediu a exoneração", como Constança Urbano de Sousa - TVI

Marcelo pressionou Cabrita: "Ministro não pediu a exoneração", como Constança Urbano de Sousa

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 21 dez 2020, 22:00

Presidente considera que usou uma "expressão paralela" no caso da morte de Ihor Homenyuk à da intervenção que antecedeu a demissão de Constança Urbano de Sousa, na sequência dos incêndios de 2017

Marcelo Rebelo de Sousa disse esta segunda-feira em entrevista à TVI que teria feito tudo exatamente igual no que toca ao processo da morte de um cidadão ucraniano nas instalações do SEF.

Interrogado se teria falado com a viúva caso soubesse o que sabe antes de ter sido aberto um inquérito, afirmou: "Não tinha falado. Eu tinha feito exatamente o que fiz, foi uma decisão de consciência. Havia um processo criminal".

Questionado sobre se terá a mesma atuação diante do atual ministro da Administração Interna  que teve com a ex-ministra Constança Urbano de Sousa, Marcelo garante que há diferenças resultantes da crise política gerada, nomeadamente a falta de um pedido de exoneração por parte de Eduardo Cabrita.

O Ministro da Administração Interna não pediu a exonoração, tal como o primeiro-ministro não a pediu", garante.

Estabelecendo comparações com o sucedido durante os incêndios em 2017, Marcelo explica o discurso que culminou no pedido de demissão da ex-MAI: "Eu naquela altura disse exatamente o seguinte, que valia a pena pensar se quem, no plano da administração pública, exercia funções que tinham conduzido a certo resultado, seria indicada a mudança para essas mesmas pessoas”.

Usei uma expressão que era paralela a essa num plano diferente", admite, destacando as diferenças na atuação de Constança Urbano de Sousa e de Eduardo Cabrita após discursos idênticos feitos pelo Chefe de Estado

Inquirido sobre se existiram consequências políticas decorrentes da morte de Ihor, Marcelo Rebelo de Sousa aponta para  “a saída da diretora do SEF e a reestruturação do SEF.”

O presidente incumbente garante ainda que nunca ninguém o viu a comentar processos criminais em curso. "O máximo que digo é fico feliz por estar mais rápido"

Em relação a contactar vítimas tenho a preocupação de intervir o mais rápido possível", explica, adiantando que uma separação entre a Administração Pública e os tribunais implica um distanciamento daqueles afetados. O Presidente da República admite, porém, que nos casos em que contactou as vítimas, teve “muita dificuldade” em cumprir o objetivo fundamental de "não dizer nada, nem fazer nada que antecipasse um juízo criminal". 

 

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Caso Tancos: "Decisão será mais rápida do que o esperado"

Marcelo Rebelo de Sousa adiantou ainda, sobre o processo relativo ao furto dos paióis de Tancos, que acredita que exista uma decisão do tribunal mais rápido do que aquilo que se temia no início do processo.

"Processo andou nos últimos tempos, está em julgamento e tenho a convicção de que vai haver uma decisão que será mais rápida do que aquilo que se temia na altura", disse, sublinhando a sua vontade de ver "apurada toda a verdade".

O recandidato às presidenciais de 23 de janeiro, garante que a descoberta de toda a verdade sobre o furto aos paióis e a recuperação das munições e das armas "é fundamental para a própria dignidade do Estado democrático".

Na mesma linha, Rebelo de Sousa garante que nunca recebeu o Chefe da Casa Militar e justifica que, memso se tivesse existido a vontade de João Cordeiro de pressionar o PR a fazer com que fosse a Polícia Judiciária Militar, e não a Polícia Judiciária, a tomar conta do caso, ele próprio já tinha ouvido esse pedido da entidade.

No dia 4 de junho já tinha ouvido esse pedido da PJM", afirma, referindo que, logo a seguir, dirigiu-se à Procuradora-Geral da República que lhe explicou o porquê de ser a PJ encarregue do caso. "A partir desse momento, a PGR foi a minha única interlocutora, por isso nunca recebi o Chefe da Casa Militar".

 

Ele ( o Chefe da Casa Militar ) sabia perfeitamente que apoiava a PGR e não PJM", argumenta.

Por outro lado, Marcelo desmente que alguma vez tenha pedido a demissão de João Cordeiro, reiterando que o Chefe da Casa Militar passou à reserva no dia 28 de dezembro por limite de idade.

Achamento das munições a 20 minutos antes de se ter sabido. Estava de braços com um probnlema bem maior, tive uma conferencia com um presidente de um país de Leste e só depois, na manhã  seguinte, soubbe do achamento das armas. O chefe da casa militar, supondo que tinha vontade de falar comigo, não tinha podido falar comigo porque estava em contacto com outro chefe de estado. 

Sobre se, em algum momento, se sentiu enganado pelo antigo ministro da Defesa, Marcelo sublinha que o mesmo nunca lhe deu o mínimo sinal de que sabia aquilo que se tinha passado em Tancos - "nem antes, nem durante" -, nem de que iriam ser achadas as munições no momento em que foram achadas.

Não sabia, eu fiquei com a convicção sempre de que ele não sabia nem antes nem durante o furto das munições que ia haver o furto e como é que foi o furto, nem que iam ser achadas as munições no momento em que foram achadas", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República relatou, em seguida, que quando leu a notícia da agência Lusa sobre o reaparecimento do material militar furtado de Tancos, no dia 18 de outubro de 2017, observou para si próprio: "Olha que coincidência temporal esta. No momento em que temos um problema enorme, que foi o dia do grande problema da segunda vaga de fogos e que culminou no pedido de exoneração da senhora ministra da Administração Interna [Constança Urbano de Sousa] e na remodelação feita pelo senhor primeiro-ministro, de repente, onde havia duas frentes, passou a haver uma só frente".

Mas que coincidência. Para quem é crente, é a providência divina, para quem não é crente, é um acaso muito curioso, pensei para comigo. Eu sou crente, portanto, dou o benefício da dúvida à providência divina", considerou Marcelo Rebelo de Sousa.

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