Paulo Portas, o poder de um número três - TVI

Paulo Portas, o poder de um número três

Paulo Portas (Lusa/Miguel A. Lopes)

Líder do CDS-PP nunca deixou de mostrar que a estabilidade na governação passava pela suas mãos

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O silêncio de Paulo Portas durante o primeiro ano do Governo de coligação foi um dos sinais de que o futuro do Executivo passaria sempre pelas mãos do líder do CDS-PP. Portas era o número dois da coligação, o número três do Governo, mas o número um no equilíbrio da estabilidade governativa.

O silêncio sobre muitas das medidas de austeridade apresentadas pelo Governo no primeiro ano de governação e o suspense sobre o apoio ao Orçamento do Estado para 2013 alimentaram a dúvida sobre o papel do CDS-PP na coligação. Mas com a polémica da TSU anunciada por Passos Coelho, em setembro de 2012, o sinal de separação entre os dois líderes viu a luz do dia. Portas escreveu uma carta, que veio a público, onde mostrava o desagrado sobre as medidas anunciadas.

Com o recuo de Passos Coelho na TSU, a batalha seguinte foi o Orçamento do Estado. Depois de mais suspense e de ter feito nascer os primeiros temores de eleições antecipadas com a carta que escreveu ao primeiro-ministro, o líder do CDS-PP acabou dar o voto favorável ao documento. O ministro dos Negócios Estrangeiros justificou o apoio em nome da estabilidade e para evitar uma crise política, não, sem antes deixar, o aviso de que a voz do CDS-PP não tinha sido «suficientemente ouvida».

Ainda assim, o aval ao documento foi dado com a intenção de compensar o «enorme aumento de impostos» com um corte na despesa. Mas as palavras de coesão na coligação de Passos e Portas acabaram por não ser o suficiente com a bancada parlamentar do CDS-PP a deixar transparecer desconforto com as medidas apresentadas e com as falhas nas previsões de Vítor Gaspar. Os centristas foram acusados, no Parlamento, de serem ao mesmo tempo Governo e oposição.

Paulo Portas sofreu ainda um duro golpe do seu parceiro de coligação. Em novembro de 2012, viu Passos Coelho afirmar em entrevista à TVI que era o número três do Governo, sendo que o segundo lugar na hierarquia do Governo era de Vítor Gaspar.

Portas resistiu, mas apenas para, mais tarde, voltar a fazer tremer a coligação. Em maio, depois do chumbo do Tribunal Constitucional ao Orçamento do Estado, o líder do CDS-PP afirmou publicamente que não aceitava a TSU para os pensionistas e estabeleceu a «linha vermelha» para os centristas. «Eu sou politicamente incompatível com essa TSU dos pensionistas, por razões de justiça social, por razões de impacto económico e até por razões de prudência jurídica», disse Portas, que terá mesmo ameaçado, em Conselho de Ministros, ameaçado romper com a coligação.

A TSU para os pensionistas acabou por ficar em «banho maria» com o Governo a comprometer-se com a troika a encontrar outra medida de substituição. Os recuos, de parte a parte, fizeram acreditar que, apesar das ameaças, o Governo não cairia, para já, pelas mãos de Portas. A estabilidade do Executivo parecia ter sido mais uma vez encontrada, mas as divergências de fundo com as políticas de Vítor Gaspar e Passos Coelho não desapareceram.

Esta segunda-feira, Vítor Gaspar assumiu as responsabilidades nos destinos do país. No comunicado final como ministro, Portas alega as divergências com Gaspar e a escolha de Passos em seguir a mesma política, para sair e deixar o primeiro-ministro, até ver, a governar sozinho.

Como sempre pôde e ameaçou fazer.
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