Um milhão de votos ali tão longe... - TVI

Um milhão de votos ali tão longe...

Manuel Alegre não falhou só a segunda volta. Falhou o resultado de há cinco anos, quando não era apoiado por nenhum partido

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Há cinco anos, exactamente no mesmo hotel de Lisboa, o candidato apoiado pelo PS, Mário Soares, recebia a dupla má notícia: Cavaco Silva era eleito Presidente da República e um independente tinha conseguido mais de um milhão de votos sozinho.

Esse independente era Manuel Alegre, que hoje, com o apoio não só do Partido Socialista, mas também do Bloco de Esquerda e do PCTP/MRPP, não chegou sequer aos 20 por cento de votos. Alegre diz que a derrota é sua, e não dos que o apoiaram, mas algo falhou. E isso foi bem visível ao longo desta noite.

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O PS «emprestou» a casa. O hotel Altis é um cenário tradicional nas noites eleitorais socialistas, mas o apoio rosa tardou a chegar. Chegaram primeiro os bloquistas: os eurodeputados Miguel Portas e Marisa Matias e os deputados Jorge Costa e Helena Pinto estiveram presentes. Também Garcia Pereira, do PCTP/MRPP, e a independente Helena Roseta passaram a noite perto de Alegre.

Para além da mandatária nacional Maria de Belém, apenas os deputados do PS Eduardo Cabrita e Jamila Madeira fizeram questão de estar ao lado do candidato desde antes das primeiras projecções.

Às 20h00 chegaram as más notícias. A segunda volta não vinha aí. «E ainda vai ter menos votos do que há cinco anos...», lamentava um apoiante.

A sala só não ficou em silêncio porque os jornalistas estavam a trabalhar. O desânimo era bem visível no rosto dos poucos apoiantes que resistiram às projecções. Recordaram-se as últimas presidenciais: «Até com o Soares isto foi mais animado.»

Só os discursos que iam passando na televisão criavam algum movimento. Os bloquistas ouviam Francisco Louçã, os socialistas estavam atentos a Passos Coelho. «Este nunca vai ser primeiro-ministro na vida», desabafava um apoiante esperançado.

Só depois de José Sócrates falar na sede do PS e chegar posteriormente ao hotel é que surgiram os nomes de peso da estrutura socialista: António Costa, Edite Estrela, Almeida Santos, Ana Paula Vitorino, Marcos Perestrello e Ana Gomes. Estiveram na sala apenas o tempo suficiente para ouvir Manuel Alegre pedir desculpa, de lágrimas nos olhos, por não ter conseguido fazer melhor.



No fim, não houve abraços prolongados nem qualquer contacto entre os dois principais partidos que apoiaram o candidato derrotado. Amanhã volta tudo ao normal. Já não se dividirão assessores, já não discursarão lado a lado, já não falarão no mesmo tom. O PS volta a ser o partido do Governo e o Bloco a sua oposição.

Quanto a Manuel Alegre, não deixou claro o que pretende fazer no futuro. Prometeu continuar a «combater», mas, fora da Assembleia da República e de Belém, e terminada a lenda de um milhão de votos, pouco sobrará.
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