«Pensar o futuro», a conferência (que não foi) à porta fechada - TVI

«Pensar o futuro», a conferência (que não foi) à porta fechada

Passos Coelho lançou a ideia, mas as regras criaram polémica. Ninguém apresentou soluções milagrosas

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A polémica estalou de véspera, quando as redações foram informadas que havia restrições para a cobertura da conferência «Pensar o futuro - Um Estado para a Sociedade», organizado pela ex-dirigente do PSD Sofia Galvão após ideia de Pedro Passos Coelho. A ideia de limitar a ação dos jornalistas tornou-se um pesadelo de relações públicas para o Governo.

Fui um dos jornalistas presentes do início (9:30) ao fim (18:38), optei por não abandonar a bonita sala do Palácio Foz e reportei o que considerei mais relevante ao longo do dia através da minha conta oficial no twitter.

As regras referiam que à exceção das sessões de abertura e encerramento (com Carlos Moedas e Passos Coelho), os jornalistas não podiam captar áudio ou vídeo, mas podiam assistir à conferência, só podendo citar os intervenientes após pedir-lhes autorização . A polémica estalou e o Sindicato dos Jornalistas publicou um comunicado crítico, anunciando uma queixa à Entidade Reguladora da Comunicação Social.

E o que se passou, afinal, na conferência que seria à porta fechada, mas que acabou por não ser para quem ficou na sala? Discutiu-se o Estado Social em várias vertentes, começando por um diagnóstico sobre «O Estado a que chegámos», passando pela Educação, Saúde e terminando na Defesa e Segurança. Houve contributos de personalidades tão díspares como Vítor Bento, Gomes Canotilho, Paulo Guinote, Luís Filipe Pereira ou o General Leonel Carvalho. Não disseram nada polémico e muitos até elogiaram opções tomadas nos últimos anos, mas também decisões atuais. O secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro assistiu a todos os trabalhos.

Quanto às regras, alguns dos oradores desconheciam tais imposições e repetiram no final de cada painel que «podiam citar à vontade». Na última discussão, sobre Defesa e Segurança, o moderador Miguel Monjardino deixou bem claro: «O debate é em on».

No lançamento a conferência, Sofia Galvão explicou que se tratava de um momento para ouvir a sociedade civil (por isso pedia um «debate aberto, profundo e construtivo») e talvez por isso soou estranho que existissem tantas regras.

Ninguém apresentou soluções milagrosas. O constitucionalista Gomes Canotilho avisou que é «crucial manter a coesão económica e social», explicou que «a dívida pública não se paga, vai-se pagando» e reclamou mais transparência: «É preciso haver consenso entre direita e esquerda onde devemos poupar para manter estes apoios sociais».

O economista Vítor Bento considerou que «este Estado Social não é sustentável», mas «não existe consenso político sobre esta matéria, por isso não vai haver alteração». Acrescentou que «o Estado Social implica obrigação e é preciso que alguém o pague». O presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins lançou mais avisos: «É preciso criar condições de confiança»; «Sem investimento e sem emprego o Estado está sempre com problemas»; «Os cidadãos têm de sentir que são ouvidos»; «Não podemos ser masoquistas ao ponto de destruir o bom que fizemos».

Paulo Guinote criticou o relatório do FMI e disse que há caminhos que não devem ser percorridos. «Há coisas sérias que foram feitas nos últimos que podem ser colocadas erradamente em causa», avisou, considerando que «o investimento em educação é feito em contraciclo com a crise». No painel sobre educação falou-se em «liberdade de escolha», mas ninguém chegou a uma conclusão.

Na saúde, não houve consenso sobre se a ADSE deve ou não continuar - os gestores de hospitais privados elogiaram o sistema. Um número ficou na retina: «Todo o IRS arrecadado em Portugal é gasto no Serviço Nacional de Saúde», disse Rui Diniz, administrador da José de Mello.

Na Defesa e Segurança os militares disseram, resumidamente, que está tudo bem como está e que até já têm sido feitos muitos cortes, por isso não faz sentido questionar a aposta neste setor.
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