E ao quarto dia de campanha, Minho leva Passos em ombros - TVI

E ao quarto dia de campanha, Minho leva Passos em ombros

Aqui se vê a força do PPD/PSD. Podia ser o lema da arruada em Arcos de Valdevez que deu para mostrar que a tradicional base de apoio social-democrata (e do CDS) não sai beliscada da austeridade. Dizíamos que a campanha não saia à rua?

A campanha começou domingo. Mas só esta quarta-feira, ao quarto dia de estrada da coligação Portugal à Frente, é que Passos Coelho sentiu o primeiro banho de multidão. Parecia uma arruada “à antiga”, daquelas que o PSD não sentiu em 2009 quando perdeu de novo para José Sócrates, mas que em 2011 deixou claro a mobilização em torno do líder social-democrata, levando-o à vitória. E com maioria absoluta. Proeza igual, após quatro anos de duras medidas de austeridade, parece coisa nunca vista em governos de países intervencionados. Mas há já quem fale que este é o início oficial da “dinâmica” que pode levar o PAF à vitória.

Coisa de analistas, politólogos  e comentadores, que o primeiro-ministro diz sempre que não é: mas hoje, no discurso que fez depois da arruada – onde, já agora, foi levado em ombros, pela máquina partidária, claro, sempre tão afinada a Norte –, admitiu com um sorriso que as “pessoas sentem-se mais à vontade para dizer o que pensam”, porque, explica, “deixaram de achar que estão sozinhas a apoiar”.

“É uma maratona que cada vez traz mais gente. As pessoas querem que não se volte para trás. E nós damos uma garantia mais sólida de que não só não voltamos para trás, mas que o futuro será melhor que os últimos 40 anos de democracia em Portugal”.


Claro que em Arcos de Valdevez as coisas são mais fáceis: bastião laranja, e com uma forte implantação do CDS, já se sabe que a Norte e no Alto Minho os ventos correm de feição à direita.

Historicamente é assim, mesmo em pleno PREC, a esquerda nunca conseguiu convencer o povo minhoto, e, hoje, não havia senhoras de cor-de-rosa: é cor demasiado garrida para as reformadas desta terra mesmo ao lado de Ponte de Lima.

Aliás, Amélia, que tinha uma lenço azul e laranja, da coligação Portugal à Frente, é a prova provada desta teoria: “Gosto muito deste primeiro-ministro. Sou PSD desde sempre. Aliás, quando morreu o doutor Francisco Sá Carneiro (em 1980, era Amélia mais nova) também eu pensava que morria”.



Amélia tem agora 79 anos. Uma roupa modesta. Uma vida de trabalho; na lida doméstica, no pequeno quintal que dava batatas e pencas, na costura. E diz que não está mal: “Só não tenho uma casa minha. Tenho de pagar uma renda que nunca consegui juntar assim tanto dinheiro. E também não herdei nada. Mas não preciso: tenho a minha reforma e chega, a sério que chega”.

Falava de coração, como os minhotos fazem, sem calculismo, contente por estar ali na “onda” que invadiu o centro da pacata Arcos de Valdevez. Nem sequer percebeu que falava com uma jornalista. Só quando viu o microfone da TVI, já a conversa ia fluída, é que disse: “Ah, vocês são jornalistas. Tá bem, tá bem”. Mas quanto ganha de reforma, perguntei eu. Ganho 302 euros e 60 cêntimos. Não tive corte nenhum. Corte tiveram aqueles que ganham para cima de 1000 euros.”

Para Amélia, é uma fortuna. É três vezes mais do que recebe. “Mas não me queixo, menina. Não me queixo, a sério. Eles não me deram nada, juro, mas então não se vê que são boa gente? Quer comparar com aquele Sócrates? Se não se vê mesmo que aquela só se governa a si..."

Passos Coelho não ouviu nada desta conversa impossível de ouvir quando se está dentro do cordão de segurança: muito barulho, muitos gritos e cânticos de apoio e uma concertina daquelas que no Alto Minho se usam para pôr o rancho a bailar.

Mas é também no rancho folclórico que se ouve cantar ao desafio. E Passos ouviu as rimas que lhe fizeram [e o leitor também pode ler e ver aqui, no vídeo possível para tão difícil jornada].

 

O caminho era largo, mas era tanta a gente que queria chegar ao centro da coligação, sobretudo mulheres para um beijo, um abraço, uma palavra de incentivo, e até uma gerbéra cor de laranja.

No meio da festa, da alegria, do aperto que se sentia, da confusão, dos empurrões, das bandeiras e das calcadelas, ainda houve indignação de dois homens que conseguiram confrontar Passos com o papel comercial do Grupo Espírito Santo vendidos aos balcões do extinto banco.

"- Mas então não é o Governo que manda no país?

- 'Manda, mas não manda nos bancos', responde o primeiro-ministro que ainda ensaia uma explicação elaborada que envolve a separação de poderes, o facto de Portugal não viver em ditadura, e de ser da competência dos reguladores e da Justiça resolver o drama de quem amealhou e depois perdeu tudo.

- Mas vai fazer alguma coisa por nós ou não...?"


De resposta, só “pronto, muito prazer”.

Outro, mais à frente, também sozinho: “Eu já estou nos tribunais com eles, mas lá ver se corre bem. Fiquei sem as minhas poupanças. Roubaram-nos tudo. E eu investi naquilo que o tipo do banco me disse porque era o BES, não é, e o BES era uma coisa séria. Mas afinal roubaram-me tudo. Fiquei sem nada”.

“Eu sei disso, eu sei disso, acredite, mas faz bem, ok , faz bem em ir para tribunal, a ver se isto se resolve. A ver se corre bem. Boa sorte”, e siga para bingo.


Depois de durante vários dias a coligação ter evitado o contacto direto com a população - a ver se a manifestação dos lesados do BES em Braga não se repetia tão cedo – Passos voltou à rua, parando para falar com quem lhe pede uns segundos de atenção. Não evita, não faz de conta que não ouve. Pára e responde. E lá explica as suas razões, sem parecer que naquele breve diálogo consiga convencer aqueles que protestam.

Mas era como ontem dizia aos jornalistas : “Eu falo com toda a gente. Passei os últimos quatro anos a percorrer o país. Falo com toda a gente”. E falou, pelo menos ontem, no Montijo, e hoje, em Arcos de Valdevez. A ver se a regra mantém as arruadas, e se elas não são apenas anunciadas aos jornalistas em cima da hora, para que não haja tempo para protestos organizados.



 
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