Marcelo vai "trabalhar para trazer direita ao poder" com Passos Coelho, diz Ana Gomes - TVI

Marcelo vai "trabalhar para trazer direita ao poder" com Passos Coelho, diz Ana Gomes

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  • 20 jan 2021, 10:39

Para a candidata presidencial, a escolha que se coloca nas eleições do próximo domingo aos votantes e militantes do PS é “se vão votar no candidato da direita e que tudo vai fazer para deixar a direita no poder” ou “em quem é indiscutivelmente socialista”, apesar de assumir a sua faceta crítica

A candidata presidencial Ana Gomes afirmou na terça-feira que, se for reeleito, Marcelo Rebelo de Sousa irá “trabalhar para trazer a direita” ao poder, encabeçada por Passos Coelho, e considerou que o PS não fez ainda a autoanálise da governação Sócrates.

Numa conversa online com jovens socialistas sobre o papel da Presidente da República, organizado pela Federação da Área Urbana de Lisboa da Juventude Socialista e que se prolongou por cerca de duas horas, Ana Gomes foi questionada sobre o que a distingue do atual Presidente da República e recandidato ao cargo.

Será que o que os portugueses e, em particular, os votantes socialistas querem é esta estabilidade que é enganosa? Num segundo mandato, o Presidente já não tem de ser reeleito, vai trabalhar de outra maneira e já temos demasiados indícios que mostram que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa vai trabalhar para trazer de volta a direita ao poder”, afirmou.

A antiga eurodeputada do PS precisou que será “uma direita, tudo indica, que será encabeçada” pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho - “já começaram as estratégias de promoção” - e que “não hesitará em recorrer à normalização de um partido da ultradireita para esse desígnio”.

Para Ana Gomes, a escolha que se coloca nas eleições do próximo domingo aos votantes e militantes do PS é “se vão votar no candidato da direita e que tudo vai fazer para deixar a direita no poder” ou “em quem é indiscutivelmente socialista”, apesar de assumir a sua faceta crítica.

A candidata admitiu que é mais exigente com os socialistas, por ser o partido em que milita, e defendeu, por exemplo, que PS já deveria ter feito “uma autoanálise” sobre a governação de José Sócrates

Infelizmente, não foi isso que aconteceu, houve alguma demarcação por parte do secretário-geral António Costa, mas não houve nunca uma análise. Independentemente dos crimes de que é acusado e que serão objeto de julgamento, há factos inquestionáveis”, disse, lembrando que foi durante a sua administração que foram criados os RERT (Regime Excecional de Regularização Tributária).

 

Isto aconteceu no Governo Sócrates e se o PS não lida com isto e não assume que é um erro e que foi um esquema para desviar recursos do Estado, do meu ponto de vista vulnerabiliza-se e eu quero um PS reforçado”, frisou.

Ana Gomes disse não conceber que “quem é socialista, do partido fundado por Mário Soares”, possa votar num candidato de direita, mas também considerou incompreensível que possa haver votos do PS “desviados” para o candidato apoiado pelo PCP, João Ferreira, que tem o apoio público, por exemplo, da deputada e constitucionalista Isabel Moreira.

Quer o partido quer esse candidato têm toda uma trajetória de maldizer a Europa incompatível com o PS”, disse, repetindo que João Ferreira votou recentemente no Parlamento Europeu contra os ativistas da Bielorrússia.

 

Se isto é democrata, se isto é defender o Estado de Direito… eu acho ignóbil que se tenha posto do lado do ditador”, afirmou, reiterando igualmente as críticas já feitas à candidata do BE, Marisa Matias, por ter assumido à partida a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa no próximo domingo.

Ana Gomes afirmou que, se chegar a Belém, terá “uma presidência interventiva, de cooperação leal e franca com o Governo”, prometendo tudo fazer “para que o Governo chegue ao fim da legislatura”.

Não podemos desperdiçar a capacidade e os talentos que o António Costa e a sua equipa têm, mas não abdicarei de ser construtivamente crítica, é isso que se espera do Presidente da República”, afirmou.

Tal como já tinha afirmado, Ana Gomes disse que preferiria que tivesse existido uma “geringonça 2”, considerando que o atual chefe de Estado não a incentivou por preferir “uma navegação costeira” e que lhe daria mais hipóteses “de intervir”.

O Governo minoritário, por melhor que seja, não leva a água ao seu moinho, tem de estar permanentemente a negociar, não há um compromisso de fundo, uma visão, uma estratégia”, afirmou.

Por várias vezes ao longo deste debate com jovens da JS - estrutura que recomendou aos seus militantes o apoio aos candidatos presidenciais "à esquerda", Ana Gomes, Marisa Matias ou João Ferreira - a diplomata insistiu na necessidade das reformas de fundo.

Há reformas de fundo que até têm de ir para além da própria esquerda, questões que é possível consensualizar com o centro e a direita democrática”, afirmou, apontando o setor da justiça como exemplo.

Na quarta-feira à noite, Ana Gomes terá uma conversa semelhante organizada pela JS do Porto.

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