Ana Gomes reagiu aos resultados das eleições, que a colocam como a mulher mais votada na história das Presidenciais.
A candidata apontou que não conseguiu atingir o objetivo de levar o sufrágio a uma segunda volta, mas assume a responsabilidade. Ainda assim, defende ter cumprido o objetivo central, patriótico, impedindo que a "ultradireita ascendesse a uma posição de possível alternativa".
Se eu não tivesse estado nesta disputa, estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita", considerou Ana Gomes.
Reiterando que a sua candidatura visou afirmar os valores de Abril e da social democracia, Ana Gomes agradeceu "de coração" ao PAN e ao Livre e aos cidadãos independentes que a apoiaram.
A socialista agradeceu ainda a todos os portugueses que permitiram a realização destas eleições "em tempos tão difíceis" e desejou força e coragem aos familiares das vítimas da covid-19.
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António Costa foi "principal responsável" por deserção do PS
Ana Gomes acusou o PS de ter desertado destas eleições e apontou o secretário-geral, António Costa, como o “principal responsável” por essa deserção.
Lamento profundamente a não comparência a estas eleições por parte do meu partido, o PS, que assim contribuiu para a dar vitória ao candidato da direita democrática. Foi uma deserção que critiquei e pela qual decidi apresentar esta candidatura”, afirmou a militante do PS.
Na fase de perguntas, e questionada se responsabilizava o secretário-geral do PS por essa deserção, respondeu: “António Costa, obviamente, foi o principal responsável por essa deserção”.
“A minha candidatura fez-se desde a primeira hora do empenhamento de milhares de socialistas, de norte a sul, do litoral ao interior”, afirmou, agradecendo em especial aos membros do Governo, deputados e autarcas, que estiveram ao seu lado.
A antiga eurodeputada assegurou que manterá a sua condição de militante de base do PS, e disse esperar que sejam esses militantes que ajudem a direção do partido “a refletir profundamente e a tirar consequências da sua atuação”.
A direção do PS apostou na diluição das fronteiras políticas entre a esquerda e a direita democrática. Tal diluição não serve certamente a democracia”, afirmou.
Questionada se António Costa também lhe telefonou - como fez com o Presidente reeleito -, Ana Gomes respondeu negativamente: “Esta noite só falei com o professor Marcelo Rebelo de Sousa, não falei com mais nenhum dirigente partidário”,
Mas as críticas de Ana Gomes dirigiram-se também aos restantes partidos de esquerda, lembrando que há pouco mais de um ano tiveram “dois terços dos votos” nas legislativas.
“Nestas presidenciais, preocuparam-se com a suas próprias agendas em vez de convergir e assim concorreram para dar vitória do candidato da direita democrática”, apontou.
Foi aos partidos tradicionais que Ana Gomes apontou também a responsabilidade de não responderem aos anseios dos “muitos cidadãos desapontados”, que considera estar na origem dos resultados de candidaturas como a de André Ventura - que nunca nomeou.
Ana Gomes considerou que a sua candidatura foi “uma missão de serviço público” e, questionada sobre o seu futuro político, garantiu que nunca se reformará da política.
Nunca me resignarei a que a democracia degenere e fique à mercê de foras antidemocráticas que cavalgam o ressentimento dos cidadãos”, disse.
E desafiada a dizer se se poderá recandidatar a Belém daqui a cinco anos, a candidata respondeu com ironia: “Sei lá se ainda estou viva daqui a cinco anos, estou reformada da vida profissional, mas nunca me reformarei da política”, afirmou, despedindo-se com um “até à próxima”.