Paulo Portas deixa CDS-PP: perfil de um líder - TVI

Paulo Portas deixa CDS-PP: perfil de um líder

Paulo Portas [Lusa]

Liderança começou no Congresso de Braga, em 1998. Desde então, só esteve dois anos fora da direção centrista, entre 2005 e 2007

O líder do CDS-PP, Paulo Portas, 53 anos, que anunciou, nesta segunda-feira, que não se recandidatará à liderança do partido, chegou a presidente em 1998.

A liderança de Paulo Portas no CDS-PP começou no Congresso de Braga. Desde então, 1998, só esteve dois anos fora da direção centrista, o período entre 2005 e 2007, na presidência de José Ribeiro e Castro.

O CDS-PP liderado por Paulo Portas concorreu em coligação com o PSD às últimas legislativas de 4 de outubro e, apesar da vitória, PSD e CDS-PP (38,55%) perderam cerca de 722 mil votos relativamente às legislativas de 2011, quando concorreram separados. A coligação ficou com 104 deputados (incluindo os dos Açores e Madeira, onde concorreram separados) - 86 do PSD e 18 do CDS.

Paulo Portas foi vice-primeiro-ministro do primeiro e segundo Governos chefiados por Pedro Passos Coelho, este último com a duração de cerca de um mês, após ter sido demitido no parlamento através da aprovação de uma moção de rejeição ao seu programa pelos partidos da esquerda, maioritários na Assembleia da República.

A sua passagem pelo primeiro executivo de Passos Coelho (2011/2015) ficou marcada pela apresentação da sua demissão, em julho de 2013, acabando por negociar um reforço de poder no Governo para o CDS-PP, um partido que, nos últimos anos, se confunde com a sua personalidade.

O presidente do CDS-PP abandonou o Ministério dos Negócios Estrangeiros para ser o ‘vice' do Governo com coordenação das políticas económicas e do relacionamento com a troika, assim como as orientações para a reforma do Estado.

A substituição do então ministro das Finanças, Vítor Gaspar, com quem manteve divergências públicas, por Maria Luís Albuquerque, foi o motivo que alegou para apresentar a demissão ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

O chefe de Governo não aceitou a demissão e o CDS-PP mandatou Portas para negociar a solução de estabilidade governativa que resultou no reforço do seu poder no executivo, em que Maria Luís Albuquerque se manteve como ministra das Finanças.

Para trás deixa um rasto de divergências com Passos Coelho e Vítor Gaspar, que teve nas alterações à Taxa Social Única (TSU), que não avançou, assim como na chamada TSU dos pensionistas, pontos altos.

Paulo Portas tem defendido um novo ciclo na governação, em que a Economia se sobreponha às Finanças e que parece estar em linha com a nova orgânica do Executivo.

Paulo Portas chegou ao Governo pela segunda vez após as legislativas de 5 de julho de 2011 após obter um dos melhores resultados para o CDS (11,7% e mais de 650 mil votos), com a eleição de 24 deputados.

O reforço do peso do CDS-PP permitiu-lhe aliar-se ao PSD e cumprir a ambição de exercer a "habilidade diplomática" que lhe apontam colaboradores próximos, numa pasta que tinha sido recusada ao seu partido em 2002, os Negócios Estrangeiros.

Fluente em quatro línguas estrangeiras - francês, inglês, espanhol e italiano - Paulo Sacadura Cabral Portas, 51 anos, fez da diplomacia económica o vetor determinante da política construída a partir do Palácio das Necessidades para o mundo, por onde viajou, com um particular empenho no estreitamento de relações económicas com os países da América Latina.

Antes de abandonar estas funções, as relações com a América do Sul foram abaladas pelo incidente com o voo do presidente da Bolívia, Evo Morales, que Portas autorizou a sobrevoar o espaço aéreo português mas não a aterrar em solo nacional, com suspeitas de que o ex-espião da CIA Snowden pudesse estar a bordo.

No XV Governo, liderado por Durão Barroso, teve a pasta da Defesa Nacional, que acumulou com a tutela dos Assuntos do Mar no executivo seguinte, com Pedro Santana Lopes.

Paulo Portas aderiu ao CDS-PP em 1995, depois de ter sido um dos principais conselheiros do antigo presidente do partido Manuel Monteiro, que viria a substituir, no congresso de Braga, em 1998.

Liderou o partido durante sete anos, levando o CDS-PP ao poder em 2002 e demitiu-se em 2005, na sequência das legislativas de fevereiro desse ano, nas quais o partido obteve 7,3% dos votos, quando pedira 10% na campanha eleitoral.

Dois anos depois, com Ribeiro e Castro à frente do CDS-PP, Portas anunciou a intenção de regressar à liderança e, depois de quase dois meses de polémicas jurídicas internas, conseguiu ver aprovado o método de eleições diretas para a disputa interna.

Já sem diretas, num congresso eletivo, recandidata-se à liderança dos democratas-cristãos no XXV Congresso do CDS-PP, na Póvoa de Varzim, a 20 e 21 de julho, adiado por 15 dias devido à crise política.

Desde que voltou à liderança do CDS-PP, Paulo Portas foi reeleito por duas vezes, em 2009 e em 2011, com mais de 95% dos votos e sem qualquer adversário, em eleições diretas.

O processo sobre a compra de dois submarinos pelo Governo de Durão Barroso e Paulo Portas ainda ‘persegue' politicamente o líder do CDS-PP que, em debates ou quando questionado sobre o assunto, defendeu sempre a opção que fez e lembrou que, em termos judiciais, nunca foi chamado a qualquer investigação.

Filho do arquiteto Nuno Portas e de Helena Sacadura Cabral é irmão de Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, já falecido, e da jornalista e empresária Catarina Portas.

Católico praticante, Portas orgulha-se da sua educação jesuíta. Estudou no colégio São João de Brito, em Lisboa, onde conheceu o amigo António Pires de Lima, com quem ganhou as eleições à Associação de Estudantes.

Licenciou-se em Direito pela Universidade Católica, e acabou por tornar-se jornalista - uma das opções que lhe apontaram os testes psicotécnicos, além de advogado, político e padre.

Portas começa na política na JSD, da qual se afasta com a morte de Francisco Sá Carneiro.

Cinéfilo, foi jornalista nas publicações "Tempo", "A Tarde" e "Semanário", mas é com a fundação de "O Independente" que se liga à história recente da imprensa portuguesa.

"O Independente" destacou-se por noticiar escândalos durante Cavaquismo, e por ter introduzido uma irreverência patente na escrita e no grafismo da publicação.
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