O Governo português “lamenta bastante” a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão, mas espera que esta seja “compensada” pela determinação dos restantes signatários de manterem a sua posição, disse à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Lamentamos bastante a decisão dos Estados Unidos. Nós, Portugal e a União Europeia, tudo fizemos para convencer os nossos amigos americanos a não darem este passo”, afirmou hoje Augusto Santos Silva, em declarações à agência Lusa.
O Governo português vê o acordo como “um instrumento positivo”, com o objetivo de “impedir que o Irão chegue à produção de armas nucleares próprias”, referiu o governante, sublinhando que, segundo a Agência Internacional de Energia Atómica, o Irão “tem cumprido até agora os compromissos que assumiu”.
O chefe da diplomacia portuguesa advertiu que a decisão dos EUA, hoje anunciada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, pode ter consequências negativas, nomeadamente para o “isolamento iraniano e o enquistamento ainda mais intenso do regime iraniano”, bem como uma “escalada da conflitualidade que hoje já é evidente no Médio Oriente”.
Consequências que, para o Governo português, podem ser mitigadas se os restantes signatários do acordo nuclear “mantiverem a sua posição”.
“Esperamos que esta saída dos Estados Unidos seja compensada pela determinação das restantes partes signatárias do acordo no seu cumprimento”, sublinhou Santos Silva.
O ministro disse compreender as críticas da administração norte-americana ao Irão.
“Dizem, e bem, que o Irão é hoje um elemento de desestabilização de todo o Médio Oriente, que desenvolve um programa de mísseis balísticos que também constitui uma ameaça e que faz violações sistemáticas dos direitos humanos. O Irão pode ser criticado em todas estas frentes”, sublinhou.
Razão, aliás, que levou a União Europeia a levantar sanções por causa do programa nuclear, mas a manter as sanções que tinha aplicado por causa destes comportamentos noutras dimensões, nomeadamente no que diz respeito aos direitos humanos, lembrou.
“A melhor maneira de interagir com o Irão é nós cumprirmos aquilo com que nos comprometemos no acordo nuclear e exigir ao Irão que melhore o seu comportamento em todas as outras dimensões”, considerou Santos Silva.
O Governo português concorda com o debate que está atualmente a decorrer no seio da União Europeia, com França, Reino Unido e Alemanha a defenderem um agravamento das sanções ao Irão, face aos “desenvolvimentos recentes no programa de mísseis balísticos”, mas “mantendo o acordo nuclear”, acrescentou.
Marcelo subscreve posição do Governo
Entretanto, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, subscreveu a tomada de posição do Governo, que lamentou a saída dos EUA do acordo nuclear do Irão e defendeu que os restantes signatários devem manter a sua posição.
“O Presidente da República subscreve plenamente a posição do Governo, tornada pública esta tarde, sobre a decisão do Presidente dos Estados Unidos da América de retirada unilateral do acordo nuclear com o Irão”, refere uma breve nota divulgada no sítio oficial da Presidência da República.