Tancos: Marcelo assume-se "o chato do costume" para não deixar esquecer roubo - TVI

Tancos: Marcelo assume-se "o chato do costume" para não deixar esquecer roubo

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  • 26 out 2018, 15:35

Presidente da República sublinha que, aos contrário de outros, não minimizou o caso após o reaparecimento das armas, garante que via continuar a insistir até que quem esteve envolvido sejam responsabilizados

O Presidente da República insistiu hoje que o caso de Tancos "não se pode esquecer nem se pode minimizar", afirmando-se "o chato do costume" que não desiste de reclamar a necessidade de apuramento dos factos.

Em declarações aos jornalistas, em Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa disse ter regressado ao tema do furto de armamento nos paióis de Tancos, em junho de 2017, após o seu reaparecimento, cerca de três meses depois, porque não minimizou o caso após esse momento, ao contrário de outros, que não nomeou. 

Eu fui o chato do costume, por uma razão muito simples: porque eu sou comandante supremo das Forças Armadas e Presidente da República e ali não era apenas o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa. É alguém que é responsável e que acha que não se pode esquecer nem se pode minimizar [o sucedido em Tancos]", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. 

 

Porque houve quem minimizasse quando foram descobertas as armas e dissesse: 'bom, está tudo bem, pois se elas foram e vieram, olha, ainda bem, ainda ganhámos mais uma caixa'. Devo dizer que nunca partilhei essa visão porque achei que era tão grave que o apuramento de responsabilidades não podia ser tratado com leveza", argumentou o chefe de Estado. 

O Presidente da República justificou, assim, a necessidade de apuramento dos factos, tanto quanto ao furto como em relação à recuperação do material militar.

Portanto, insisti, insisti, insisti e insisto", enfatizou o chefe de Estado, pedindo celeridade à investigação: "Aquilo que eu espero é não ter de passar mais um ano ou ano e meio a insistir, e qualquer dia até ao final do meu mandato", desabafou. 

Marcelo Rebelo de Sousa reiterou ainda que é necessário deixar o Ministério Público e a investigação criminal "apurar exatamente nos vários momentos quem fez, quem não fez mas soube, quem não fez, soube e encobriu" e "como foi" que o furto das armas ocorreu, alegando que o país "precisa de virar a página" de Tancos. 

Não sem antes responsabilizar quem esteve envolvido", reforçou.  

O chefe de Estado reafirmou também que não sabia do furto do armamento, a exemplo do primeiro-ministro e que ainda hoje não sabe o que aconteceu no paiol militar de Tancos, quer sobre o furto, quer sobre a recuperação do material furtado.

Nenhum de nós sabia o que se passou, quando foi o furto das armas isso é uma evidência. E continuou a não saber e verdadeiramente ainda hoje não sabemos. Foi um [assaltante], foram dois, foram três, um não foi com certeza, foram quantos de dentro [do quartel] e quantos de fora e como e para onde e de que maneira, eu acho que em rigor ninguém dos portugueses em geral e dos responsáveis sabe como foi", frisou o Residente da República.

O desconhecimento sobre as circunstâncias do furto, disse Marcelo Rebelo de Sousa, estende-se ao local onde as armas estiveram e "por onde andaram" antes de serem recuperadas, enquanto a recuperação do armamento já vai tendo "algumas pistas", quer pela comunicação social, quer através de uma nota do Ministério Público "dando conta do que se passou".

"E eu tenho a noção de que até essa altura eu não sabia e tenho a noção de que a nível de quantos falaram comigo sobre esta matéria, e falámos muitas vezes, eu não fiquei com a impressão de que qualquer dessas pessoas soubesse o que se passava", acrescentou, sem identificar a quem se estava a referir.

Marcelo Rebelo de Sousa reiterou igualmente confiar "muito" na investigação em curso do Ministério Público sobre o caso de Tancos, quer na vertente "de que se tem falado mais" da recuperação das armas e a outra vertente "que não é menos grave, talvez até tenha sido mais grave" do furto do paiol.

Questionado se após a recuperação das armas teve conhecimento de um telefonema da anterior procuradora-geral da República Joana Marques Vidal para o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, a dar conta do desagrado da Polícia Judiciária para com a atuação da Polícia Judiciária Militar, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar a saber "pela primeira vez".

Mas, passo a ter conhecimento, agora passo a ter conhecimento, todos os dias, de novos factos. Está a contar-me isso, estou a aceitar como um dado novo", disse.

Perante a pergunta, repetida, sobre se teve conhecimento do telefonema, respondeu: "Não telefonei, nem recebi o telefonema, é uma realidade que passo a saber hoje", referiu, destacando a importância da investigação criminal e lembrando que ficou com a "sensação" que Joana Marques Vidal "esteve sempre empenhada" no avanço da investigação de Tancos.

Marcelo Rebelo de Sousa frisou ainda que quando condecorou Joana Marques Vidal e elogiou a qualidade do seu mandato, englobou nessa qualidade "a vontade de apurar e apurar o mais rápido possível o que se passava também em Tancos".

O furto do armamento dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017, e, quatro meses depois, foi recuperada parte das armas.

Em setembro, a investigação do Ministério Público à recuperação do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR.

Na mesma altura, foi noticiada uma operação de encenação e encobrimento na operação, alegadamente organizada por elementos da Polícia Judiciária Militar, que dela terão dado conhecimento ao chefe de gabinete do ministro da Defesa, Azeredo Lopes.

A 12 de outubro, Azeredo Lopes demitiu-se e foi substituído por João Gomes Cravinho.

Na semana passada, o então Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, também se demitiu, tendo sido já substituído pelo general José Nunes da Fonseca.

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