Marta Temido admitiu, numa entrevista ao novo podcast do Partido Socialista "Política com Palavra", que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não vai ter capacidade de resposta para as listas espera que já existem e para recuperar o atraso nos restantes serviços.
Era ilusório pensar, era enganador, não era realista pensar que o SNS iria passar por uma situação deste tipo sem ter consequências na outra atividade".
Confessou que as listas de espera já voltaram em grande escala e a "dificuldade é enorme". Não crê que o SNS tenha capacidade de resposta para regressar sozinho à normalidade e, nesse sentido, vai ser preciso recorrer aos privados: "essa intenção existe, é clara e vamos acioná-la".
Aqui não é desapareceu o último caso de Covid e tudo voltou à normalidade habitual. Se por hipótese amanhã tivéssemos zero casos de Covid, o sistema de saúde para voltar a funcionar tem que ter ainda uma série de cautelas", reforçou.
Se o SNS já estava sob pressão política, agora com a pandemia de Covid-19 essa pressão deixou de ser só política e passou a ser social, económica e emergente.
Não concorda com Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, quando este diz que a manta do SNS é curta para responder às restantes patologias e assegurou que essa mesma manta foi a única disponível para muitos portugueses.
Eu não acho que a manta do SNS seja curta, aliás ela foi a única manta que os portugueses tiveram disponível durante estas últimas semanas".
Ainda assim, admitiu que "nunca será suficiente", uma vez que o SNS não tem "uma resposta ilimitada, completa, sem fragilidades e sem dificuldades".
Quanto à constatação da presidente do grupo Luz Saúde, de que sistema de saúde partiu para esta crise abaixo dos mínimos, a ministra escusou-se a comentar, mas garante que não houve um divórcio entre o SNS e o setor privado.
Deixando o cenário de pós-Covid, se houver uma segunda vaga de casos, Marta Temido diria que o sistema de saúde está preparado, mas que tudo depende da "força do ataque".
Continuamos a trabalhar para estar sempre preparados. Este é um contexto em que ninguém pode estar tranquilo, totalmente tranquilo. Não lhe consigo dar uma resposta de sim ou não, mas penso que estaremos preparados, estamos a esforçar-nos muito".
Questionada sobre como é que o Governo chegou à conclusão de que esta é a melhor altura para iniciar o "desconfinamento", a governante explicou que essa decisão tem por base a situação epidemiológica em que o país se encontra, mas também a resposta positiva que tem sido dada pelo SNS.
O primeiro dado é o da situação epidemiológica em que nos encontramos. Temos neste momento o número de casos recuperados que nós sabemos que, naquilo que é o relatório de situação, ainda não revelarão aquilo que é de facto a realidade (...) e temos um número de óbitos e de novos casos que de dia para dia tem decrescido, que nos permite começar a ter alguma sustentabilidade sobre a forma como a Covid está a evoluir no nossos país".
Acredita que uma debilidade económica e financeira vai trazer mais desigualdades e desemprego que se vão revelar num agravamento do estado de saúde dos portugueses.
Sobre o aumento do indicar R - aquele que mede a probabilidade do risco de transmissão de um caso infetado para outros - na região de Lisboa e Vale do Tejo e no Norte, esclarece que isso se deveu aos surtos mais recentemente conhecidos, como o caso dos hostels em Lisboa e dos lares no Norte.
A mulher que tutela o Ministério da Saúde já perdeu a conta às noites mal dormidas desde que o país entrou em estado de emergência e confidenciou que gostava de ter um escape para poder desligar a ficha. Em vez disso, adormece a ler textos de Covid.