Marcelo em Pedrógão: "Políticos estão a fazer o que podem, mas é preciso mais" - TVI

Marcelo em Pedrógão: "Políticos estão a fazer o que podem, mas é preciso mais"

  • AR/CM - notícia atualizada às 18:00
  • 17 jun 2018, 13:01

Presidente da República participou numa missa em homenagem às vítimas dos incêndios de junho e outubro de 2017

O Presidente da República afirmou, neste domingo, que os responsáveis políticos estão "a fazer o que podem" para combater os problemas evidenciados pelos fogos, mas sublinha que é preciso mais. 

Ou isto serve para mudarmos mesmo de vida ou o que é que andamos a fazer aqui? Andamos os mais responsáveis dos responsáveis para quem os outros olham e dizem: "Os senhores estão aí e estão a fazer o que podem?" Acho que os responsáveis estão a fazer - todos. Mas provavelmente ainda não chega. É preciso mais", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, que falava durante o Congresso Nacional dos Queimados, que decorreu em Pedrógão Pequeno, concelho da Sertã, perto de Pedrógão Grande. 

Para Marcelo Rebelo de Sousa, "há empenho a todos os níveis" e o país já mudou depois dos grandes incêndios de 2017, mas essa mudança, vincou, tem de ser suficiente, duradoura, prolongada, persistente e constante. 

Num discurso centrado na necessidade de mudança do país em relação ao interior, tal como frisou, por diversas vezes, no sábado, em Castanheira de Pera, o chefe de Estado explicou que as intervenções que fez no passado "um pouco drásticas" relativamente à responsabilidade em relação aos incêndios não tinham "nada de tático, estratégico ou pessoal".

Antes, a necessidade que sentia e sente de haver uma real coesão do país.

O movimento para uma mudança no interior, notou, já arrancou e "sensibilizou todos os responsáveis políticos", mas "é preciso levar mais longe aquilo que já foi feito", por forma a corresponder "às expectativas suscitadas".

Falando num congresso que tem como tema "Renascer, um ano depois", Marcelo frisou que o renascer do território já começou há muito mais tempo, seja na constituição da associação de vítimas, seja na forma como os autarcas se bateram por soluções, seja na atribuição de indemnizações às vítimas mortais e aos feridos - algo "sem precedentes no direito português".

"O renascer começou quando toda a sociedade portuguesa percebeu que havia uma responsabilidade sua - nossa - naquilo que se tinha passado. Uma responsabilidade colectiva, com décadas, porventura, com séculos de inação ou de omissão", que criou "portugais" a diferentes velocidades, sublinhou.

No entanto, a questão, aclarou, não é saber se Portugal mudou, porque "mudou irreversivelmente" depois dos incêndios. "Resta saber se mudou o suficiente" e se mudará de forma duradoura, disse.

O grande desafio que se coloca agora a nós, como país, é sabermos se além de termos mudado, mudámos o suficiente. Isto é, hoje estamos aqui, um ano volvido. E daqui a um ano? Quando estivermos a poucos meses das eleições estaremos cá os mesmos? Estarão os mesmos com a mesma preocupação, com a mesma mobilização? E no ano seguinte em que não há eleições? Estaremos os mesmos a retirar as lições do passado e a construir o futuro? E os passos que vai sendo preciso dar, para além dos já dados, do que já começou, esses passos continuarão a ser dados? E compreender-se-á que o essencial só muda se deixar de haver o desconhecimento, o afastamento, a ignorância?", perguntou Marcelo Rebelo de Sousa.

O incêndio que deflagrou há um ano em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), em 17 de junho, e alastrou a concelhos vizinhos provocou 66 mortos e cerca de 250 feridos.

As chamas, extintas uma semana depois, destruíram meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.

Em outubro, os incêndios rurais que atingiram a região Centro fizeram 50 mortos, a que se somam outras cinco registadas noutros fogos, elevando para 121 o número total de mortos em 2017.

O orgulho de Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se hoje orgulhoso por ser o Presidente da República de pessoas como as da comunidade de Nodeirinho e de outras aldeias afetadas pelo fogo de Pedrógão Grande, por "fazerem novas todas as coisas".

Na inauguração do memorial construído junto à fonte onde há um ano se salvaram várias pessoas em Nodeirinho, Marcelo Rebelo de Sousa vincou, por mais uma vez, a capacidade de superação das comunidades afetadas.

Tenho muita honra em ser o Presidente de portugueses e portuguesas como vós sois. É um motivo de profundo orgulho saber da vossa coragem, da vossa determinação, da vossa vontade de fazer novas todas as coisas", disse o chefe de Estado, dirigindo-se à população de Nodeirinho, pequena aldeia onde hoje estavam muito mais pessoas do que os seus 35 habitantes.

Marcelo Rebelo de Sousa fazia referência ao verso bíblico "Eis que faço novas todas as coisas", presente no memorial hoje inaugurado e pensado pelo pintor local João Viola, que procurou criar um "monumento à vida", onde não são esquecidas nem as 11 vítimas mortais da aldeia, nem as árvores e animais que também morreram há um ano, na sequência do incêndio.

A frase diz tudo: eis que faço novas todas as coisas. Eis que transformo o luto, a morte, a dor em vida. É o que faz este monumento e é o que faz esta comunidade toda e que se alarga a outras comunidades à volta, e a um concelho e a vários concelhos e que infelizmente depois se alargou a muitos outros concelhos, em outubro", frisou o Presidente da República.

Há um ano, quando Marcelo passou pelo tanque que ali salvou vidas, pôde verificar como aquela fonte "tinha sido essencial para salvar a vida de tanta gente" e como a solidariedade no dia 17 de junho foi fundamental para salvar outras pessoas.

"Infelizmente, houve casos em que nem a solidariedade nem o tanque foram suficientes e, portanto, estão na nossa memória aquelas e aqueles que não puderam concretizar esse sonho de vida", notou.

Num dia de luto, mas também de "olhar para o futuro", Marcelo Rebelo de Sousa referiu que o renascer no território afetado começou "praticamente logo" a seguir ao incêndio.

"As pessoas começaram a juntar-se, começaram a ver que era possível reconstruir, em termos de obras, mas sobretudo refazer, em termos de vida. Foram todos excecionais com todos. Foram resistentes, mas resistentes em conjunto. Quando sentiam que alguém ficara para trás ou para o lado - mais sozinho ou mais isolado - davam-lhe a mão", salientou.

Nesse sentido, no dia em que se assinala um ano do grande incêndio de Pedrógão Grande, que provocou a morte de 66 pessoas, fez questão de passar em Nodeirinho, uma aldeia que considera um exemplo dessa vontade de renascer, "dia após dia, semana após semana, mês após mês, e que está viva e que está presente neste memorial".

 

 

 

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