“Nem mandamos no Governo, nem perdemos as nossas bandeiras” - TVI

“Nem mandamos no Governo, nem perdemos as nossas bandeiras”

A eurodeputada bloquista e ex-candidata presidencial, Marisa Matias, defendeu que "a geringonça desorientou a direita"

A eurodeputada bloquista, Marisa Matias, respondeu hoje à direita e assegurou que o BE nem manda no Governo, nem perde as bandeiras, sublinhando que o Bloco não desiste da Europa, mesmo quando as políticas são as mais agressivas.

No último dia da X Convenção do BE, que termina hoje em Lisboa, a ex-candidata presidencial afirmou que "a geringonça desorientou a direita", recordando que, apesar de durante anos o BE ter sido criticado por não assumir responsabilidades, é agora criticado por fazer parte de uma solução de Governo.

"Nem mandamos no Governo, nem perdemos as nossas bandeiras", respondeu Marisa Matias às críticas do PSD e do CDS-PP, que acusou de achar que só podia haver entendimentos naquele espetro político e que a esquerda estaria proibida de fazê-los.

O BE assinou em novembro passado um acordo de incidência parlamentar que viabilizou o Governo socialista de António Costa.

Sobre a União Europeia, a eurodeputada foi perentória:

"Não desistiremos da Europa, mesmo quando as políticas são as mais agressivas e liberais".

"Confrontamos a União Europeia não porque tenhamos mau feitio, mas porque sabemos que o projeto da União Europeia atual está caduco", justificou, rejeitando uma Europa "racista, xenófoba, castigadora dos povos, dos trabalhadores, predadora do estado social".

Porque a União Europeia "tem que ser feita com os povos e para os povos", Marisa Matias recordou que em Portugal o Bloco nunca desistiu do país.

"Lutamos para mudar Portugal e começamos já a mudá-lo", disse, assumindo que o objetivo é "mudar o mundo".

Dirigentes pedem disputa à esquerda e demarcam-se do "euro-romantismo" grego

O deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro defendeu, entretanto, que a maioria de esquerda parlamentar que suporta o Governo socialista é "um espaço de disputa", enquanto o dirigente Fabian Figueiredo criticou o "euro-romantismo" do Governo grego.

Estas posições foram assumidas por dois membros da Comissão Política do Bloco de Esquerda na manhã do segundo e último dia da convenção.

No final da sua intervenção, José Soeiro referiu-se à relação negocial entre o Bloco de Esquerda e o PS para a viabilização do Governo socialista e considerou essencial um empenhamento "na luta de classes".

"A atual maioria de esquerda é um espaço de disputa", disse o deputado do Bloco de Esquerda, classificando a atual conjuntura política como "um convite à mobilização" contra a precariedade e contra a existência de "400 mil desempregados sem acesso a qualquer subsídio de desemprego".

Pouco depois, seria Fabian Figueiredo, assessor do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda e também membro da Comissão Política deste partido, a demarcar a visão europeia do seu partido da corrente "euro-romântica", na qual incluiu não só o PS, mas também o Syriza grego.

"O euro-romantismo, que acredita ser possível nos países periféricos conciliar políticas de esquerda com diretrizes das instituições europeias, revela-se um pesadelo, como hoje assistimos em Atenas", sustentou.

A intervenção mais crítica da manhã do segundo e último dia da X Convenção do Bloco de Esquerda partiu de Isabel Louçã, subscritora da moção R, alternativa à linha política da direção.

Isabel Louçã acusou a direção de estar já a negociar com o PS a proposta de Orçamento do Estado para 2016, sem que os militantes do Bloco de Esquerda conheçam o curso dessas conversações e considerou que a convenção se realiza "na altura errada" e decorre sob "um falso unanimismo.

“Liberdade já” para jovens presos em Angola levanta reunião magna bloquista

Mas a convenção ficou, este domingo, marcada por uma intervenção pedindo liberdade para os presos políticos em Angola e que levantou a quase totalidade delegados presentes.

O tema foi trazido à reunião magna bloquista por Jorge Silva, ativista pelos direitos dos imigrantes e representante do Bloco Democrático de Angola em Portugal.

No final da sua intervenção, de cerca de quatro minutos, os presentes no pavilhão do Casal Vistoso levantaram-se e gritaram: "Liberdade já".

O delegado referia-se ao caso dos 17 jovens ativistas presos em Luanda (capital angolana) desde junho de 2015 e entretanto condenados até oito anos e meio de prisão por atos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores, penas que começaram a cumprir em março desde ano, apesar dos recursos da defesa.

Pouco depois, o antifascista Camilo Mortágua falaria e, declarando ser "talvez o delegado mais velho" nos trabalhos, deixou um recado interno e outro externo.

O Bloco, disse o pai das deputadas Mariana Mortágua e Joana Mortágua, deve reforçar a sua "cooperação" interna, e no que refere à "geringonça", Camilo Mortágua foi claro: "A geringonça é uma coisa que necessita de paixão, dedicação, empenho. É uma máquina pouco sólida e que precisa de paixão".

“A geringonça precisa de dedicação, a máquina alemã só precisa de submissão”, desafiou.

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